segunda-feira, novembro 12, 2007

Professores muito especiais

Alexandra InácioCento e quarenta professores de diferentes áreas de formação estão a dar aulas na Educação Especial. É o caso de Maria, Fernando Gonçalves e Fernando Mendes, docentes há 15, 25 e 30 anos de Português-Francês, agro-pecuária e electrotecnia, respectivamente. A Fenprof acusa a tutela de ter preferido colocar docentes ilegalmente a contratar professores especializados. Já o Ministério da Educação garantiu ao JN que não há mais professores habilitados disponíveis.Há 25 anos que Fernando Gonçalves dá aulas a alunos do 10º, 11º e 12º anos. Na segunda-feira à tarde quando chegou à escola, onde é efectivo há 22 - a Profissional Agrícola Quinta da Legiosa, na Covilhã - informaram-no que tinham recebido um telefonema do presidente do Conselho Executivo da EB2, 3 do Paúl perguntando por ele, porque tinha sido lá colocado para dar apoio a meninos com deficiências do pré-escolar ao 9º ano. "Toda a minha vida ensinei no Secundário e de repente vejo-me num jardim de infância. Não sou a pessoa indicada para o lugar.", afirmou ao JN. Fernando tinha um horário completo, turmas atribuídas e avaliações feitas. E, se a situação não for revertida, a sua escola terá de esperar por um docente para o substituir. A EB2,3 do Paúl criou uma sala multideficiência, na sede do agrupamento, para os seis alunos que requerem ensino especial. Um espaço equipado, explicou ao JN o presidente do Conselho Executivo, Vítor Reis Silva, para esses meninos além do trabalho nas suas respectivas escolas poderem ter um desenvolvimento ao nível psicomotor. Por isso, pediram mais dois professores de educação especial. O ministério enviou-lhes além de Fernando Gonçalves, Fernando Mendes, há 30 anos professor de electrotecnia no Secundário. Uma colocação incompreensiva para Vítor Silva, se se pensar na defesa da escola inclusiva feita pelo Governo.Fernando Mendes é efectivo na Frei Heitor Pinto, na Covilhã, mas está destacado há 10 na Campos e Melo. Tinha quatro turmas e horário completo. Dos docentes ouvidos pelo JN é o mais esperançoso num regresso à sua escola de origem. Maria é professora há 15 de Português-Francês, no 2º ciclo. Em Agosto não foi colocada porque os lugares que deveriam ser atribuídos ao seu grupo (o 210) foram preenchidos por professores de Português do 3º ciclo. Agora está a dar apoio ao 1º ciclo. "Quando soube fiquei desorientada, em estado de choque. As lágrimas caíram-me pela cara abaixo", confessou ao JN. "Agora já estou mais calma", repetiu, insistentemente "Já percebi que vai ser uma situação até final do ano lectivo". Maria tem um aluno autista e multideficientes no grupo. Não faz "a mínima ideia como planear o seu trabalho. Não tenho formação, experiência, materiais, nada. Caí de pára-quedas noutro mundo". "Há centenas de docentes do grupo 910 no desemprego" O grupo 910, onde foram colocados os 140 docentes, visa dar "apoio a crianças e jovens com graves problemas cognitivos ou motores, perturbações da personalidade ou multideficiência". Por exemplo, casos de autismo, trissomia 21 ou paralisia cerebral. Do grupo, 53 são professores do Quadro de Zona Pedagógica, com afectação administrativa a uma escola e 87 são docentes do Quadro Escola com horário zero, explicou ao JN o secretário-geral da Fenprof. São de áreas científicas diversas - Alemão, Filosofia, História, Educação Visual ou Economia, por exemplo - mas, em comum, não têm formação ou experiência para o lugar em que estão colocados. Fonte do gabinete da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, garantiu ao JN que por todos os professores do grupo 910 estarem colocados e "não existir mais especializados disponíveis" tiveram que recorrer a outros com horários zero. Depois, sublinha a tutela, "esses docentes não estarão sozinhos mas integrados numa equipa coordenada por um professor habilitado". Argumentos que os professores não aceitam. Mário Nogueira garante que há centenas de docentes do grupo 910 no desemprego ou que tiveram de regressar ao seu lugar de origem, no ensino regular. "Há dois anos a tutela diminuiu o quadro da Educação Especial de oito mil para quatro mil lugares", sublinhou o secretário-geral da Fenprof, acusando o Governo de "se recusar a gastar dinheiro com as contratações". Todos os professores ouvidos pelo JN admitiram estarem integrados numa equipa. "Tive uma reunião com ele para me dizer o meu trabalho. Prontificou-se a ajudar mas também as suas funções. Não me poderá acompanhar diariamente ou ensinar-me a ser uma professora de Educação Especial de um dia para o outro", retorquiu ao JN, Maria.

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