quinta-feira, novembro 22, 2007

Os professores e os prémios de consolação

Quem esteve na sala onde foram entregues os prémios para os melhores professores do ano lectivo de 2006/ 07 pôde testemunhar um estranho cheiro a queimado. Tal não se deveu a uma experiência no âmbito da Físico-Química, mas sim ao lume pouco brando em que a ministra da educação tem vindo a sacrificar os docentes.
Na sua melhor toilete, a Sr.ª Maria de Lurdes Rodrigues levou a cabo mais um dos seus Autos-de-Fé. A ministra e o seu secretário de estado – Valter Lemos - pontificaram em mais um tribunal do Santo Ofício. Eles não estavam ali para condecorar professores, mas sim para amesquinhar a imensa maioria dos não condecorados. É inegável a capacidade pedagógica dos docentes que receberam os prémios, mas foi pena que no seu discurso não tenham dito à ministra onde é que podia tentar lavar as mãos, como Pilatos. O que a ministra fez foi dar os louros aos “generais” desta batalha do ensino em Portugal. Então e os soldados desconhecidos?
Na cerimónia, Daniel Sampaio soltou um discurso no qual alertava (quem?) para a fatiga e desmotivação dos docentes. Naquele contexto, mais parecia uma extrema-unção. O professor bem podia ter prestado um bom serviço aconselhando o irmão Jorge, que, enquanto Presidente da República, proferiu uns quantos dislates sobre o ensino, comparando (muito negativamente) os professores portugueses relativamente aos finlandeses; afinal, foi o mesmo que procurar as diferenças entre trabalhar no Parque Mayer e na Broadway.
Os galardões atribuídos na festinha da ministra tinham designações que colocaram o certame ao nível de uma cerimónia de eleição da “Miss Portugal”, ou dos “Globos de Ouro”. Para o ano que vem, a ministra podia atribuir os seguintes prémios: Prémio Tiro-ao-Alvo (para distinguir o professor que mais desaforos ouviu durante o ano); Prémio Papa-Kilómetros (para o que percorreu mais kilómetros em serviço); Prémio Saco de Pugilista (para premiar aquele que mais vezes foi agredido por alunos e encarregados de educação); Prémio Ansiolítico (para distinguir o docente que, de entre milhares, mais tem ajudado a indústria dos anti-depressivos a florescer); e, por fim, o mais aguardado de todos, o Prémio Junta Médica (destinado a condecorar o docente que “chumbou” em junta médica com o maior número de maleitas).
Já que a senhora ministra anda empenhadíssima em distribuir prémios, Maria de Lurdes Rodrigues bem podia instituir um outro, para galardoar o membro do seu séquito burrocrático e socretino que tenha mais experiência de leccionação no ensino básico ou secundário. Bem vistas as coisas, provavelmente o condecorado seria mesmo Valter Lemos, com os seus respeitosos anitos de (in)experiência docente no ensino não universitário. A ser atribuído a esse senhor, talvez pudesse designar-se Prémio Professor Meteorito, tal foi a pressa com que este prestimoso secretário de Estado abandonou o ensino secundário. O homem é “boy”, mas não é burro! Marrou os calhamaços Blá-Blá das Ciências (inexactas) da Educação e levantou voo. (Ala, que se faz tarde!).
Até à fogueira do ano que vem, Sr.ª ministra. (Aproveite, porque não vai presidir a muitos mais Autos-de-Fé).

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