segunda-feira, janeiro 22, 2007

Professor único no 5º e 6º ano é uma «infatilização», critica professor da Universidade de Coimbra

O presidente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) criticou hoje a intenção do governo de introduzir um professor generalista no II ciclo, considerando que representa «uma infantilização» deste nível de ensino.
«Vai provocar uma perda da qualidade do ensino e a infantilização do 5º e 6º anos» , declarou hoje João Gabriel Silva, que preside aos conselhos científico e directivo da maior faculdade da Universidade de Coimbra.

Para o catedrático, os alunos do 5º e 6º anos «estão muito mais próximos do III ciclo do que do I. Os requisitos de formação dos professores do III ciclo é que deviam ser estendidos aos do II ciclo. Está-se claramente a andar para trás», considerou.

Na óptica do responsável, esta transformação implica «aumentar no II ciclo a percentagem de formação pedagógica e didáctica, diminuindo a formação na área científica».

«Ninguém, por muito extraordinário pedagogo que seja, consegue ensinar aquilo que não sabe» , frisou João Gabriel Silva.

A possibilidade de um único professor acompanhar os alunos do 1º ao 6º ano nas áreas básicas foi admitida pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, como «uma alternativa para o futuro, entre outras», no âmbito do novo Regime de Habilitações para a Docência.

Na edição de quinta-feira do DN, Valter Lemos considerava «estranho que só agora surjam críticas a um diploma que está há vários meses em consulta».

«Manifestámos o nosso desacordo quer formal, quer informalmente» , refutou hoje João Gabriel Silva, aludindo, nomeadamente, a pareceres da FCTUC e da UC sobre o ante-projecto, enviados, em Novembro passado, ao Ministério da Educação .

Ao frisar que a introdução de professores generalistas no II ciclo «não é uma boa aposta», o parecer da FCTUC sublinha não ser razoável que «o mesmo professor ensine, simultaneamente, Ciências da Natureza, História e Português».

«A especialização do ensino da Matemática no segundo ciclo deve ocorrer , mesmo que se mantenha o figurino dos professores generalistas no segundo ciclo, mas achamos que esse próprio modelo deve ser abandonado» , lê-se no documento.

Segundo o parecer, «como está, é uma mera extensão do ensino do primeir o ciclo para o segundo ciclo, algo que só seria justificável se o modelo do primeiro ciclo tivesse um grande sucesso, o que não ocorre».

Por seu turno, o parecer global da UC considera a opção por professores generalistas no II ciclo como «um erro estratégico que conduzirá, a curto prazo , a consequências preocupantes, nomeadamente por se traduzir na perda de qualidade desse mesmo ensino».

«É sabido que duas das mais sérias deficiências na formação actual dos nossos jovens se verificam na Matemática e no Português. Deveria ser, por isso, objectivo prioritário investir fortemente em ambas essas áreas. Ora, presumir qu e o docente que ensina Português possa também ensinar Matemática conduzirá neces sariamente à situação oposta» , é sublinhado na posição da Universidade de Coimbra.

Segundo este documento, «exigir idêntica formação para educadores de infância, professores do 1º ciclo e professores do 2º ciclo seria regressar a um modelo que provou já a sua ineficácia há largos anos, quando essa era uma solução de recurso em zonas desfavorecidas e que ficou conhecida como 6ª classe».

Sem comentários: