quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ministra recua e deixa que professores presidam a Conselho Geral

19.02.2008 - 16h45 Lusa
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, alegou hoje que as escolas ainda estão desconfiadas em relação à entrada de elementos externos nos seus órgãos de direcção, justificando assim o recuo do Governo no diploma sobre gestão escolar.Na segunda-feira à noite, após uma reunião entre a tutela e o Conselho das Escolas, o Governo anunciou que os professores vão poder presidir ao Conselho Geral das escolas, possibilidade excluída na versão inicial do projecto de decreto-lei sobre autonomia, gestão e administração escolar."No momento em que as escolas e os professores estiverem conquistados para a ideia de que protege mais a escola se o Conselho Geral for presidido por um elemento externo, então avançaremos nesse sentido. Neste momento as escolas ainda não têm confiança nessa situação e afirmam que a exclusão dos docentes é uma perda de direitos", afirmou Maria de Lurdes Rodrigues.A Ministra da Educação falava aos jornalistas à saída da Comissão parlamentar de Educação e Ciência, onde hoje marcou presença por agendamento potestativo do Bloco de Esquerda para abordar a política educativa do Governo.Na ocasião, a responsável afirmou que esta alteração não põe em causa nenhum dos princípios fundamentais do diploma (abertura das escolas ao exterior e qualificação da participação dos pais e autarquias, reforço da autonomia e reforço de lideranças) e garantiu que quando o diploma for revisto a presidência do Conselho Geral por um elemento externo será o caminho a seguir. Proposta inicial falava em autarca, pais ou comunidade localDe acordo com a proposta aprovada em Conselho de Ministros a 20 de Dezembro para discussão pública, o Conselho Geral, órgão com competência para escolher e destituir o director, só podia ser presidido por um representante da autarquia, dos pais ou da comunidade local.A titular da pasta da Educação sublinhou que foram aceites as propostas que não alteravam a aplicação dos princípios fundamentais do diploma, recusando, no entanto, em falar num "recuo" do Governo. "Não é um problema de recuo nem de avanço. Perante processos negociais, se não se aceitam as sugestões fala-se em intransigência, quando se aceitam fala-se em recuos. Os processos negociais não são uma guerra de recuos e avanços, são genuinamente a procura da melhor solução e considero que essa foi encontrada".O diploma prevê a generalização da figura do director, em detrimento dos actuais conselhos executivos, e a criação do Conselho Geral, órgão de direcção estratégica dos estabelecimentos de ensino. A versão final do diploma, que deverá ser aprovada quinta-feira em Conselho de Ministros, vai contemplar ainda o aumento da duração dos mandatos do director e do Conselho Geral, de três para quatro anos, bem como a possibilidade dos conselhos executivos em exercício verem o seu mandato ser prorrogado, para facilitar a transição para o novo regime.

Geografia da brincadeira sofre mutações


Sara R. Oliveira 2008-02-21

Investigador adianta que as novas tecnologias acentuam a individualização da actividade lúdica da criança.

O dicionário descreve-o. Brinquedo é um divertimento de criança. Mas o acto de brincar tem vindo a sofrer mudanças ao longo das últimas três décadas. Há novos contextos que contribuem para as alterações. Alberto Nídio, sociólogo e mestre em Sociologia da Infância, estuda a fundo esta realidade. Neste momento, procura desenhar "Trajectos Intergeracionais do Jogo, do Brinquedo e da Brincadeira", tema da sua tese de doutoramento em Estudos da Criança. A sua ideia é recolher testemunhos orais de quatro gerações vivas que contem as brincadeiras de infância.Não é preciso ir muito longe para sentir as diferenças. "Basta que consideremos as duas gerações mais recentes para percebermos de imediato as diferenças significativas que hoje têm as brincadeiras dos filhos quando comparadas com as dos seus pais", refere o sociólogo. "Se olharmos o tempo de que hoje usufruem para brincar, verificamos o muito que tem minguado, fruto de uma institucionalização maciça das crianças, onde até o chamado tempo livre é ocupado com aprendizagens formais". A mudança sente-se também nos lugares da brincadeira. "Não vão longe os tempos em que as crianças brincavam na rua, no largo da aldeia, no adro da igreja, na escola, enfim, em qualquer canto onde um pequeno espaço servisse para o lúdico". O tempo tem também encurtado. Um recente estudo europeu revela que os portugueses são os que menos brincam com os filhos. Só 6% dos mais pequenos brincam diariamente com os seus pais. A pesquisa dá ainda nota de que os brinquedos ocupam o primeiro lugar nas preferências. Ver televisão aparece logo a seguir, antes das actividades ao ar livre que, mesmo assim, estão antes dos jogos de computador ou vídeo.Há vários factores a ter em conta nas alterações das brincadeiras. "As novas tecnologias mais não vieram do que acentuar essa individualização da actividade lúdica da criança, virtual, em casa, no quarto, num esfumar contínuo do real, onde a interacção com os seus pares em brincadeiras livres e espontâneas se vai esvaindo de uma forma preocupante". Alberto Nídio destaca, a propósito, o poder do pequeno ecrã. A televisão que rouba uma parte considerável do tempo livre das crianças "subtraindo-as às brincadeiras grupais e, ainda, impingindo-lhe brinquedos de toda a espécie e feitio, baralhando-lhe completamente o sentido que tais artefactos devem ter, para conhecerem a apropriação que fará deles o verdadeiro objecto de prazer de que a criança carece para brincar, consigo e com as outras crianças"."As novas tecnologias estão a mudar a geografia da brincadeira e do brincar das crianças e, com ela, a sua imaginação e a criatividade que lhe subjaz. Não creio que as crianças de hoje sejam, por isso, mais inventivas e imaginativas que as de ontem", defende o professor. "Serão, talvez, mais expeditas a lidar com o mundo maravilhoso das novas tecnologias, cada vez mais surpreendentemente renovadas e com incontáveis potencialidades lúdicas, também". Alberto Nídio considera importante reanalisar o papel do brinquedo e da brincadeira neste século. O docente mune-se das ideias de Gilles Brougère para recordar que, "hoje, a criança tem à mão tudo quanto é candidato a brinquedo, que pode comprar ao dobrar de qualquer esquina, quantas vezes para guardar num canto da casa, raramente ou nunca chegando a cumprir a sua função socializadora"."Perdeu-se a necessidade de produzir o brinquedo e com ela pereceu o domínio da criança sobre o adulto, hoje a impor literalmente aos mais pequenos a ditadura do brinquedo concebido e fabricado por si." Hoje é uma máquina que, muitas vezes, é o parceiro das brincadeiras. "Pelo estereótipo do que propõem, estas novas máquinas do tempo não são o brinquedo que os seus fabricantes querem delas fazer, nem nunca serão o brinco de que as crianças carecem para adornar a sua actividade lúdica", salienta o sociólogo, ao lembrar Francine Ferland que defende que o mundo virtual não poderá proporcionar experiências tão ricas como o mundo real."Produzindo e utilizando brinquedos, toda a criança foi equilibrista e pintora, ceramista e botânica, arquitecta e caçadora, lavradora e escultora, tecedeira e investigadora... e tudo o mais quanto pôde aprender na principal das suas escolas - a Rua", escreveu João Amado no livro Universo dos Brinquedos Populares. O professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Coimbra tem centrado a sua investigação no brinquedo popular enquanto património vasto e rico que, na sua opinião, muito revela sobre as aprendizagens de gerações. Numa recente entrevista concedida a alunos do 12.º ano de uma escola de Lisboa, João Amado sublinhava que "através dos jogos e dos brinquedos as crianças representam material e simbolicamente o mundo em que se estão a introduzir, interpretando-o a seu modo... aprendem a conhecê-lo". "A feitura dos brinquedos e a prática dos jogos levava as crianças a compreenderem a importância da regra, compreendiam que não podiam fazer batota e aprendiam a colaborar uns com os outros", acrescentava. João Amado tem vindo a realçar que a transformação de objectos da natureza, esse aproveitamento lúdico, tem reflexos no desenvolvimento da criança como pessoa, na construção da sua autonomia e identidade. Há, portanto, um conjunto de aprendizagens subjacente a essa "construção" de objectos para brincar, como a interiorização de regras institucionalizadas e manifestações de amor e afecto. Amado recorda as palavras de Chateau: "O adulto que sabe pensar, nasce na criança que sabe jogar e, sobretudo, que sabe construir os seus próprios brinquedos."

Oposição acusa ministério de «incompetência» e «trapalhadas» na avaliação dos professores

Os partidos da oposição acusaram hoje no Parlamento o Ministério da Educação (ME) de «incompetência» e de protagonizar sucessivas «trapalhadas» na implementação do processo de avaliação de desempenho dos professores

Na Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República, PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda uniram-se nas críticas ao Governo sobre esta matéria, questionando a ministra da Educação sobre os atrasos e as alterações no processo de avaliação dos professores, chegando mesmo a pedir a Maria de Lurdes Rodrigues que recue e suspenda o procedimento até ao final do ano lectivo.«Este processo tem decorrido de forma atabalhoada e está a atingir as escolas a meio do ano lectivo sem que ninguém esteja preparado. O Ministério da Educação foi completamente incompetente porque não cumpriu os prazos que estipulou para si próprio», afirmou Ana Drago, deputada do Bloco de Esquerda, acrescentando: «O Governo tem de parar para repensar este modelo e relançá-lo no próximo ano lectivo».Na resposta, a ministra da Educação reiterou que nenhum modelo de avaliação é perfeito e sublinhou que o cumprimento de prazos não depende só do Ministério da Educação.«Não tem razão para chamar incompetente ao Ministério da Educação e aos seus serviços. As coisas foram feitas no tempo próprio e respeitadas as sequências naturais. É um exagero falar em incompetência», afirmou Maria de Lurdes Rodrigues.O social-democrata Emídio Guerreiro questionou depois a demora do Governo na constituição do Conselho Cientifico para a Avaliação dos Professores (CCAP) e acusou igualmente a tutela de «incompetência», já que o Governo está desde Maio de 2007 para anunciar a constituição daquele órgão.«São trapalhadas sucessivas cada vez que este ministério apresenta alguma coisa ao país», criticou, por seu turno, José Paulo Carvalho, do CDS/PP.«Trapalhada deve ser uma palavra que ficou na memória dos senhores deputados durante no concurso de professores quando estavam no Governo», respondeu Maria de Lurdes Rodrigues. «Entendemos que era importante que a presidente do CCAP pudesse produzir as recomendações para as escolas. As trapalhadas a que se referem resumem-se a isto«, acrescentou Jorge Pedreira, secretário de Estado Adjunto e da Educação.Jorge Pedreira reiterou ainda que a «muito curto prazo» será anunciada a constituição do CCAP e desvalorizou as providências cautelares a pedir a suspensão de dois despachos da tutela sobre esta matéria.«Mesmo que o tribunal dê razão aos sindicatos isso não suspende o processo de avaliação, que continua na base do decreto-regulamentar e não desses despachos», afirmou.O responsável sublinhou ainda que as recomendações produzidas pela presidente do CCAP não eram obrigatórias para as escolas aprovarem os instrumentos de registo e medida do processo de avaliação de desempenho e justificou os atrasos com as cerca de 107 reuniões realizadas com os sindicatos durante o ano passado. Na Comissão de Educação e Ciência, também o PCP acusou a tutela de incompetência. «Não é esta incompetência que esconde que este processo de avaliação foi feito para perseguir os professores e desestabilizar as escolas», afirmou o comunista João Oliveira.Sobre a importância das notas dos alunos na avaliação de professores, os deputados questionaram o Governo se esse parâmetro não é um apelo ao facilitismo e ao desvirtuar dos verdadeiros resultados escolares dos estudantes.«Isso é uma desconfiança sobre a deontologia e ética das escolas e dos professores completamente inaceitável. Relembro que o que vai contar é a evolução dos resultados dos alunos no contexto da turma e no contexto das escolas e que esse é apenas um dos parâmetros que será avaliado», respondeu Jorge Pedreira.«Não deve ser premiado o professor que consegue recuperar os alunos em risco de abandono escolar, por exemplo? Não consigo compreender como é que os resultados escolares dos alunos não podem ser considerados», acrescentou a ministra. Maria de Lurdes Rodrigues negou ainda a acusação de que o sistema de avaliação serve para perseguir os professores, reiterando que este serve para distinguir os melhores professores e incentivar as boas práticas. «Hoje não existe qualquer distinção», sublinhou.À saída da comissão, a ministra comentou a manifestação nacional de docentes convocada hoje pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) para o dia 08 de Março.«Faz parte das regras do jogo. Como costumo dizer, os sindicatos fazem o seu trabalho e nós fazemos o nosso», afirmou.
Lusa/SOL

