quarta-feira, novembro 28, 2007

O dom da matemática


Qual o dom dos professores de Matemática japoneses para cativar os alunos? O que os diferencia dos outros, como os portugueses? Para responder a esta questão - quem nunca associou os asiáticos aos números, como se associa os europeus às letras? - , o DN falou com um especialista internacional na matéria, Tad Watanabe, e com Arsélio Martins, que, há dias, ganhou o Prémio Nacional do Professor.Nascido no Japão, Watanabe, que dá aulas na Universidade Estatal de Penn, nos EUA, tem escrito, precisamente, sobre esta matéria. Learning from Japanese Lesson Study ("Aprendendo com o Ensino Japonês"). Considera que, a haver segredo, algum segredo da parte dos mestres nipónicos, este reside na focalização das aulas num único problema matemático. Sem dispersões. Um de cada vez. Além disso, as soluções a que os jovens chegam nunca são desprezadas, ainda que redundem em erro, antes analisadas em público, de forma crítica e construtiva. Sem humilhações. Com o professor ao mesmo ao lado, acessível a todas as dúvidas.Dando de barato as características anímicas dos japoneses, que tanto passam pela obediência como pela criatividade e pelo respeito geracional, esta acessibilidade é a grande diferença. Ou, como diz Watanabe, a capacidade dos docentes de, conhecendo-os, antecipar o pensamento dos seus educandos. Por miúdos: o que estarão eles a pensar? Que resposta irão dar?Outra diferença fundamental residirá na qualidade dos manuais logo nos primeiros anos de escolaridade, que, no caso japonês, lembra Watanabe, são encarados como importante coadjuvante do ensino e não, como muitas vezes acontece, um obstáculo para os professores e uma "seca" para os alunos. Há um cuidado acrescido da parte de quem define os currículos de Matemática.Ah, é verdade, e as aulas são muitíssimo bem preparadas, com sumários detalhados. E ninguém faz caixinha. A observação de trabalho dos outros, da forma como ensinam, é prática corrente - ninguém a critica, antes elogia. Partilha-se. E observa-se, passarinhando pela sala de aulas, espreitando o trabalho dos alunos e a forma como chegam a determinado resultado.No fundo, sintetiza, é dar o papel central na escola aos professores.Por alguma razão, nos EUA, onde foi publicado o relatório oficial Before is Too Late ("Antes que seja Tarde de Mais"), a Comissão Nacional sobre o Ensino da Matemática e das Ciências, já apostaram nestas soluções, "copiando-se" o modelo japonês.Razia em PortugalE em Portugal? Em Portugal é conforme. À razia dos resultados negativos ou menos positivos, escapam alguns. Os que têm sorte de encontrar pela frente mestres na arte de ensinar, como, por exemplo, Arsélio Martins, professor na Escola Secundária José Estevão, em Aveiro. "Temos de 'ganhar' os estudantes para algo, a Matemática, que não é um fardo. Eu utilizo tudo o que estiver ao meu alcance, com recurso a exemplos práticos do quotidiano, da história e da tecnologia, coisas relacionadas com as suas próprias vidas. O prazer é uma questão fundamental. Não é o prazer prazenteiro, mas sim o prazer que se obtém da resolução de problemas", salientou ao DN.Resta esperar pelo próximo relatório sobre os conhecimento em Matemática à escala internacional (Trends in International Mathematics and Science Study). O relatório é elaborado de quatro em quatro anos, tendo já sido publicadas as edições de 1995, 1999, 2003. O TIMSS ("Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e da Ciência") relativo a 2007 só será publicado no dia 9 de Dezembro de 2008.

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