terça-feira, outubro 24, 2006

linha SOS PROFESSOR



Professores que pedem ajuda
Marta Rangel
24.10.2006

A Linha SOS Professor existe há um mês e tem recebido, em média, 7 a 8 chamadas por dia. As queixas mais frequentes são de indisciplina e violência dentro da sala de aula.
808 962 006 é o número que um professor ou educador de infância deve ligar se precisar de apoio ou aconselhamento em situações de violência e indisciplina no meio escolar, ameaças ou qualquer tipo de situação que cause constrangimentos à sua actividade profissional. O contacto pode também ser feito por correio electrónico ( sosprofessor@anprofessores.pt ) ou através do correio tradicional (SOS Professor, Associação Nacional de Professores - Rua do Breiner, n.º 65, 1.º dto.; 2050 - 126 Porto).A linha foi criada pela Associação Nacional de Professores (ANP) há pouco mais de um mês e, segundo João Grancho, presidente da ANP, "nas primeiras duas semanas houve um afluxo mais forte à linha", enquanto agora, em média, recebem sete a oito chamadas por dia, para além de cartas e mensagens de correio electrónico. A maioria das queixas dizem respeito a "situações de indisciplina, seja dentro da sala de aula entre os próprios alunos, como também entre alunos e professores ou dentro da própria escola e do seu meio envolvente".Segundo João Grancho, "a irreverência de alguns alunos, a má-educação e a agressividade determinam climas de conflitualidade" que fazem com que exista "uma linha cada vez mais ténue entre indisciplina e violência". Alguns docentes chegam mesmo a passar por depressões e pedem ajuda à linha SOS já numa situação-limite: "Temos professores que nos ligam antes de entrarem ou dentro da própria sala de aula a dizer que se sentem condicionados para enfrentar a turma porque já não encontram respostas para a atitude de indisciplina dos alunos", explica o presidente da ANP.Mas os problemas não surgem só no contacto com os alunos. À ANP também já chegaram queixas de professores em relação a "ameaças de pais ou encarregados de educação".No que diz respeito ao meio onde se encontra a comunidade escolar, este pode não ser tão relevante como se poderia pensar. Segundo João Grancho, os pedidos de ajuda vêm de todo o lado, pois as situações de desrespeito e violência atingem todo o tipo de escolas: "Já tivemos comunicações de algumas das 32 escolas classificadas pelo Ministério da Educação como sendo as piores, mas também já recebemos de algumas escolas consideradas de referência", esclarece.Os professores são, muitas vezes, confrontados com estas situações, a meio de uma carreira que nunca tinha sido abalada por este tipo de dificuldades. Por outras palavras, na maioria dos casos, não há relação entre a inexperiência dos docentes e a indisciplina dos alunos. Tal como explica o presidente da ANP, "muitas das situações mais graves até ocorrem com professores com muita experiência", ou seja, com "pessoas que toda a vida tiveram uma boa relação com os alunos e que, de repente, se vêem confrontados com um grupo que os impossibilita de dar aulas".Para João Grancho, um dos objectivos da Linha SOS Professor, para além de prestar apoio, é também "criar a convicção na pessoa que liga que a situação não pode ficar impune", ou seja, que tem de fazer queixa às entidades responsáveis. A primeira a contactar é a escola onde lecciona. No entanto, segundo o presidente da ANP, "alguns casos poderão mesmo chegar a tribunal".Encontrar culpados - se é que existem - não é tarefa fácil. No entanto, João Grancho considera que, nos últimos tempos, tem existido "uma desresponsabilização de uma série de actores educativos". Em primeiro lugar, aponta o dedo a algumas escolas que não têm "planos concertados de actuação" e, por isso, "muitos pedidos de apoio que [os professores] fazem à própria escola não têm resposta". Para o presidente da ANP, esta inexistência de "uma educação para uma convivência pacífica nas escolas" deve-se ao facto de os próprios estabelecimentos de ensino considerarem que "ao terem planos desta natureza, estão a assumir que têm problemas". Em segundo lugar, João Grancho considera que as abordagens que têm vindo a ser feitas à profissão, por parte do Ministério da Educação (ME) e dos seus representantes, têm conduzido "à inculpação dos professores como figura central do insucesso dos alunos" e à consequente "fragilização da autoridade do professor". O presidente da ANP dá como exemplo o facto de vir referido na proposta do novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) o reconhecimento da autoridade do professor. Segundo ele, "se vem é porque de facto é preciso proclamar a sua autoridade".

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