Professores podem presidir ao conselho geral


Lusa / EDUCARE 2008-02-19

O Ministério da Educação recuou no novo diploma sobre autonomia, gestão e administração escolar ao admitir a possibilidade dos professores presidirem ao conselho geral das escolas.
Em comunicado divulgado ontem à noite, o Ministério da Educação (ME) acrescenta que a versão final do diploma, a apresentar quinta-feira em Conselho de Ministros, deverá contemplar ainda o aumento da duração dos mandatos do director e do conselho geral, de três para quatro anos, bem como alterações na composição do conselho pedagógico.A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e os secretários de Estado Valter Lemos e Jorge Pedreira reuniram-se segunda-feira com o Conselho das Escolas, órgão consultivo do ME, para analisar o diploma. "Da reunião saiu o acolhimento da maior parte das sugestões apresentadas, designadamente a possibilidade de o Conselho Geral ser presidido por um professor, o aumento do prazo de duração dos mandatos de três para quatro anos, requisitos mais flexíveis na designação dos adjuntos do director e mais autonomia na forma de constituição e designação das estruturas intermédias, para além dos departamentos curriculares", afirma o ME, em comunicado.A versão deste projecto de Decreto-Lei aprovada em Conselho de Ministros a 20 de Dezembro, para discussão pública, excluía os professores da presidência do conselho geral, o que suscitou críticas dos sindicatos de professores, do Conselho Nacional de Educação e do próprio Conselho das Escolas. O diploma previa que só os representantes da autarquia, dos pais e da comunidade local poderiam presidir àquele órgão.Em relação à escolha dos adjuntos por parte do director, a proposta inicial do Governo indicava que aqueles tinham de ser designados entre os docentes do quadro de nomeação definitiva da escola e com pelo menos cinco anos de serviço. A este propósito, no seu parecer, o Conselho das Escolas questionava como era possível responsabilizar o director se lhe era limitada a escolha da sua equipa, sugerindo que a escolha dos adjuntos recaísse entre os professores do quadro "de qualquer escola pública e de qualquer nível de ensino", com pelo menos cinco anos de exercício efectivo de funções.Outra das alterações que o diploma vai sofrer prende-se com o conselho pedagógico. De acordo com a tutela, será criada uma comissão especializada com pais e alunos, mas as competências técnicas ficam reservadas aos professores, tal como defendia o Conselho das Escolas. O Governo vai alterar ainda a regra do regime de exclusividade dos directores "no sentido de lhes permitir a participação em organizações não governamentais e actividades de voluntariado".Por último, os actuais conselhos executivos em exercício terão a possibilidade de verem o seu mandato ser prorrogado, "de forma a facilitar a transição para o novo regime". "Os mandatos das direcções executivas que só terminem depois de 01 de Setembro de 2009, inclusive, terminam as suas funções no dia 31 de Agosto de 2009, devendo, neste caso, as operações de eleição do director estar concluídas até 31 de Julho de 2009", lia-se na versão inicial do documento.Sindicatos congratulam-se com as alterações ao diplomaPara a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), as alterações ao diploma reconhecem a argumentação dos sindicatos, mas são insuficientes para garantir a autonomia das escolas. João Dias da Silva, secretário-geral da FNE, considera que apesar do recuo questões "essenciais" como a "excessiva concentração de poderes" no director de escola "continuam por resolver". Segundo o dirigente, um verdadeiro investimento na autonomia das escolas passa pela "diminuição dos poderes do director" e pela definição da participação dos parceiros na gestão escolar.Também a Federação Nacional de Professores (FENPROF) entende que há "mudanças imprescindíveis" a fazer ao projecto. "Trata-se de um recuo num ponto que consideramos uma agressão gratuita aos professores, mas há ainda outras questões importantes que é preciso alterar", disse à agência Lusa António Avelãs. Para o dirigente da FENPROF é ainda "imprescindível" alterar o texto do diploma no que toca à nomeação dos coordenadores das estruturas intermédias (departamentos e grupos) e à opção de entregar a gestão das escolas a um director e não a um órgão colegial.

Investigação prioritária para crimes contra professores


Lusa 2008-02-19

A partir de hoje, os processos relativos a crimes de corrupção, crimes contra idosos, crianças e deficientes e crimes contra professores e médicos irão ter prioridade de investigação.
As directivas e instruções genéricas para a execução da Lei sobre Política Criminal para 2007/2009, da responsabilidade do Procurador-Geral da República (PGR), já haviam sido anunciadas, tendo sido hoje publicada em Diário da República a directiva emanada por Pinto Monteiro a 11 de Janeiro sobre o assunto. A Lei-Quadro de Política criminal, aprovada a 23 de Maio de 2007, viu os seus objectivos, prioridades e orientações definidas a 31 de Agosto, passando posteriormente a sua execução prática por directivas e instruções genéricas emitidas pelo PGR, Pinto Monteiro.Segundo o diploma, compete ao Ministério Público "participar na execução da política criminal, assumindo os objectivos e adoptando as prioridades e orientações definidas pela Assembleia da República".Um dos argumentos apresentados para a elaboração destas directivas prende-se com "os indicadores existentes" que, segundo o diploma, "permitem identificar alguns fenómenos e tendências criminosas que merecem uma particular atenção, por serem susceptíveis de contribuir para o aumento de sentimentos de insegurança, pelo que a sua repressão eficaz e atempada é essencial para reforçar a confiança dos cidadãos no sistema de Justiça".É o caso de determinados crimes violentos contra bens jurídicos eminentemente pessoais, nomeadamente quando praticados contra pessoas mais vulneráveis da população.Será concedida "especial prioridade" à investigação dos processos relativos à "criminalidade organizada e violenta contra as pessoas, designadamente homicídios, ofensas à integridade física graves, sequestro, rapto, tomada de reféns, tráfico de pessoas, crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual, tráfico de drogas e roubo", assim como aos "crimes de corrupção", "aos praticados contra bens jurídicos individuais de pessoas idosas, crianças e deficientes, tendo em conta a sua especial vulnerabilidade".Também prioritários para a investigação são os "actos de violência praticados contra professores e outros membros da comunidade escolar ou contra médicos e outros profissionais da saúde". As directivas e instruções vinculam os magistrados do Ministério Público e os órgãos de polícia criminal.

Cascais: Combate à violência no namoro e qualificação de professores é prioridade

Cascais, Lisboa, 20 Fev (Lusa) - O combate à violência no namoro e a qualificação de profissionais da educação são medidas do novo Plano contra a Violência Doméstica de Cascais, onde as denúncias do género aumentaram 110 por cento entre 2004 e 2006.

Até 2011, 26 parceiros - entre a autarquia, forças de segurança, associações de solidariedade e instituições de saúde - vão desenvolver medidas concretas de combate àquele crime em torno de quatro objectivos estratégicos: promoção das respostas institucionais, informação e prevenção, qualificação de profissionais e aprofundamento do conhecimento sobre o fenómeno.
"É fundamental termos entidades muito diversas envolvidas e tentarmos alargar a rede, porque as vítimas estão em todo o lado e são precisas várias `antenas`.
Por exemplo, se uma educadora de uma creche nota indícios de violência pelo comportamento da criança, deve ter preparação para agir sobre o caso", afirmou hoje à Lusa Filipa Pereira, técnica da Divisão de Desenvolvimento Social e Saúde da Câmara de Cascais e responsável do Fórum Municipal contra a Violência Doméstica.
É em torno deste grupo, criado em 2003, que se organizam as estruturas locais que queiram integrar o novo Plano, hoje apresentado no Centro Cultural de Cascais.
"Trabalhamos desde o início sobre esta questão, mas estamos pela primeira vez a formalizar os nossos objectivos e parcerias, também em função dos últimos dados, que mostram um aumento do número de denúncias de 110 por cento no concelho, entre 2004 e 2006", explicou Filipa Pereira, sublinhando que o mesmo número variou 32,5 por cento a nível nacional.
Segundo informação da PSP e da GNR de Cascais, registaram-se 247 queixas de violência doméstica em 2004, enquanto que em 2006 esse número ascendeu a 518.
Filipa Pereira admite que a diferença pode não corresponder exactamente à evolução real da prática do crime e espera que os dados reflictam uma maior sensibilização e uma menor tolerância para com o problema, bem como os esforços desenvolvidos pelas instituições locais.
A responsável adianta que mais de noventa por cento das vítimas são mulheres (muitas vezes com formação superior) agredidas psicológica e/ou fisicamente por actuais ou antigos companheiros, que controlam os seus contactos com familiares, saídas e situação financeira.
Os poucos casos masculinos que são reportados, acrescenta, referem-se sobretudo a crianças.
Entre as medidas contempladas no Plano contra a Violência Doméstica destacam-se a divulgação do recém-publicado "Manual para Educadores de Infância sobre Crianças Expostas a Violência Doméstica" e a criação de um manual para professores de outros ciclos de ensino, a criação de uma plataforma "online" para partilha de informação entre escolas e o combate à violência no namoro.
"Vamos fazer um estudo nas escolas para perceber que situações do género ocorrem durante o namoro, porque inquéritos realizados noutros locais mostram dados já muito preocupantes a nível da tolerância. Há que agir desde cedo sobre esta mentalidade", sublinha Filipa Pereira.
O novo Plano inclui também concretização de programas de intervenção com agressores, a realização de acções de formação para profissionais da educação, da saúde e da acção social, uma análise anual dos dados fornecidos pelas autoridades e o desenvolvimento de estudos temáticos (idosos, mulheres imigrantes, crianças e jovens).
RYC.
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Pais e professores temem integração do ensino especial no ensino regular

Os pais dos alunos com necessidades especiais, os professores e os psicológos mostram reservas à nova lei que pretende integrar as crianças com deficiências no ensino regular. No entanto, o Governo já fez saber que vai ouvir os pais neste processo.

