quarta-feira, dezembro 20, 2006



O que pensam os mais novos sobre a sua qualidade de vida?

Teresa Sousa 2006-12-19

As crianças e adolescentes portugueses têm uma boa percepção sobre a sua qualidade de vida, nas dimensões da família e dos afectos. Menos positiva é a visão que têm da escola.
As crianças portuguesas vêem-se a si próprias positivamente ao nível dos sentimentos, da família e da provocação, ou seja, da não violência. Menos optimista é a sua visão sobre a escola e a aprendizagem escolar. Pela primeira vez em Portugal, avaliou-se, através de um questionário transcultural, a opinião que os mais pequenos têm sobre a sua própria vida e dos pais sobre a qualidade de vida dos filhos. O estudo da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa da Universidade Técnica de Lisboa (FMH/UTL), no âmbito do projecto Kidscreen e integrado no Aventura Social, foi hoje divulgado. De uma forma sintética e quase caricatural, poder-se-á perspectivar assim o cenário mais optimista sobre as crianças portuguesas: "O facto de ser rapaz, ser criança, ter o estatuto socioeconómico médio/alto, ter nacionalidade portuguesa (em oposição a crianças e adolescentes migrantes), ter sucesso escolar e não ter doença crónica, leva a uma percepção da qualidade de vida mais positiva", resumiu, ao EDUCARE.PT, Margarida Gaspar Matos, psicóloga e coordenadora do projecto Aventura Social. O estudo "Qualidade de vida em crianças e adolescentes" faz parte de um objectivo mais amplo de encontrar, no conjunto da Europa, instrumentos estandardizados de avaliação. Em Portugal, foi seleccionada uma amostra aleatória a nível nacional de alunos entre o 5.º e 7.º anos de escolaridade.O pressuposto científico de que as crianças e adolescentes têm algo a dizer sobre a sua vida e de que estes dados subjectivos devem ser levados em conta é matéria de investigação recente. Em Portugal, pela primeira vez, a FMH aplicou um inquérito transcultural que, em simultâneo, dá a conhecer a visão dos pais e dos filhos sobre a sua qualidade de vida.Os resultados obtidos ajudam a entender o que é que as crianças e adolescentes pensam sobre as suas vidas, concluindo-se que a escola é percepcionada negativamente, enquanto que o bem-estar, a família e a não-violência estão a uma escala superior. Isto no geral. Afunilando a observação, descobrem-se as diferenças. "As meninas têm uma percepção pior que os rapazes da qualidade de vida excepto nas questões ligadas à escola", exemplifica a investigadora. Já os mais velhos têm uma imagem mais negativa da qualidade de vida, excepto nas questões relacionadas com a violência. Depois, surgem os nichos. Os investigadores seleccionaram, deliberadamente, na amostra, sete escolas economicamente desfavorecidas da zona da Grande Lisboa, no sentido de avaliar a percepção das crianças dos Países Africanos de Expressão Portuguesa. Nestes grupos, a noção de qualidade de vida e saúde não é tão positiva. Da mesma forma, também as crianças com doenças crónicas apresentam dados distintos da maioria dos inquiridos.E como é que os pais portugueses vêem a qualidade de vida dos seus rebentos? "Os pais sobrevalorizam a qualidade de vida dos filhos, com excepção das questões económicas e dos amigos, em que os filhos têm uma opinião mais favorável", adiantou a psicóloga. Apesar disso, de uma forma global, o estudo reflecte uma correlação positiva entre a percepção dos pais face à qualidade de vida dos filhos e a percepção dos filhos face à sua própria qualidade de vida.Agora que os primeiros dados são tornados públicos, o grupo de investigação espera que os seus resultados sejam utilizados no âmbito da investigação em psicologia da saúde. Margarida Gaspar Matos sugere a realização de grupos de discussão com os vários actores envolvidos - pais, professores, crianças, profissionais da saúde. "Com a informação e conhecimento alcançados torna-se viável propor boas práticas e intervenções tendo em conta as características e necessidades específicas", acrescenta.A versão integral deste estudo pode ser consultada em: http://www.aventurasocial.com/

Sem comentários: