domingo, março 25, 2007

"Não há professor que não se sinta exausto"


O docente desanimado


Conversa nas aulas, falta de regras ao entrar na sala, desrespeito pelos colegas, recusa em obedecer às ordens dos professores, falta de vontade em participar nos trabalhos. É assim o dia-a-dia na escola onde Rui Santos dá aulas há dois anos, inserida num meio social urbano complicado e, por isso mesmo, considerada como Território Educativo de Intervenção Prioritária (TEIP)."Ao fim do dia, não há professor que não se sinta exausto. Trabalhamos com desalento, ao ver que a resolução dos problemas com que nos debatemos continua sem resposta", afirmou.


Rui Santos lecciona Música a alunos que, devido ao historial de insucesso escolar, frequentam turmas com currículos alternativos. "Com eles, evito as exposições teóricas, já que são alunos com problemas comportamentais. Torna-se mais fácil colocar um instrumento musical na mão e pô-los a fazer exercícios", salientou. Rui Santos explica que o trabalho em aula para aguentar os alunos é árduo. "São alunos a quem a escola não diz nada, o que torna mais difícil motivá-los", recordou. Conquistá-los para a vida escolar ainda se torna mais complicado quando a escola não é, por si só, suficientemente atractiva. "São os tacos levantados, vidros partidos , paredes escaqueiradas. O próprio edifício escolar não é acolhedor e os miúdos sentem que aquele espaço está ao abandono", referiu. Quando o comportamento dos alunos merece castigo, são convidados a sair da aula e dirigem-se a uma sala de estudo. "Vão para ali com uma tarefa para cumprir e são obrigados a reflectir, juntamente com o professor que lá se encontra, sobre o comportamento que tiveram", explicou.


Mau ambiente


Rui Santos sabe que é difícil exigir de crianças oriundas de famílias desestruturadas e com mau ambiente familiar e social um comportamento igual ao dos outros colegas. "Não podemos querer que eles saiam de casa e se transformem ao entrar pelo portão da escola", realçou. Daí ter salientado a importância de um trabalho conjunto com as famílias. "Até isso ao professor é pedido. Sem assistentes sociais e apenas com um psicólogo numa escola que é considerada um TEIP, cabe-nos a nós termos, muitas vezes, de sair da escola e ir ao encontro das famílias", referiu.A demissão dos pais é, no entender de Rui Santos, algo que poderia ser combatido. "Se essas famílias que se recusam vir à escola vissem recusados os benefícios sociais de que dispõem, provavelmente participariam mais", sugeriu.


"Temos alunos que, por incrível que pareça, ficam meses sem aparecer na escola. São crianças cujos pais saem cedo de casa e os miúdos passam todo o dia entregues à sua própria vontade", revelou."E quando aparecem, provocam instabilidade na turma, impedindo os que lá estão com vontade de aprenderem", concluiu.


FB

Rui Santos

Professor de Música

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