08:35 / 21 de Fevereiro 08 )

Os pais dos alunos com necessidades educativas especiais, os professores do ensino especial e do ensino regular e os psicológos mostram reservas à nova lei que pretende fomentar a integração das crianças com certas deficiências no ensino regular.bPela experiência que têm, os pais temem que as crianças que progrediram no ensino especial possam vir a ser excluídas quando integradas no ensino regular. Maria Eugénia Abrantes disse à TSF temer que a sua filha, ao ser colocada no ensino público regular, sofra ainda mais, porque já está a sentir «um sofrimento muito grande» ao tomar consciência da «diferença entre ela e os outros».«Tenho muito medo porque a Ana está a tentar superar algumas das suas dificuldades e, em termos académicos, está a ter sucesso», adiantou, acrescentando que tudo fará para que a sua filha não vá para o ensino regular.Por seu lado, Helena Santos, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), mostrou «reservas» sobretudo quanto à «capacidade de resposta das escolas de ensino público» para as necessidades dos jovens com deficiência, aos níveis de «pessoal docente, não docente, estruturas físicas e transportes». «Não se perspectiva que até 2013 haja uma resposta adequada às necessidades destes alunos», adiantou, em declarações à TSF.bJá Filomena Ventura, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) criticou o método utilizado pelo Governo para identificar as crianças com dificuldades educativas especiais, nomeadamente a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).«Este decreto-lei deste ano trouxe uma classificação em que o ministério pomposamente diz que as crianças têm de ter dificuldades de carácter permanente», o que implica deixar de fora muitos alunos com dificuldades, alertou.Perante todas as criticas, o Governo decidiu ouvir a Plataforma de Pais pelo Ensino Especial, para que os pais colaborem neste processo «como intervenientes muito activos», disse à TSF o porta-voz do movimento.«Não temos ainda um entendimento comum em relação à matriz de avaliação dos casos, mas entendemos que é um percurso que podemos fazer em conjunto, o que muito nos anima», adiantou Fernando Magalhães.
TSF

Reforma só avança com todas as condições reunidas

A ministra da Educação garantiu, esta quinta-feira, que as crianças com necessidades especiais só vão ser transferidas para o ensino regular se estiverem reunidas todas as condições até 2013 e rejeitou que o Governo queira poupar ao lançar esta reforma

09:44 / 21 de Fevereiro 08 )
A ministra da Educação garantiu, esta quinta-feira, que, caso não estejam reunidas todas as condições até 2013, as crianças com necessidades educativas especiais não vão ser transferidas do ensino especial para o regular. «Não é nossa intenção nem autorizaremos que seja descontinuado nenhum apoio a uma criança que actualmente tenha apoio numa escola, num colégio ou numa instituição de solidariedade social», disse à TSF Maria de Lurdes Rodrigues, adiantando que as reformas previstas exigem «muita ponderação e muito tempo».Maria de Lurdes Rodrigues acrescentou que Executivo está a trabalhar em conjunto com as instituições envolvidas e com os pais das crianças com necessidades educativas especiais, no sentido de as «tranquilizar». Questionada sobre as críticas de que a reforma em causa visa poupar dinheiro, a ministra respondeu que não existe «nenhuma tentativa de retirar direitos», mas, pelo contrário, «ampliá-los».O objectivo é levar as escolas públicas portuguesas a dar «mais respostas», adiantou, lembrando que a maioria das crianças com deficiência «estão nas escolas públicas, em muitos casos sem as condições para poderem ter todos os apoios que hoje o país pode proporcionar».

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Escolas com autonomia e liberdade de escolha


Joana Silva Santos 2008-02-15
As Charter School têm vindo a difundir-se por vários estados norte-americanos. A explicação para o seu sucesso está na autonomia dos professores, na liberdade de escolha dos pais e na avaliação externa.
A ideia das Charter Schools surgiu em 1992 e desde então estendeu-se com sucesso pelos Estados Unidos da América. Actualmente, são já perto de quatro mil escolas, com um total de cerca de um milhão de alunos. "Combinam o melhor das escolas privadas com o melhor das escolas públicas", defende Charles Glenn, professor de política e administração educacional da Universidade de Boston, e um dos oradores na conferência sobre "Autonomia da Escola: A Experiência das Charter Schools na América", que decorreu hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa organização do Fórum para a Liberdade de Educação.Com a particularidade de conferirem autonomia aos professores, liberdade de escolha do estabelecimento de ensino aos pais e uma certa fiscalização exterior, as Charter Schools são escolas públicas semiautónomas que funcionam de acordo com um contrato estabelecido com o Estado. Este contrato é uma "carta de princípios" que define o seu funcionamento, os seus objectivos e também como será medido o padrão de sucesso. Financiadas pelo Estado, os valores variam, no entanto, de escola para escola. Cada escola gere o seu próprio orçamento. Decidem quanto pagam aos professores e aos funcionários, mas não podem escolher os seus alunos. A frequência é gratuita e no caso de o número de candidatos ser maior do que as vagas existentes, os alunos são escolhidos aleatoriamente. As escolas são obrigadas a apresentar um relatório financeiro e de desempenho anual. Quando os objectivos propostos não são atingidos, o Estado pode reduzir o financiamento ou até mesmo encerrar as portas do estabelecimento de ensino. Ambas as situações já ocorreram. "São mais livres que as escolas privadas, mas têm a responsabilidade de apresentar resultados perante autoridades públicas", sublinha Charles Glenn. Para Charles Glenn, a popularidade das Charter Schools justifica-se por responderem a dois problemas fundamentais. Por um lado, contribuem para uma maior preocupação com a qualidade educativa e melhoram o estatuto profissional dos professores. Por outro, promovem a justiça e igualdade de oportunidades para crianças, independentemente das suas capacidades financeiras, quebrando assim a relação entre a localização das escolas e o sistema educativo que proporcionam.A base para que funcionem em pleno reside na autonomia, na liberdade e na responsabilização. "Tem de haver um equilíbrio adequado entre elas", salienta o especialista. E é esse o grande desafio. Com sete filhos, defende que a liberdade de escolha é fundamental. "Os pais devem poder escolher uma escola de confiança para os filhos." Em relação a Portugal, o professor da Universidade de Boston acredita que o modelo das Charter Schools poderá ajudar a dinamizar a educação portuguesa, mas ressalva que seria "a última pessoa a sugerir que cada escola em Portugal se tornasse uma Charter School". Portugal deve "abrir as portas a novos modelos, para que gradualmente se possam instalar, até se mostrarem eficientes", defende.Mas as Charter School não são consensuais. Entre as críticas que lhes são apontadas está o facto de funcionarem também como um negócio, estando, por isso, sujeitas às leis de mercado. Por outro lado, há também quem defenda que são escolas elitistas e que contribuem para a segregação.Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação, rejeita esta crítica. Defensor das Charter Schools e do princípio da escolha dos pais, não tem dúvidas de que a liberdade é fundamental, mas salienta que ainda há muito por cumprir nessa área no que diz respeito à situação portuguesa.Talvez por isso os intervenientes na conferência não falem de Charter Schools em Portugal. Numa tentativa de aproximação ao caso português, David Justino, ex-ministro da Educação, aponta as escolas com contratos de associação como "as nossas Charter Schools", mas, sublinha, "sem a responsabilização e a autonomia" das originais.Para David Justino, liberdade, autonomia e responsabilidade das escolas devem ser entendidos como "pilares da educação moderna". Por isso mesmo, argumenta, perante um estado que "se assumiu como o principal fornecedor e doutrinador na educação "é preciso perceber até que ponto é que este modelo é compatível com aquilo que se entende como liberdade escolar. Sem querer comentar as actuais reformas, o ex-governante defende que será a partir da combinação e equilíbrio entre liberdade, autonomia e responsabilização que poderão sair as soluções para reformas educativas bem-sucedidas. "Temos que pensar para daqui a vinte, trinta anos, este é que é o grande desafio", conclui.

Educação especial: “90% das dificuldades estão à margem


Pais, professores e investigadores temem que as mudanças previstas na ensino especial deixem de fora todo um conjunto de crianças cujas dificuldades de aprendizagem não foram tipificadas segundo a actual legislação.
O Parlamento discute hoje o novo enquadramento legislativo para a educação especial, no meio de uma encruzilhada de opiniões contestatárias e medidas no terreno. Ninguém se atreve a pôr em causa o ideal da escola inclusiva, mas pais, professores e especialistas manifestam expressivas reservas ao Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro, enquanto o Ministério da Educação se desdobra em acções para pôr em prática o seu modelo de integração.A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, assinou ontem um protocolo de colaboração entre a tutela e sete federações associadas ao ensino especial. A formalização do acordo é uma de outras acções que se espera venham a ser tomadas para concretizar os objectivos do Governo para o ensino especial. A saber: integrar, até 2013, no ensino regular 1300 alunos que frequentam actualmente escolas especializadas. Além deste protocolo, a ministra assinou um outro, relativo à formação de professores. De acordo com o previsto no documento, durante este ano lectivo, 1500 docentes receberão 50 horas de formação na área do ensino especial.O entusiasmo do Governo com estas mudanças - a ministra chegou mesmo a afirmar sentir-se envergonhada, enquanto cidadã, com o estado do ensino especial nopaís - contrasta com as incertezas dos diversos parceiros sociais. A começar por dois especialistas, ouvidos pelo EDUCARE.PT. Tanto David Rodrigues, professor na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, como Luís Miranda Correia, professor no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, opõem-se ao método utilizado pelo Ministério para classificar e identificar crianças com necessidades educativas especiais. Na opinião de Miranda Correia, no método CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade), "a escala de avaliação é altamente subjectiva, não tem qualquer rigor". De resto, como argumenta, "trata-se de uma classificação para adultos e não para crianças". As mesmas críticas são esgrimidas por David Rodrigues, que acrescenta: "A elegibilidade, tal como é apanágio da CIF, deixa de fora muitos alunos com dificuldades".A mancha mais ou menos desconhecida de crianças com necessidades educativas que, não obstante, permanecem sem apoios específicos, é aliás uma preocupação que se repete de voz para voz, de opinião para opinião.Raquel Ferreira, da direcção do Agrupamento de Escolas de Vouzela, é um dos ecos desta incerteza. "O que vai acontecer aos alunos que estavam ao abrigo do 319 [anterior decreto-lei]? Estas são dúvidas ainda por esclarecer", declarou ao EDUCARE.PT. No mesmo sentido vai Fernando Magalhães, pai de uma criança com necessidades educativas especiais e membro da Plataforma de Pais Pelo Ensino Especial, formada na sequência da publicação do n.º 3/08. "Há um conjunto enorme de alunos que vão ficar excluídos da tipificação da CIF", afirmou. Ou seja, "vão ser identificadas como crianças normais, sem necessidade de apoios".De acordo com os dados do Ministério da Educação, há no ensino regular 49 mil alunos com necessidades educativas especiais, sendo que o objectivo é acrescentar, a este número, 1300 alunos matriculados em escolas de ensino especial. Também aqui as opiniões são diversas. "Há estudos de prevalência a nível internacional que apontam para uma percentagem de 8% a 12% de crianças com necessidades educativas especiais permanentes", diz o investigador da Universidade do Minho. O que significa que, em Portugal, haverá "75 mil alunos com dificuldades de aprendizagem severas".O actual enquadramento legal prevê a criação, por despacho ministerial, de escolas de referência para a educação bilingue de alunos surdos, cegos e com baixa visão. O ponto 3 do artigo 4.º do decreto-lei refere ainda que, "para apoiar a adequação do processo de ensino e de aprendizagem, podem as escolas ou agrupamentos de escolas desenvolver respostas específicas diferenciadas para alunos com perturbações do espectro do autismo e com multideficiência". Assim, serão criadas unidades de ensino estruturado para as perturbações do espectro autista e unidades de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita.A especificação das dificuldades de aprendizagem a apoiar fica-se por aqui, o que leva Luís Miranda Correia a declarar que "mais de 90% das dificuldades estão à margem desta legislação". Isto é, não há referências aos alunos com dificuldades intelectuais (deficiência mental), com dificuldades de aprendizagem específicas (como acontece com a dislexia), com perturbações emocionais e do comportamento grave, ou com problemas de comunicação. Fernando Magalhães como que decalca esta mesma ideia. "São excluídas das escolas de referência ou das unidades de ensino e de apoio nelas previstas as respostas específicas para as perturbações do desenvolvimento, a deficiência mental e as perturbações da personalidade e do comportamento", enumera.A falta de resposta precoce a estes casos não tipificados na lei leva, no entender de Miranda Correia, a aumentar o número das crianças "frustradas, tensas e ansiosas".O investigador antecipa desfechos: "São crianças com o futuro hipotecado e caracterizadas por um percurso de abandono escolar." No que é corroborado por David Rodrigues. "Tememos que muitos alunos com dificuldades, ao ser-lhes barrado o acesso a um apoio especializado, engrossem as nossas tristes estatísticas de insucesso e abandono escolar", adianta o presidente do Fórum de Estudos de Educação Inclusiva.Com todas as energias direccionadas para a recente legislação, o Ministério da Educação vai atingindo as metas definidas até ao objectivo final, o de concretizar a escola inclusiva até 2013. A formação de professores é uma das metas da lista de tarefas. Durante os meses de Março a Maio a aposta é na formação. O que suscita as críticas de David Rodrigues. "Precisamos de melhorar a política de formação em serviço e não de fazer ‘lambuzadelas' de 30 horas de formação", comenta. Escolas preparam alterações, pais receiam mudanças Entretanto, e antes mesmo da publicação do decreto-lei, desde o início do ano lectivo que as escolas se têm vindo a preparar para as mudanças organizacionais. Para lá das escolas de referência, a lei estipula uma nova forma de apoios, que assenta na criação de unidades de apoio especializado, que "concentram alunos de um ou mais concelhos, em função da sua localização e rede de transportes existentes". O agrupamento de escolas de Vouzela é um dos que, no terreno, têm desenvolvido acções concretas para se adaptar ao novo esquema de funcionamento. O agrupamento tem ao seu serviço um professor do ensino especial e uma equipa de apoios educativos e prepara-se para elaborar uma candidatura a escola de referência. Como avançou Raquel Ferreira ao EDUCARE.PT, o agrupamento aproveitou, também, as directivas da actual legislação para celebrar protocolos de colaboração e parcerias com instituições privadas e públicas da região para prestação de serviços na área da educação especial.Os exemplos de boas práticas que se vão fazendo ouvir não chegam, no entanto, para acalmar a plataforma de pais. A "falta de condições no terreno" é um dos motivos cimeiros para a contestação à actual lei. Esta e a "regressão" que a transferência para o ensino regular pode provocar nas crianças são as causas que levaram os pais a pedir audiências ao Ministério e a trazer o caso para a discussão pública. Fernando Magalhães não condena os ideias de inclusão invocados na lei. "Todos os dias, quando vamos ao supermercado com os nossos filhos ou quando os metemos nos autocarros sozinhos estamos a lutar pela inclusão", argumenta. Mas os pais temem as consequências que a alteração possa provocar no equilíbrio emocional e no desenvolvimento dos filhos.

Texto aprovado pelo Conselho Pedagógico

Texto aprovado pelo Conselho Pedagógico
do Agrupamento de Escolas de S. Julião da Barra
reunido a 13 de Fevereiro de 2008
O Conselho Pedagógico (CP) analisou a situação criada pelo Ministério da Educação (ME) ao decidir a implementação da Avaliação do Desempenho Docente (AAD), a partir de Janeiro de 2008.
Entendemos que esta matéria deve ser analisada de um duplo ponto de vista:
A) Considerando a filosofia política subjacente a esta estratégia ministerial, e avaliando-a através da nossa experiência de ensino e da nossa formação científica e deontológica;
B) Considerando os dados objectivos impostos por um fluxo legislativo ininterrupto, donde se destacam o ECD (Estatuto da Carreira Docente) e o Decreto Regulamentar 2/2008 de 10 de Fevereiro, com todos os despachos, recomendações e observações anexas que diariamente nos chegam.

A) Considerando a filosofia política subjacente à estratégia ministerial, e avaliando-a através da nossa experiência de ensino e da nossa formação científica e deontológica,
1) - É nosso parecer que este modelo de ADD está em absoluto desacordo com a dinâmica organizacional da escola. É um modelo desmedidamente burocrático, orientado para a competição entre pares, em vez de favorecer o trabalho de equipa (mau grado os itens que aparecem nesse sentido), previsto para a avaliação empresarial. Conduzirá, inevitavelmente, ao prejuízo do ensino (na óptica dos professores) e da aprendizagem (na óptica dos alunos). Acrescenta ao trabalho docente uma sobrecarga de burocracia que nos impedirá de estudar, de preparar correctamente as aulas, de acordo com as turmas e os perfis dos alunos, de colaborar com outros colegas, a não ser nas hipóteses teoricamente previstas para a avaliação, que nos coagirá a modelos de planificação e preparação de aulas intermináveis e não exequíveis na prática.
2) - A própria avaliação dos alunos estará submetida a metas prévias que correspondam aos perfis de desempenho indicados pelo ME. Sem que tal signifique uma voluntária «tolerância» para atitudes e aproveitamentos menos exigentes, a própria sobrecarga de trabalho que sobre os professores recairá, terá como consequência inexorável uma menor capacidade de execução no que toca ao desenvolvimento dos programas (que, curiosamente, se mantêm, no meio de tanta reforma pedagógica…) e das actividades que promovam uma avaliação contínua e personalizada.
3) - Devemos ainda salientar que tudo indica que os nossos horários não venham a ser aliviados para corresponder a estas solicitações burocráticas. O efeito óbvio será a criação e divulgação de «modelos únicos» de trabalho, ou seja, uma espécie de aplicação didáctica por sebentas/receitas, conduzindo previsivelmente à desigualdade da sua aplicação, dada a heterogeneidade dos alunos e das turmas.

B) Os dados que presidem actualmente à implementação do processo de ADD apontam todos para falhas importantes que obstam a uma execução correcta.
1) Falta de suporte legal:
§ Inexistência do despacho de delegação de competências do Coordenador de Departamento noutro professor titular (n.º 2 do art.º 12.º);
§ Inexistência do despacho de indicação das ponderações dos parâmetros de classificação (n.º 2 do art.º 20.º);
§ Inexistência do despacho conjunto de estabelecimento de quotas (n.º 3 do art.º 21.º);
§ Inexistência da portaria que estabelece os parâmetros classificativos da avaliação a realizar pela Inspecção (n.º 4 do art.º 29.º);
§ Inexistência de informações sobre o posicionamento dos professores na carreira docente em virtude da aplicação do Novo Estatuto da Carreira Docente e do Decreto-lei nº 200/2007, mormente quanto à situação dos docentes situados nos últimos escalões da carreira de professor titular;
§ Inexistência de um Conselho Científico a quem competirá a formulação das recomendações para a avaliação dos professores (nº 2 do Artigo 6º). Este Conselho não foi constituído, havendo apenas quanto a essa matéria:
— O Decreto regulamentar nº 4 de 2008 de 5 de Fevereiro que o institui, e segundo o qual o Conselho deverá estar constituído no prazo de 60 dias a contar da data de publicação (ou seja, no início do 3º período);
— Uma presidente nomeada que emitiu recomendações no sentido de as escolas montarem um processo muito cuidadoso, negociado, assistido pela devida Formação e, sobretudo, fixarem as metas quantitativas, depois das próprias recomendações do conselho, dada a complexidade de todo o processo.

2) Falta de Formação:
§ O nosso Agrupamento já em Setembro inventariou esta necessidade como prioritária, tendo-a então comunicado ao Centro de Formação da sua área.
§ É notória a falta de oferta de formação sobre este tema, em todos os centros de formação próximos. A título informativo, referimos que a única formação sobre esta matéria conseguida por docentes da Escola Sede foi paga pelas professoras e implica o seu deslocamento a Sacavém…

3) Falta de dados básicos essenciais:
§ Uma avaliação do anterior sistema de avaliação de desempenho docente que aponte deficiências e forneça indicadores a ter em consideração na implementação deste.
§ A definição exacta do conceito de abandono escolar (muito diferente conforme se considerem os ciclos de escolaridade obrigatória ou o ensino secundário).
§ A definição exacta do que se pretende com melhoria dos resultados escolares e dos respectivos cálculos. Saliente-se que os últimos dados tratados e publicados datam de 2004/05 (IGE).
§ O próprio preenchimento das fichas não é claro, porque não estão definidos os respectivos critérios e ponderações; as quotas a atribuir não estão definidas.

4) Falta de condições mínimas relativas à organização interna da escola:
§ Não se vê como será possível agendar para o terceiro período, em simultâneo com toda a vida normal da escola, a assistência a aulas de professores contratados por professores avaliadores, que desde o início do ano lectivo têm que cumprir um horário completo normal.

Perante esta situação, que fazemos? Deixamos de funcionar na escola e abandonamos os alunos?
Para já, devemos sublinha que todo o tempo, energia e disponibilidade até hoje gastos para tentar montar este “aborto” organizativo se tem reflectido negativamente no trabalho normal da escola — foi feito à custa da qualidade das aulas e da atenção prestada aos alunos, sem falar do tempo roubado à vida pessoal dos professores.

5) Falta de condições de planeamento:
Não se entende como se faz cair, a meio do ano, numa organização como é este Agrupamento de 5 escolas, cujo planeamento se iniciou em Setembro (Projecto Curricular de Escola e PAA) e há dois anos (Projecto Educativo do Agrupamento), um conjunto de directivas e normas que alteram completamente as suas regras de funcionamento.

