quinta-feira, outubro 19, 2006

Literatura Alemã

Um dos maiores mercados editorais do mundo, a Alemanha tem uma literatura expressiva, que vai desde os contos dos irmãos Grimm e os clássicos Goethe e Schiller até Thomas Mann e Günter Grass, dois dos oito prêmios Nobel alemães.

Com cerca de duas mil editoras e mais de 4500 livrarias, a Alemanha tem um dos maiores mercados editoriais do mundo. O número de novos lançamentos cresce a cada ano, tendo atingido cerca de 60 mil títulos em 2002. Com as reedições, o total foi de 78.896 títulos. A maior fatia é de literatura e ficção, com destaque para os livros de bolso. Mas grande também é o volume de livros infanto-juvenis e de não-ficção.

A Feira Internacional do Livro, em Frankfurt, a maior do mundo, é o grande acontecimento anual em torno da literatura. O Prémio Literário Georg Büchner é considerado o mais importante do país. Já o Premio da Paz do Comércio Livreiro Alemão é concedido não apenas a escritores alemães.

O Nobel de Literatura

Uma escritora (Nelly Sachs, 1967) e sete escritores alemães receberam o Prêmio Nobel de Literatura, entre eles:

Thomas Mann (1929) tematizou a criação artística, destacando-se por Os Buddenbrooks, a saga da decadência de uma família, A Montanha Mágica, Morte em Veneza e Tonio Kroeger ;

Hermann Hesse (1946) encantou gerações em todo o mundo com a espiritualidade e a poesia que fluem em Sidarta, O Lobo das Estepes, Demian e O Jogo das Contas de Vidro;

Heinrich Böll (1972) escreveu sobre a guerra e o pós-guerra, tematizando a geração que se criou sem o pai em Onde Você Estava, Adão? e Casa sem Protetor. Humanista e engajado, o autor de A Honra Perdida de Katharina Blum foi considerado "a consciência crítica da Alemanha";

Günter Grass (1999) chocou o mundo burguês em 1959 com O Tambor, em que traça um panorama grotesco dos anos de guerra e pós-guerra. Desenhista e artista plástico, além de grande romancista, escreveu e ilustrou O Linguado e Meu Século, livro em que cada conto representa um ano do século 20.

De Percival ao best-seller de Goethe

A literatura alemã tem uma longa tradição, desde a Canção dos Nibelungos, de autor anônimo, que data aproximadamente de 1200. O texto mais antigo é o Hildebrandslied – por volta de 820 – uma saga heróica dos povos germânicos. O Parzifal, de Wolfram von Eschenbach, e Tristão e Isolda, de Gottfried von Strassburg, são as principais narrativas épicas germânicas da Idade Média baseadas na lenda do rei Artur.

Passada a época dos romances de cavaleiros e do amor cortesão, é só no Renascimento (final da Idade Média) que surge a prosa científica alemã, curiosamente com o monge Meister Eckart. Mas é no advento do Barroco (1600-1720) que o alemão se impõe como língua da literatura erudita, até então escrita em latim.

Os primeiros romances de cunho autobiográfico surgem depois do Iluminismo. Em 1774, Johann Wolfgang von Goethe escreve Os Sofrimentos do Jovem Werther. O romance em forma de carta causou sensação, tornando-se o primeiro best-seller da literatura alemã e provavelmente mundial, levando os mais depressivos entre os leitores a seguir o exemplo de Werther e pôr fim à própria vida.

Friedrich Schiller tematizou o conflito entre o indivíduo e a convenção social em seus dramas e escreveu várias obras juntamente com Goethe. Este fixou os padrões estéticos do Classicismo, sendo considerado o grande gênio da literatura alemã com seus multitalentos.

Dos irmãos Grimm a Kafka e Brecht

Seguiu-se o Romantismo, com Friedrich Schlegel, Joseph von Eichendorff e Eduard Mörike, mas também os contos de E.T.A. Hoffmann e dos irmãos Grimm, cuja obra de literatura infantil é conhecida até hoje. Entre o Romantismo e o Realismo situam-se os poemas políticos e satíricos de Heinrich Heine.


As obras do dramaturgo Georg Büchner influenciaram o Naturalismo alemão, quase na virada do século 20, quando a literatura passou a espelhar as condições de vida nas grandes cidades. Os poemas de Rainer Maria Rilke levaram a lírica a um novo auge e, em 1901, Thomas Mann publicava Os Buddenbrooks, um dos mais importantes romances da literatura alemã.


Franz Kafka – uma obra enigmática cujo significado só foi reconhecido após 1945

Após o Expressionismo de Else Laske-Schüler e Gottfried Benn, o Dadaísmo surgiu como uma reação à Primeira Guerra. À parte das correntes literárias, Franz Kafka escreveu os bizarros O Julgamento (1913), O Processo (1925) e O Castelo (1926), obras cuja importância para a literatura contemporânea só foi reconhecida após 1945.
A nova objetividade dos anos 20, com seu estilo de reportagem, voltou a atenção dos escritores para a atualidade, os temas biográficos e históricos. Ela trouxe expoentes como Lion Feuchtwanger, Franz Werfel, Max Brod, Hans Fallada e Egon Erwin Kisch, apelidado de "o repórter a mil por hora".


Hermann Hesse começou a publicar seus livros que transcendem sabedoria oriental. Alfred Döblin escreveu em 1929, sob influência de James Joyce, John Dos Passos e das técnicas de montagem do cinema, o romance experimental Berlin Alexanderplatz. Enquanto Thomas Mann publicava seu segundo grande romance, A Montanha Mágica (1924), seu irmão, Heinrich Mann, ironizava a obediência cega dos alemães à autoridade e a moral provinciana nas sátiras O Súdito e Professor Unrat.


Bertolt Brecht (Santa Joana dos Matadouros, 1932) desenvolveu o teatro épico com motivação didática, de grande influência sobre o drama, e criou, juntamente com Kurt Weill, uma nova forma de teatro musical com A Ópera dos Três Vinténs.


Nazismo e literatura no exílio

A ascensão dos nacional-socialistas ao poder, em 1933, representou uma profunda cisão na vida literária e cultural da Alemanha, com censura e vigilância de todo tipo de manifestação artística.
Dos que não se curvaram à nova ideologia, alguns preferiram a chamada emigração interior e suspenderam suas atividades literárias. Outros deram as costas à Alemanha nazista, ou foram forçados a deixar o país por sua origem judaica ou suas convicções políticas, como os irmãos Mann, Alfred Döblin e Franz Werfel.

Na França, Suíça e posteriormente nos EUA, surgiu uma literatura no exílio. No combate ao regime de Hitler, ela chegou a recorrer até à propaganda, como documentam os discursos de Thomas Mann transmitidos pela BBC.

Vários escritores suicidaram-se no exílio – Ernst Toller, Walther Hasenclever, Walter Benjamin e Stefan Zweig (em Petrópolis), enquanto outros foram assassinados pelos nazistas: Erich Mühsam, Carl von Ossietzky, Theodor Lessing e Gertrud Kolmar.




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