quinta-feira, novembro 15, 2007

Professores são muito expostos ao stress

A sociedade está mais violenta e isso agudizou também a conflitualidade entre alunos e professores. João Amado, investigador da Universidade de Coimbra, explica assim o aumento da indisciplina nas aulas. A Confap descarta a responsabilidade dos pais e culpa os docentes. Os professores são dos profissionais com maiores índices de stress e exposição ao risco, devido à indisciplina dos alunos, que tem aumentado bastante nos últimos anos. Para João Amado, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e autor de várias obras sobre indisciplina, “a escola reflecte o que se passa na sociedade, que também está mais violenta. A indisciplina agravou-se progressivamente, passando da mera infracção das regras ao comportamento mais violento e conflituoso”, explicou. Francisco Meireles, professor de Educação Visual e Tecnológica, não tem dúvidas disso. Depois de 14 anos longe do ensino, a trabalhar nos serviços centrais do Ministério da Educação, regressou à escola no passado ano lectivo e garante que “a surpresa não está a ser nada agradável”.De acordo com o professor, “a degradação instalou-se a passos largos. Os insultos generalizaram-se, há agressões e conflitos quase todas as semanas”. Há dias em que Francisco se sente arrependido de ter voltado ao ensino, e não passa um sem que se recorde de como “antes os miúdos eram mais cordatos. O professor entrava e havia um ambiente acolhedor. Havia respeito pelo professor e pela própria escola enquanto instituição”, enfatiza, em palavras bem ilustrativas da desmotivação que o João Amado garante estar disseminada entre os professores, afectados por uma “grande indefinição na comunidade educativa e pela generalização da própria ideia de crise”. O perito considera que “os docentes têm pouca preparação a nível pedagógico e de resolução de conflitos, havendo enorme falta de psicólogos, mediadores e assistentes sociais que complementem o seu trabalho”. Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, diz que “as famílias assumem as suas responsabilidades na educação dos filhos”, mas aponta o dedo aos professores, que muitas vezes se demitem de exercer a autoridade junto dos alunos e agem com “grande condescendência relativamente a situações de indisciplina”, explicando-se deste modo que a mesma turma tenha um comportamento impecável com um professor e seja altamente indisciplinada com outro.
Valores- Responsabilidades- “O quadro de valores na relação com o professor enquanto pessoa mais velha e figura de autoridade tem vindo a degradar-se progressivamente”, disse João Grancho, presidente da Associação Nacional dos Professores, que lançou e gere a linha telefónica de apoio. O afastamento dos pais relativamente ao acompanhamento escolar dos filhos, a quebra na imagem pública da escola e o agravamento das desigualdades e tensões sociais nos últimos anos são as principais razões do problema. “Tem-se deslocado para a escola a responsabilidade sobre uma resposta a problemas que são transversais a toda a sociedade. A escola não aguenta mais encomendas”, refere.

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