6) No que toca à Educação Especial:
· A situação é particularmente grave, já que se levantam questões, relacionadas com as práticas específicas destes professores, que não estão previstas nas fichas de avaliação, tornando impossível a sua aplicação.
· Acresce a esta situação uma legislação desarticulada e frequentemente contraditória, como se pode verificar pela perturbação trazida pelo decreto-lei nº 3/2008 de 7 de Janeiro, que dificulta gravemente qualquer orientação minimamente consistente em todo processo.

Resumindo: Estamos a arriscar as aprendizagens dos alunos, empenhando as nossas energias num projecto que nos prejudica como professores e prejudica a própria escola como organização.

C) Outros Dados:
Acrescentamos que o facto de recentemente ter sido anunciado pela Ministra e pelo SE Jorge Pedreira que os prazos intermédios de cumprimento impostos pelo Decreto Regulamentar 2/2008 de 10 de Fevereiro ficariam a cargo das escolas, em nada altera a decisão ministerial de a avaliação começar no 3º período (a valer pelo ano lectivo 2007/08…). Se a Senhora Ministra considera que esta questão da execução dos prazos é meramente «técnica», os professores agradeceriam informações técnicas para a sua resolução.

Assim sendo, o Conselho Pedagógico continuará o trabalho já iniciado de reformulação dos documentos de projecto do Agrupamento e de produção de instrumentos de recolha de dados para a Avaliação do Desempenho Docente, fazendo depender esse trabalho da resolução das situações irregulares atrás mencionadas e procurando nunca sacrificar a um tal processo o funcionamento da própria Escola e do trabalho com os alunos, dado que é essa, verdadeiramente, a nossa missão.

Considerando ainda que a maioria dos Departamentos subscreveu o texto abaixo transcrito, o Conselho Pedagógico entende comunicar a sua posição ao Conselho Executivo, à Assembleia de Escolas do Agrupamento, às Associações de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento/Escolas, à Câmara Municipal de Oeiras e ao Ministério da Educação.
Reservamo-nos ainda a liberdade de divulgar a nossa posição publicamente.
O Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas de S. Julião da Barra - Oeiras, reunido a 13 de Fevereiro de 2008.

Guião para a análise da legislação sobre a
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE
31. Janeiro. 2008

Os Coordenadores de Departamento querem levar ao Conselho Pedagógico (CP) a opinião da Escola sobre todo este processo. Não querem perder a confiança que neles foi depositada pelos Colegas que os elegeram para os representar. Continuamos a reger-nos pelo DL 115-A/98. Não fomos ainda nomeados por um Director, como está previsto no diploma que ainda não saiu. Lamentamos vir sobrecarregar-vos com mais uma reunião /Ponto de Ordem de Trabalhos, mas é indispensável que obtenhamos a vossa opinião sobre esta matéria, que será discutida num CP extraordinário expressamente convocado para o efeito, a realizar depois do Carnaval.
O grupo de trabalho que apoia a Secção de Avaliação do CP tem vindo a estudar atentamente todas as directivas emanadas do Ministério da Educação, sob formas diversas:
Decretos-lei / regulamentares contraditórios entre si, e abusivamente utilizados por meras medidas economicistas (vide as orientações da DGRHE sobre os Coordenadores de Departamento, que deveriam passar a ser os constantes na lei 200/2007 – Concurso para Titulares – quando a mesma diz expressamente que essa distribuição é unicamente para efeitos desse concurso);
Recomendações de um conselho científico formado por um único membro (a Presidente);
Fichas supostamente elaboradas por esse conselho científico que retomam as divulgadas no sítio da DGRHE em Outubro último e depois retiradas, para serem depois reeditadas às 23.30h de 6ª feira, dia 25, … a lista é longa.
Sobre as grelhas, em especial, salienta-se que as tais «recomendações genéricas» assinadas pela dita presidente, foram conhecidas na manhã do dia 25 e as grelhas apareceram menos de 24h depois. Se acrescentarmos a este perturbador elemento a declaração da mesma senhora, até agora o único membro do Conselho Científico para a Avaliação de Professores, feita em Guimarães, perante dezenas de docentes, na sua 1ª intervenção pública depois de ter sido conhecida a sua nomeação, e segundo a qual «não pode responder às dúvidas dos professores sobre como serão avaliados e quem irá avaliar os avaliadores» e que quem implementa o processo de avaliação é a Direcção Geral dos Recursos Educativos, talvez seja útil interrogarmo-nos sobre a responsabilidade da autoria das ditas grelhas e sobre a sua efectiva responsabilidade neste processo …
Há, portanto, motivos de sobra para nos inquietarmos não só sobre a legalidade de todo este processo, como também sobre as condições da sua execução, por muito legal que fosse. O Fórum da DGRHE está cheio de perguntas por responder ou mal respondidas, feitas pelo Conselho Executivo (CE) de várias escolas de todo o país, de que se citam alguns exemplos, cuja perplexidade partilhamos:
Os Coordenadores de Departamento são avaliados pelo Presidente. do Conselho Executivo e por um Inspector; os objectivos individuais são fixados, por acordo entre o avaliado e os avaliadores; até ao dia 25 de Fevereiro devem ser fixados os objectivos individuais. Perguntas:
-A) Quem convoca o Inspector para a reunião de fixação dos objectivos?
-B) Terá a IGE capacidade de resposta para, no prazo de 10 dias, procederem ao legislado?
Dado que toda a componente não lectiva dos professores está ocupada com actividades várias (AA, APAs, Clubes, etc.) e que a componente de trabalho individual deve servir para a preparação da componente lectiva, QUANDO poderão os professores titulares avaliadores (Coordenadores ou Delegados) desenvolver as actividades de preparação, observação e reflexão relativas a todos os parâmetros classificativos dos professores avaliados e da sua própria avaliação? Que fazer aos alunos que estão a ser seguidos por esses professores, em especial os dos APAs de LPO e MAT?
Como é possível cumprir prazos, tendo em conta o trabalho diário dos professores?
A avaliação de desempenho realiza-se no final de cada período de cada 2 anos. A ser possível cumprir os prazos dados, o processo de avaliação dos Professores ficará comprimido no 3º período:
- A) Como é possível operacionalizar a observação/avaliação de todos os professores em apenas um período lectivo?
- B) A realizar-se a avaliação em apenas um período lectivo, como se cumpre o período de dois anos escolares referidos no art.º 5º do Decreto Regulamentar 2/2008?
Os professores do 2º ciclo, que estão impedidos de leccionar o 3º ciclo vão poder ser avaliadores dos colegas desse ciclo?
Quando só existe um titular e não há possibilidade de delegar a avaliação, como é possível avaliar 20 professores ou mesmo mais?
Como pode um Conselho Executivo elaborar um calendário de observação de aulas deste ano lectivo, se ainda não existe publicação de diploma legal que estabeleça as regras de delegação de competências de avaliador?
As aulas a observar são de 45 ou de 90 minutos?
Já foi feito um estudo ao funcionamento de uma escola no exercício deste modelo, tendo em conta as actividades decorrentes da sua implementação, funcionamento, actividade lectiva, reuniões de rotina, reuniões de avaliação, intercalares, as novas intervenções da escola (Plano de Acção para a Matemática), Projecto “Promoção para a Saúde”, Plano de Leitura, Iniciativa "Escolas, Professores e Computadores Portáteis", Melhoramento dos resultados escolares, Redução do abandono escolares, Actividades constantes do Plano de Actividades de Complemento Curriculares e outras...)?
O último ponto da nossa preocupação deveria ser o primeiro, mas decorre dos dois anteriores: SERÁ TODA ESTA PRESSA (para os prazos, a definição de indicadores objectivos e parâmetros) BENÉFICA PARA OS ALUNOS? A resposta óbvia para nós é que os alunos têm sido a última das preocupações do ME e do Governo. Toda esta parafernália legal tem como único objectivo exibir estatísticas, quer seja de controlo do défice orçamental ou do sucesso escolar. Se o ME estivesse preocupado com a qualidade do ensino e as condições de aprendizagem nas escolas portuguesas,
não se daria ao trabalho de inventar fraudes como as Novas Oportunidades, em que se adquirem em 6 ou 5 meses as competências do ensino secundário,
não alteraria grosseiramente o Estatuto do Aluno para assoberbar os professores com mais papéis e exames para compensar as faltas, desautorizando o seu trabalho e, sobretudo,
não perturbaria constantemente o trabalho das escolas com uma catadupa legislativa, alterações constantes de regras a meio do ano lectivo, tanto no que ao nosso estatuto respeita como à organização e gestão da Escola,
não criaria “ghettos” para os Alunos com Necessidades Educativas Especiais, deixando de fora os casos verdadeiramente perturbadores de indisciplina e violência para os quais nenhuma solução é proposta,
não e reduziria o corpo docente do Ensino Especial e o do pessoal auxiliar,
não poria os professores sob a tutela das autarquias e dos Encarregados de Educação.

Todos sabemos que o nosso trabalho, as relações com os alunos e os Encarregados de Educação vem piorando de ano para ano. Os alunos não aprendem melhor, nós não ensinamos melhor, antes pelo contrário. E no entanto, parece que apesar de tudo os portugueses em geral entenderam que são os professores a última barreira contra a barbárie e a desonestidade, ao declararem, acima de todos os outros europeus, que confiam em primeiro lugar nos professores e em último, nos políticos. Porque somos nós que estamos no terreno. Porque somos nós que damos a cara. Porque somos nós que enfrentamos esta «cultura» do facilitismo, da falta de regras, da ignorância, de que os nossos governantes dão o primeiro exemplo.
Os professores do Grupo de Trabalho sobre a Avaliação do Desempenho Docente não recusam a sua tarefa. Mas querem fazê-la correcta e legalmente:
É impossível cumprir os prazos dados pelo Ministério da Educação.
É impossível trabalharmos na construção dos indicadores que devem orientar os objectivos individuais sem o tempo e o suporte legal correctos e a devida formação.
Não queremos prejudicar a Escola nem os nossos Alunos. Não nos estamos a furtar ao trabalho. Há mais de dois anos que antecipámos esta situação e estamos a trabalhar para uma avaliação interna da Escola, mas não nos são dados o tempo nem as condições de trabalho para retirar dos dados recolhidos as conclusões necessárias.
Não vamos deixar que a inépcia da Ministra e dos seus Secretários de Estado ponham em causa o nosso trabalho e o dos nossos Alunos. E não estamos sós: várias são as escolas que se têm revoltado contra este estado de coisas. Temos a obrigação, pela nossa honra profissional e pessoal, de declarar que não pactuamos com ilegalidades nem com atabalhoamentos políticos. A nossa Escola, os nossos Colegas e os nossos Alunos não podem ser reféns das ameaças que nos acenam. Não é assim que se trabalha.

Esta é, de uma forma geral, o nosso sentimento colectivo e é sobre esta situação que pedimos a vossa opinião, para vos podermos, realmente, representar no próximo Conselho Pedagógico.

Texto subscrito pela maioria dos professores em reuniões de Departamentos Curriculares da Escola E. B. 2,3 de S. Julião da Barra, Oeiras.

