sexta-feira, março 02, 2007

Professores vivem com medo


Crianças nos bairros do Porto crescem em ambientes onde reina a violência e não aprendem a respeitar professores ou colegas. Na escola, agressões verbais são as mais frequentes, mas muitas vezes também há violência física


«Crianças agressivas, habituadas a ambientes familiares onde tudo é resolvido com violência e agressões e que são capazes de agredir os professores e os funcionários». Este é o perfil traçado por uma professora que conhece bem as escolas do 1º ciclo dos bairros do Porto.
Em declarações ao PortugalDiário, Helena (nome fictício) conta que os próprios pais «são pessoas que se sentem discriminadas socialmente e, por isso, torna-se necessário os professores "descerem" para falarem com eles».
Mas é difícil seguir este procedimento e Helena conhece casos de vários professores que foram agredidos em escolas dos bairros sociais do Porto e de outros que tiveram de chamar a polícia e ter protecção policial, após terem recebido ameaças. No ano passado, conta, «houve um aluno que partiu um dedo a um professor», e uma funcionária violentamente agredida. Até os seguranças vivem com medo.
«É muito difícil dar aulas nestes locais e medo é mesmo o sentimento mais comum entre os docentes», conta Helena.
Crianças não aprendem a respeitar a escola
«São escolas que estão inseridas em comunidades com problemas sociais profundos. As crianças vêm de famílias desmembradas ou têm ambos os pais desempregados. A última coisa que preocupa estes encarregados de educação é ensinar aos filhos a respeitar os valores da escola», diz ao PortugalDiário Rui Santos, dirigente do Sindicato de Professores do Norte (SPN) e docente numa das escolas do agrupamento de que faz parte a escola primária do bairro do Cerco onde na passada segunda-feira uma professora foi agredida pela mãe de uma aluna.
«As crianças são o reflexo dos pais. Se uma mãe toma uma atitude como estas, como é possível esperar que o filho respeite os professores, os funcionários ou mesmo os colegas?», questiona o docente.
Agressões verbais são as mais recorrentes
O representante dos professores do Norte lembra uma situação, no «ano passado, em que um aluno agrediu um professor». Garante que «agressões físicas não são recorrentes, mas a agressão verbal é diária».
«Todos os anos tenho colegas muito abalados pela impossibilidade de dar uma aula em clima de tranquilidade. Às vezes temos mesmo de pedir a intervenção da Direcção Regional de Educação do Norte», conta.
O docente explica que estes alunos «crescem no meio de graves problemas sociais e tendem a agrupar-se, faltam às aulas e têm comportamentos desviantes. Alguns estão mesmo referenciados no Tribunal de Menores».
«Qualquer dia tomamos apenas conta dos alunos
«Se não são tomadas medidas para resolver a situação, qualquer dia tomamos apenas conta dos alunos, porque torna-se impossível cumprir a nossa função de os ensinar e educar», diz Rui Santos. «O Ministério da Educação tem de agir. As prioridades não estão a ser ponderadas».

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