Carta aberta ao Sr Procurador-Geral da República

Senhor Procurador-Geral da República

Excelência:

Temos assistido, nos últimos tempos, a uma campanha de desmoralização, desautorização e humilhação dos professores.
Esta tentativa de “diabolização” dos professores assenta em duas mentiras:
Primeira - sendo funcionários públicos são gastadores dos impostos de todos os cidadãos (como se eles os não pagassem também);
Segunda - não fazem nada, trabalham pouco, têm muitas férias e os alunos não aprendem.

Debrucemo-nos sobre a segunda porque a primeira não merece a atenção de ninguém minimamente inteligente.

A - Aposentei-me no dia 1 de Novembro do ano passado e só no dia 21 de Janeiro deste ano entrou ao serviço um novo professor para me substituir.
Isto quer dizer que as cinco turmas que eu tinha (quatro do 1º ano dos Cursos de Educação e Formação - CEF e uma do segundo ano dos mesmos cursos) estiveram mais de oito semanas sem aulas de Ciências Físico-Químicas ( quatro semanas em Novembro, duas em Dezembro e duas semanas e dois dias em Janeiro).
Isto significa que, no primeiro ano, os alunos perderam, no mínimo, 24 tempos lectivos de 45 minutos cada (três por semana) e no segundo ano perderam, no mínimo, 16 tempos lectivos de 45 minutos cada (dois por semana).
Acresce o facto de no segundo ano a parte lectiva terminar no dia 31 de Maio para os alunos entrarem em estágio no dia 1 de Junho. Como terá de ser cumprido um número fixo de horas predeterminado o novo professor terá de dar aulas na Páscoa, aos sábados e, provavelmente, também aos domingos. Afinal, os professores nem são assim tão maus já que deles até se espera que façam milagres… No fim os alunos passam na mesma e foram quase três meses de vencimento que o governo poupou.
Mas desta falta de respeito que o governo mostra pelos professores, alunos e suas famílias o povo não sabe porque não convém que saiba para não estragar a imagem de sucesso tão querida dos governantes.
Quem pede contas ao governo por mais de oito semanas de aulas perdidas e por mais de dois meses e meio para a substituição de um professor? Quem é responsável por tamanha incompetência? Em que normas, regras, procedimentos, directivas, despachos e portarias esteve retida a simples substituição de um professor? Na classificação do desempenho do governo que nota lhe seria atribuída?
B - Quando os professores começarem a exigir cumprir as 35 horas de trabalho na escola, as escolas ficarão bloqueadas.
De facto, onde está escrito no contrato de trabalho entre o governo e um professor que o seu escritório será uma extensão da escola sem que receba pagamento pelo aluguer? Onde está escrito que terá de usar o seu computador, o seu tinteiro, a sua impressora e outro material no serviço da escola?
Quando os professores começarem a exigir gabinetes para preparem aulas, corrigirem testes, computadores para planeamento de aulas e elaboração de testes e relatórios onde estará o espaço para os albergar?

C - Se a progressão dos professores na sua carreira passar a depender, também, das classificações obtidas pelos alunos, Portugal correrá o sério risco de se transformar na aberração de ser um país só de génios com um QI, no mínimo, igual ao de Einstein.
De facto, qual será o professor que correrá o risco de dizer que, dos seus alunos, cinco, três, ou mesmo um só, não conseguiram transitar de ano? Um professor, tal como qualquer outro mortal, tem uma casa para pagar e uma família para sustentar e se o governo quer que o aluno passe mesmo sem saber, assim será feito.
Cairemos, então, no poço sem fundo da maior mentira e da maior vergonha do ensino público.
Se actualmente, nos CEFs, os alunos podem fazer o que lhes apetecer porque nem as faltas disciplinares assentes em participações relatando os comportamentos impróprios dos alunos aparecem registadas nas pautas, como se nada tivesse acontecido, para que é que hão-de estar com atenção e esforçarem-se nas aulas para aprenderem e assimilarem comportamentos sociais correctos se, no final do ano, o professor irá vender a sua assinatura a troco de pão na mesa? E quem lho poderá levar a mal já que é o governo que para isso o empurra encostando-lhe a faca ao peito?

Quem quer acabar com a dignidade dos professores? Quem quer destruir o ensino público? Quem anda a brincar com os professores, os alunos e as famílias? Quem anda a hipotecar o futuro do País?
Os professores não são, de certeza.
Agradeço que mande alguém investigar.


Grato pela atenção



Domingos Freire Cardoso
Professor aposentado de Ciências Físico-Químicas
Rua José António Vidal, nº 25 C
3830 - 203 ÍLHAVO
Tel. 234 185 375 / 93 847 11 04
E-mail: dfcardos@gmail.com

Ministério da Educação induz escolas a procedimentos ilegais

Ministério da Educação induz escolas a procedimentos ilegais

1. Perante as providências cautelares e a suspensão de prazos e procedimentos inerentes à avaliação do desempenho dos professores, responsáveis do ME anunciaram a suspensão dos prazos, mas não dos procedimentos a desenvolver pelas escolas;

2. Em 12 de Fevereiro, p.p., a FENPROF confrontou o ME com a gravidade das suas declarações, tendo sido informada de que se tratava da opinião dos governantes (de que os procedimentos não estavam suspensos), daí que a divulgassem;

3. Acontece que, ao ficarem suspensos os despachos de 24 e 25 de Janeiro, dos secretários de estado, e na ausência do conselho científico para a avaliação dos professores, responsável pela implementação e acompanhamento do processo, não estão criadas as condições, incluindo as legais, para as escolas aprovarem os procedimentos internos;

4. Mais surpreendentemente, no entanto, o ME colocou no "site" da DGRHE as posições que antes assumira verbalmente. Fê-lo através de uma folha branca, sem timbre e sem responsável que assine;

5. Com a divulgação desta posição, o ME procura levar as escolas a procederem de uma forma que desrespeita o artigo 128º do CPTA, logo a decisão dos Tribunais que deferiram as providências cautelares apresentadas pelos Sindicatos;

6. Os Sindicatos da FENPROF irão apresentar aos Tribunais respectivos estas orientações escritas do ME, bem como todas as situações que, nas escolas, desrespeitem as consequências das providências cautelares.
O Secretariado Nacional da FENPROF
14/02/2008


1. Perante as providências cautelares e a suspensão de prazos e procedimentos inerentes à avaliação do desempenho dos professores, responsáveis do ME anunciaram a suspensão dos prazos, mas não dos procedimentos a desenvolver pelas escolas;

2. Em 12 de Fevereiro, p.p., a FENPROF confrontou o ME com a gravidade das suas declarações, tendo sido informada de que se tratava da opinião dos governantes (de que os procedimentos não estavam suspensos), daí que a divulgassem;

3. Acontece que, ao ficarem suspensos os despachos de 24 e 25 de Janeiro, dos secretários de estado, e na ausência do conselho científico para a avaliação dos professores, responsável pela implementação e acompanhamento do processo, não estão criadas as condições, incluindo as legais, para as escolas aprovarem os procedimentos internos;

4. Mais surpreendentemente, no entanto, o ME colocou no "site" da DGRHE as posições que antes assumira verbalmente. Fê-lo através de uma folha branca, sem timbre e sem responsável que assine;

5. Com a divulgação desta posição, o ME procura levar as escolas a procederem de uma forma que desrespeita o artigo 128º do CPTA, logo a decisão dos Tribunais que deferiram as providências cautelares apresentadas pelos Sindicatos;

6. Os Sindicatos da FENPROF irão apresentar aos Tribunais respectivos estas orientações escritas do ME, bem como todas as situações que, nas escolas, desrespeitem as consequências das providências cautelares.
O Secretariado Nacional da FENPROF
14/02/2008


Ministra considera rotineira reunião de Sócrates com professores socialistas

Porto, 15 Fev (Lusa) - A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou hoje "de rotina" a reunião que o secretário-geral do PS, José Sócrates, terá sábado em Lisboa com professores socialistas de todos os distritos.


"Os encontros com professores socialistas no Largo do Rato [onde se localiza a sede nacional do PS] são habituais. Não será o primeiro nem o último", afirmou Maria de Lurdes Rodrigues em Leça da Palmeira, Matosinhos, no final de uma visita à Qualifica - Feira de Educação, Formação, Juventude e Emprego.
A ministra referiu que "conta estar presente na reunião", à semelhança do que fez noutras ocasiões, sublinhando que "também com o primeiro-ministro é habitual fazerem-se estas reuniões".
"A política de educação tem o apoio explícito do Governo. É uma batalha difícil, mas estamos todos sintonizados para levar a cabo esta missão", frisou.
Maria de Lurdes Rodrigues considerou "normal" as críticas dos professores às suas decisões, atribuindo essas atitudes às "incertezas quanto ao futuro e à avaliação" e ao "peso" sobre as escolas e os docentes das novas exigências do Ministério da Educação.
O encontro com professores socialistas acontece depois de quinta-feira, durante uma reunião do Grupo Parlamentar do PS, vários deputados socialistas do sector do ensino terem criticado a ministra da Educação por causa da proposta do Governo de reforma do ensino artístico.
Antes desta questão do ensino artístico, durante a anterior sessão legislativa, também vários deputados socialistas do sector da educação já tinham entrado em rota de colisão com o executivo, criticando a proposta de revisão do estatuto da carreira docente.
Confrontado com estas críticas internas, Augusto Santos Silva referiu hoje à Lusa que o PS "é um partido livre e plural", mas considerou que muitas dos episódios ocorridos em reuniões da bancada socialista chegam à comunicação social "de forma distorcida".
Momentos antes da visita à Qualifica, a ministra da Educação aproveitou a sessão de abertura do seminário "Certificar Qualificando? Que caminho para a sociedade do conhecimento?" para acentuar a aposta do Governo no ensino obrigatório até ao 12º ano.
Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que apenas 30 por cento da população portuguesa tem o Ensino Secundário completo, quando a média europeia é de 70 por cento, o que resulta de vários factores, entre os quais o "limitado" leque de oferta e o precoce abandono escolar.
"O mais importante é inflectir esta tendência e garantir que os jovens não saem da escola sem concluir o Ensino Secundário", afirmou a ministra.

FZ/PMF.
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2008-02-15 17:45:04

Ministra considera rotineira reunião de Sócrates com professores socialistas

Porto, 15 Fev (Lusa) - A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou hoje "de rotina" a reunião que o secretário-geral do PS, José Sócrates, terá sábado em Lisboa com professores socialistas de todos os distritos.


"Os encontros com professores socialistas no Largo do Rato [onde se localiza a sede nacional do PS] são habituais. Não será o primeiro nem o último", afirmou Maria de Lurdes Rodrigues em Leça da Palmeira, Matosinhos, no final de uma visita à Qualifica - Feira de Educação, Formação, Juventude e Emprego.
A ministra referiu que "conta estar presente na reunião", à semelhança do que fez noutras ocasiões, sublinhando que "também com o primeiro-ministro é habitual fazerem-se estas reuniões".
"A política de educação tem o apoio explícito do Governo. É uma batalha difícil, mas estamos todos sintonizados para levar a cabo esta missão", frisou.
Maria de Lurdes Rodrigues considerou "normal" as críticas dos professores às suas decisões, atribuindo essas atitudes às "incertezas quanto ao futuro e à avaliação" e ao "peso" sobre as escolas e os docentes das novas exigências do Ministério da Educação.
O encontro com professores socialistas acontece depois de quinta-feira, durante uma reunião do Grupo Parlamentar do PS, vários deputados socialistas do sector do ensino terem criticado a ministra da Educação por causa da proposta do Governo de reforma do ensino artístico.
Antes desta questão do ensino artístico, durante a anterior sessão legislativa, também vários deputados socialistas do sector da educação já tinham entrado em rota de colisão com o executivo, criticando a proposta de revisão do estatuto da carreira docente.
Confrontado com estas críticas internas, Augusto Santos Silva referiu hoje à Lusa que o PS "é um partido livre e plural", mas considerou que muitas dos episódios ocorridos em reuniões da bancada socialista chegam à comunicação social "de forma distorcida".
Momentos antes da visita à Qualifica, a ministra da Educação aproveitou a sessão de abertura do seminário "Certificar Qualificando? Que caminho para a sociedade do conhecimento?" para acentuar a aposta do Governo no ensino obrigatório até ao 12º ano.
Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que apenas 30 por cento da população portuguesa tem o Ensino Secundário completo, quando a média europeia é de 70 por cento, o que resulta de vários factores, entre os quais o "limitado" leque de oferta e o precoce abandono escolar.
"O mais importante é inflectir esta tendência e garantir que os jovens não saem da escola sem concluir o Ensino Secundário", afirmou a ministra.

FZ/PMF.
Lusa/Fim
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José Sócrates vaiado em reunião com professores socialistas

José Sócrates esteve reunido, este sábado, com professores socialistas de todos os distritos, na sede do partido, em Lisboa, onde dezenas de pessoas foram manifestar-se contra a política educativa do Governo.
tamanho da letra

À espera do secretário-geral do PS, no Largo do Rato, estavam professores convocados por SMS, que disseram desconhecer quem as havia enviado. José Sócrates manifestou-se desagradado pelo protesto e garantiu que os manifestantes são militantes de outros partidos, sem os nomear. “São pessoas que já fizeram o mesmo no Congresso do PS”, disse. “Há três anos” que se manifestam onde quer que José Sócrates se desloque, acusou o próprio. “Nunca tinha visto isto em tantos anos de democracia e considero absolutamente lamentável. São militantes de outros partidos, eu bem sei do que estou a falar”, declarou o secretário-geral do PS. Sublinhou que a reunião se enquadra no âmbito do Partido Socialista, uma vez que os professores são militantes. A ministra da Educação considerou que esta reunião era de rotina. O secretário-geral do PS e também primeiro-ministro prometeu que a manifestação não vai mudar a política do Executivo. “Acho absolutamente inqualificável que venham manifestar-se à porta de um partido político, tentando condicionar” a mesma força política. José Sócrates relaciona o protesto com as mudanças na área da Educação. “Estamos a fazer reformas importantes nas escolas a benefício dos portugueses e em benefício de Portugal e, em particular, duas que vamos concretizar agora”, referindo-se à avaliação dos professores e à gestão das escolas. As propostas do Executivo para reformas na Educação têm merecido vários protestos. A avaliação dos professores, a mudança na gestão das escolas ou a reforma do ensino artístico foram alvo de críticas dentro e fora do Partido Socialista. Os manifestantes gritavam as palavras de ordem: “Respeito pela educação”. Após o início da reunião cantaram o tem “Grândola Vila Morena”. FENPROF não faz “a mínima ideia” sobre a organização do protesto “A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) não convoca manifestações para a porta de partidos políticos em dias em que se realizam reuniões internas dos seus militantes”, comentou o secretário-geral da organização. Mário Nogueira, que assistia ao congresso da CGTP, garantiu desconhecer quem convocou a manifestação. “Falei com os presidentes de todos os sindicatos e ninguém faz a mínima ideia de quem enviou estas mensagens anónimas”, declarou. A FENPROF anuncia, terça-feira, uma “grandiosa luta dos professores, que vai exigir o envolvimento de milhares de docentes”, antes da Páscoa.

RTP2008-02-16 19:03:25

Esta extraordinária ministra!!!!!!!

Este mês a ministra da educação foi à assembleia da república e alguns deputados do PS questionaram-na sobre algumas das suas políticas da educação.
Confrontada com essas dúvidas o que faz a ministra... Responde ?

Não...

Acusa antes os deputados de ao colocarem dúvidas estarem a dar voz aos "professorezecos"...
Assim mesmo, os "professorzecos".


Esta notícia foi publicada no Público, mas, por alguma razão, passou praticamente despercebida, divulguem-na para que se perceba o calibre desta ministra.

http://educar.files.wordpress.com/2008/01/ps.jpg

"Professor Titular" visto pel'A Bola

"As nossas escolas lançam-se, definitivamente, na arrojada experiência do mundo da bola. Com uma Ministra apostada em ser um género de Scolari da educação, o Ministério investe na divisão sectarista entre (professores) titulares e suplentes.
Os titulares serão, então, convocados à luz de uma escolha surpreendente. Mais importante do que saber dar aulas e ter sucesso na relação educativa com os alunos, interessará saber como pisar a alcatifa dos gabinetes, ter prática de carreira burocrática fora da sala de aulas e, acima de tudo, não ter tido lesões que obriguem a paragens mais ou menos longas no Campeonato, mesmo que por culpa de qualquer sarrafada alheia.
A táctica é, pois, não ter vida para além do dever. O destino é entregar a titularidade professoral aos mais dignos ratos de sacristia. Por isso, não bastará saber marcar golos. E, tal como em alguns clubes de futebol manhosos, é preciso não esquecer de elogiar o presidente e ser de uma fidelidade canina ao treinador.

Vítor Serpa,
Director

Petição contra o actual modelo de avaliação docente

http://www.petitiononline.com/mod_perl/petition-sign.cgi?17257

Educação: Reacção de Sócrates a manifestação de professores é sinal de "fim de ciclo" - Menezes

Porto, 17 Fev - O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, afirmou que a reacção do secretário-geral do PS e primeiro-ministro à manifestação de professores frente à sede do PS, sábado, "é um sinal de intolerância que marca o fim de um ciclo".
tamanho da letra


À entrada para uma reunião na sede nacional do PS no Largo do rato, em Lisboa, José Sócrates foi surpreendido por dezenas de manifestantes à porta do edifício, que afirmaram ter sido convocadas para o protesto através de mensagens de telemóvel de origem não identificada.
O secretário-geral do PS e primeiro-ministro, José Sócrates, considerou a manifestação "absolutamente lamentável" e afirmou que se tratavam de "militantes de outros partidos", sem no entanto especificar quais.
"O primeiro-ministro vê comunistas em tudo o que é esquina. Deus nos livre que estas manifestações em Portugal, um pouco por todo o lado, fossem sempre de comunistas", afirmou hoje o presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, à margem de um encontro com condóminos em Gaia.
"São comunistas, centristas, sociais-democratas e pessoas do Bloco de Esquerda que estão completamente revoltadas e não se revêem num primeiro-ministro que pura e simplesmente afirma de uma forma autista a sua vontade mas não as suas políticas", argumentou.

PM/APN.
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2008-02-17 18:45:01

Doc. Escola D. Amélia



O Projecto de decreto-lei do Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário – tal como o governo o apresentou em Dezembro de 2007 – desrespeita a dignidade profissional dos professores, ignora o seu papel pedagógico específico e, de facto, despreza a autonomia das Escolas que paradoxalmente diz defender.

Das várias alterações propostas, algumas há tão graves – quer em si mesmas consideradas, pelo que revelam de falta de respeito e reconhecimento pelos professores e pelas suas funções docentes e pedagógicas, quer pelas consequências que inevitavelmente vão trazer à vida escolar do nosso país (tão vulnerável, tão fragilizada já por políticas educativas contraditórias, apressadas e insensatas) – que importa recusar com veemência e firmeza, de todos os modos possíveis.

Parecem-nos especialmente graves os pontos seguintes:

Conselho Geral:
Neste “órgão de direcção estratégica responsável pela definição das linhas orientadoras da actividade da escola”, a participação dos professores fica reduzida a um máximo de 40%. Este órgão assegura “a participação e representação da comunidade educativa” e longe de nós menosprezar essa participação. Muito pelo contrário, esperamos que ela se torne mais sentida e mais activa. Nessa comunidade educativa têm especial relevo, por motivos óbvios, os Pais e Encarregados de Educação, cujos educandos são a razão de ser da própria Escola – sendo a colaboração dos Pais e Encarregados de Educação uma tradição nossa, foi com muito gosto que a vimos expressa e consagrada na lei (Dec.-Lei nº115-A/98). Importa, no entanto, distinguir o papel que cabe a cada um dos corpos representados no Conselho Geral, e estamos seguramente perante uma errada concepção de escola quando, num órgão que tem as competências a este atribuídas, se determina que a participação dos Professores não ultrapasse os 40%.
Esta minoria para que são remetidos não corresponde ao papel que desempenham na escola – sem paralelo com qualquer outro – e reforça a sistemática desautorização e desrespeito pelo papel específico que lhes cabe, seja ele de natureza pedagógica ou científica, ou de ambas, como costuma ser. Do mesmo passo ignora-se a dignidade do estatuto do professor e subalterniza-se a sua função a interesses múltiplos verosimilmente presentes neste órgão todo-poderoso. Simbolicamente, a representação atribuída aos professores é eloquente quanto ao papel que, na Escola, a tutela lhes reserva.
Tão grave, ou mais grave ainda, o Presidente deste Conselho não pode ser um professor. Quanto a nós, deveria sê-lo, obrigatoriamente. Mas a tutela entendeu por bem vedar aos professores o acesso a este cargo. Não imaginamos que, expressamente, alguma vez de um documento legal constasse maior desconsideração pelos docentes. Esta desconfiança quanto aos professores – que perpassa por todo o documento – atinge aqui proporções inaceitáveis, e indicia a criação de uma escola à qual não gostaríamos de pertencer.


O Director, os Órgãos de Gestão Intermédia, o Conselho Pedagógico

O projecto de decreto-lei “pretende” reforçar a autoridade do Director – entidade que, espantosamente, não foi escolhida por uma maioria de professores! – mas fá-lo de forma verdadeiramente aberrante, asfixiando os outros órgãos de gestão. Nesta linha, cabe ao Director a designação dos responsáveis pelos cargos de gestão intermédia: coordenadores de departamento, coordenadores de grupo, coordenadores dos ensinos básico e secundário, etc. Assim, todos os professores que têm assento no Conselho Pedagógico são nomeados pelo Director. Que independência pode ter aquele órgão? Que sentido tem um Conselho Pedagógico que mais não é do que a extensão da autoridade do Director?

O Conselho Geral Transitório

Na composição deste órgão culmina a falta de respeito pelos professores e o desconhecimento – ou a ignorância – do que é a Escola e o seu funcionamento.
A este conselho cabem funções tão importantes como, por exemplo, a elaboração do Regulamento Interno que estabelece a composição dos vários órgãos da escola – aqueles que existem por força de lei e aqueles que são criados no âmbito da “autonomia” concedida aos estabelecimentos de ensino. Por outras palavras, a este órgão cabe redigir o documento “fundador da escola”, a partir do qual tudo o mais se organiza. Ora, justamente, dos vinte membros, apenas sete são professores. Representantes da autarquia são três (lembramos que com dificuldade a autarquia tem assegurado a participação esporádica de um elemento). Representantes da comunidade local são três. Que comunidade local é essa? Que interesses representa? Que vontade, que capacidade tem de participar neste conselho que vai “ criar” a escola onde, diariamente, professores e alunos desenvolvem o processo de ensino - aprendizagem? Os representantes dos pais são cinco, e apesar do respeito que nos merecem, parece-nos desproporcionado este número quando o comparamos com a representação dos docentes.
A composição deste conselho é uma afronta aos professores e o reconhecimento expresso de que, na escola, a sua voz é de importância relativa, a sua formação inútil, o seu papel secundário.


Rejeitando toda e qualquer acusação de corporativismo, afirmamos que os professores são profissionais que na escola têm o papel específico para o qual estão, ou devem estar, preparados: a eles cabe o desempenho das funções pedagógicas que lhes estão atribuídas, a leccionação das matérias curricularmente estabelecidas. Com os alunos, eles são o núcleo essencial da escola – sem eles, não há escola.
A comunidade educativa deve mobilizar-se para que os professores tenham condições para exercer as suas funções: tem direito a obter as informações que solicitar, pode pedir avaliações, deve exigir resultados, mas não pode assumir, em tempo algum, o papel exclusivo que cabe aos professores, como não o fará relativamente ao papel dos médicos, dos juízes, dos engenheiros…
O que o legislador pretende da escola não se depreende da leitura dos vários diplomas legais recentemente promulgados. Mas a verdade é que, sistematicamente, têm contribuído para a desmotivação, para o desânimo dos professores, sobretudo daqueles que mais respeitam a sua profissão.
Texto aprovado com 32 votos e uma abstenção.
Presenças de acordo com convocatória em anexo.
Aprovou-se igualmente que fosse enviado às seguintes personalidades / entidades:

Presidente da República
Primeiro-Ministro
Ministra da Educação
Presidente da Assembleia da República
Comissão de Educação da Assembleia da República
Conselho Nacional de Educação
Conselho de Escolas
Estabelecimentos de ensino público
Confap
Câmara Municipal de Lisboa
Meios de Comunicação Social
Fórum para a Liberdade de Educação

Movimeto professores revoltados

COLEGAS PROFESSORES!

De uma vez por todas VAMO-NOS UNIR!
O FUTURO não será cor-de-rosa e 'estranhamente' temos consciência disso ... e estamos a ser coniventes. Sempre concordamos que os Sindicatos nada fazem ... e nós? Somos o MPR Movimento Professores Revoltados, formado inicialmente por um pequeno grupo de professores INCONFORMADOS e a espalhar-se POR TODO O PAÍS com uma ENORME e galopante adesão.
REENVIEM para TODOS os vossos contactos de professores os endereços do E-MAIL (movimentoprofesoresrevoltados@gmail.com)
com o propósito de mobilizar TODO O CORPO DOCENTE para as iniciativas que> nos propomos desenvolver. Consultem com regularidade o BLOG, comentem e/ou enviem artigos vossos> para o nosso e-mail. Este BLOG pretende ser uma FORÇA ACTIVA! REENVIEM este e-mail, comentem com os vossos colegas na escola, COLABOREM por um OBJECTIVO ÚNICO!
VAMOS LUTAR!
Atenciosamente,
Movimento Professores Revoltados.

Nunca tinha visto isto

Mais de uma centena de professores surpreenderam ontem José Sócrates com uma manifestação frente à sede do PS, onde o primeiro-ministro se reuniu com professores socialistas para discutir a política para a Educação. Fortemente vaiado à entrada, José Sócrates reagiu indignado e acusou os protestantes de pertencerem a outros partidos políticos e de quererem condicionar o PS.

Nunca tinha visto isto em tantos anos de democracia e considero absolutamente lamentável”, afirmou o primeiro-ministro, numa declaração que fez questão de prestar aos jornalistas.Convocados por SMS para se concentrarem às 16h00 no Largo do Rato, foram dezenas os docentes que responderam ao apelo para protestarem contra as políticas do Governo para a área da Educação, mesmo desconhecendo a origem da convocação. “Sou professora e vim de livre vontade porque estou indignada com a política traçada para a Educação. Não sou militante, nem este protesto foi convocado por nenhum partido ao contrário do que o senhor primeiro-ministro afirmou”, disse ao CM uma professora que preferiu manter o anonimato. Questionada sobre a razão pela qual não se quis identificar, a resposta surgiu em eco: “Porque podemos ter negativa na avaliação.”Mas para José Sócrates não há dúvidas: “Não são professores, são militantes de outros partidos. Eu sei bem do que estou a falar”, declarou o primeiro-ministro, referindo que “são pessoas que já fizeram o mesmo no Congresso do PS” e que “há três anos” se manifestam onde quer que esteja.“É absolutamente lamentável que agora façam manifestações à porta do PS tentando condicioná-lo. Já deviam saber que o PS não se deixa condicionar e não deixará de seguir a sua linha política”, afirmou José Sócrates, garantindo que a avaliação dos professores e as mudanças na gestão das escolas vão avançar. “O que estamos a fazer é melhorar a escola pública”, rematou, antes de se reunir com a ministra da Educação e professores socialistas.Lá fora, os manifestantes assobiavam a todos os que entravam na sede socialista e chamavam José Sócrates de “mentiroso”.
MINISTRA PROMETE "DESCOMPLICAR
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou “necessário fazer o trabalho para descomplicar, para simplificar” o processo de avaliação dos professores. Na SIC Notícias, a ministra disse que serão dadas “todas as condições para que [as escolas] façam [a avaliação] com conforto”. Esta posição surgiu no dia em que um quarto tribunal deu razão aos sindicatos, aceitando a providência cautelar onde é pedida a suspensão da eficácia dos despachos do ME.Em discussão têm estado os prazos dados às escolas para definir os instrumentos de registo e indicadores de medida, que permitirão recolher a informação para o preenchimento das fichas de avaliação. O prazo terminava dia 25, mas o ME decidiu autorizar o não cumprimento, desde que a avaliação avance ainda este ano.Os resultados escolares e a redução das taxas de abandono contam para a avaliação. Os coordenadores de departamento e os presidentes dos conselhos executivos são os avaliadores, que serão, por sua vez, avaliados por inspectores. A avaliação é essencial para progredir na carreira.
CONSELHO GERAL SEM PROFESSOR
O novo regime de autonomia, gestão e administração escolar é um dos pontos de discórdia entre os sindicatos e o Ministério da Educação. A proposta do Governo prevê a criação do Conselho Geral, futuro órgão máximo da direcção estratégica da escola, que terá competência para poder escolher e destituir o director do estabelecimento de ensino – que terá de ser professor. A discórdia surge porque o Conselho Geral só poderá ser presidido por um encarregado de educação, elemento da autarquia ou representante da comunidade local. Os sindicatos consideram “diminuída ao máximo” a participação dos professores nas escolas. Até o Conselho das Escolas, órgão consultivo criado pelo Governo de José Sócrates, criticou esta proposta, sugerindo 20 alterações.
"PROTESTO NÃO É O MAIS ADEQUADO": Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof
Correio da Manhã – A Fenprof convocou o protesto à porta da sede do PS?Mário Nogueira – Não temos nada a ver com a manifestação. A Fenprof está solidária com os professores, mas não se identifica com este tipo de protestos. Não é adequado protestar à porta de um partido. Achamos mal. – A imagem dos professores sai manchada?– Há 150 mil professores e não são cem ou duzentos que mancham a classe.– Como vê o encontro de José Sócrates com professores socialistas? – Se o senhor primeiro-ministro quer discutir com os professores, tem de reunir com os sindicatos. Acho que o secretário-geral do PS quis juntar uns apóstolos para espalharem pelo País a sua mensagem.
REACÇÕES"QUERO UMA AVALIAÇÃO JUSTA": Jorge Rocha Prof. de Filosofia
“Concordo com a avaliação dos professores, mas quero uma avaliação justa. A avaliação de desempenho dos professores dependente dos resultados dos alunos é um estímulo à descredibilização do sistema de avaliação dos alunos. Com a nova lei teremos ainda um director todo-poderoso.”
NÃO DEVEM FECHAR ESCOLAS": Rui Ferreira Prof. de Ens. Especial
“Não concordo que fechem escolas de Ensino Especial sem estarem criadas as condições para receber estas crianças nas escolas. Não concordo com um sistema de avaliação por quotas. Por que é que apenas dois professores podem receber bom se houver dez que merecem a mesma nota?”
JÁ SE NOTA A DESMOTIVAÇÃO": Sílvia Ramos Prof. de Música
“Já se nota nas escolas a desmotivação. No meu caso, que sou professora no plano de integração especial, onde estão jovens em situação de marginalidade, nem sei como vou ser avaliada. A nova legislação não faz qualquer referência ao Programa para Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil.”
PS REPUDIA PROTESTO NO RATO
O PS condenou o protesto dos professores, considerando-o um exemplo de “comportamento estalinista e antidemocrático”.
SÓCRATES NEGA PERSEGUIÇÕES
José Sócrates negou que os professores estejam a ser vítimas de perseguição: “Isso não existe nas nossas escolas.”
POLÍCIA NÃO FOI CHAMADA
Apesar de se tratar de uma manifestação ilegal, o PS optou por não pedir reforço policial, embora tivesse sido sugerido.
PROIBIDO
Apesar de a lei proibir o estacionamento na faixa reservada aos transportes públicos, os motoristas do líder do PS e primeiro-ministro não se coibiram de o fazer. Durante mais de duas horas as viaturas mantiveram-se à frente da sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa.A polícia não viu nada...
POLÍCIA NO SINDICATO
Em Outubro, na véspera da visita de Sócrates à Covilhã, a PSP foi a um sindicato recolher informações sobre o protesto dos docentes
CONSELHO POR CRIAR
Do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores ainda só há um nome: o da presidente, Conceição Castro Ramos
MINISTRA NO PARLAMENTO
Maria de Lurdes Rodrigues vai à Comissão Parlamentar de Educação na terça-feira a pedido do Bloco de Esquerda
NÚMEROS
154 515 educadores de infância e professores nos estabelecimentos de ensino públicos, no ano lectivo 2006/07.10 972 estabelecimentos de ensino público, desde os jardins-de-infância às escolas profissionais, em 2006/07.1 450 073 alunos inscritos nos estabelecimentos de ensino público no ano lectivo de 2006/07.631,68 euros líquidos é o valor mínimo do vencimento de um professor que esteja em início de carreira.
Ana Patrícia Dias / Edgar Nascimento