Com cerca de duas mil editoras e mais de 4500 livrarias, a Alemanha tem um dos maiores mercados editoriais do mundo. O número de novos lançamentos cresce a cada ano, tendo atingido cerca de 60 mil títulos em 2002. Com as reedições, o total foi de 78.896 títulos. A maior fatia é de literatura e ficção, com destaque para os livros de bolso. Mas grande também é o volume de livros infanto-juvenis e de não-ficção.
O Nobel de Literatura
Uma escritora (Nelly Sachs, 1967) e sete escritores alemães receberam o Prêmio Nobel de Literatura, entre eles:
Thomas Mann (1929) tematizou a criação artística, destacando-se por Os Buddenbrooks, a saga da decadência de uma família, A Montanha Mágica, Morte em Veneza e Tonio Kroeger ;
Hermann Hesse (1946) encantou gerações em todo o mundo com a espiritualidade e a poesia que fluem em Sidarta, O Lobo das Estepes, Demian e O Jogo das Contas de Vidro;
Heinrich Böll (1972) escreveu sobre a guerra e o pós-guerra, tematizando a geração que se criou sem o pai em Onde Você Estava, Adão? e Casa sem Protetor. Humanista e engajado, o autor de A Honra Perdida de Katharina Blum foi considerado "a consciência crítica da Alemanha";
Günter Grass (1999) chocou o mundo burguês em 1959 com O Tambor, em que traça um panorama grotesco dos anos de guerra e pós-guerra. Desenhista e artista plástico, além de grande romancista, escreveu e ilustrou O Linguado e Meu Século, livro em que cada conto representa um ano do século 20.
De Percival ao best-seller de Goethe
A literatura alemã tem uma longa tradição, desde a Canção dos Nibelungos, de autor anônimo, que data aproximadamente de 1200. O texto mais antigo é o Hildebrandslied – por volta de 820 – uma saga heróica dos povos germânicos. O Parzifal, de Wolfram von Eschenbach, e Tristão e Isolda, de Gottfried von Strassburg, são as principais narrativas épicas germânicas da Idade Média baseadas na lenda do rei Artur.
Passada a época dos romances de cavaleiros e do amor cortesão, é só no Renascimento (final da Idade Média) que surge a prosa científica alemã, curiosamente com o monge Meister Eckart. Mas é no advento do Barroco (1600-1720) que o alemão se impõe como língua da literatura erudita, até então escrita em latim.
Friedrich Schiller tematizou o conflito entre o indivíduo e a convenção social em seus dramas e escreveu várias obras juntamente com Goethe. Este fixou os padrões estéticos do Classicismo, sendo considerado o grande gênio da literatura alemã com seus multitalentos.
Dos irmãos Grimm a Kafka e Brecht
Seguiu-se o Romantismo, com Friedrich Schlegel, Joseph von Eichendorff e Eduard Mörike, mas também os contos de E.T.A. Hoffmann e dos irmãos Grimm, cuja obra de literatura infantil é conhecida até hoje. Entre o Romantismo e o Realismo situam-se os poemas políticos e satíricos de Heinrich Heine.
As obras do dramaturgo Georg Büchner influenciaram o Naturalismo alemão, quase na virada do século 20, quando a literatura passou a espelhar as condições de vida nas grandes cidades. Os poemas de Rainer Maria Rilke levaram a lírica a um novo auge e, em 1901, Thomas Mann publicava Os Buddenbrooks, um dos mais importantes romances da literatura alemã.
Franz Kafka – uma obra enigmática cujo significado só foi reconhecido após 1945
Após o Expressionismo de Else Laske-Schüler e Gottfried Benn, o Dadaísmo surgiu como uma reação à Primeira Guerra. À parte das correntes literárias, Franz Kafka escreveu os bizarros O Julgamento (1913), O Processo (1925) e O Castelo (1926), obras cuja importância para a literatura contemporânea só foi reconhecida após 1945.
A nova objetividade dos anos 20, com seu estilo de reportagem, voltou a atenção dos escritores para a atualidade, os temas biográficos e históricos. Ela trouxe expoentes como Lion Feuchtwanger, Franz Werfel, Max Brod, Hans Fallada e Egon Erwin Kisch, apelidado de "o repórter a mil por hora".
Hermann Hesse começou a publicar seus livros que transcendem sabedoria oriental. Alfred Döblin escreveu em 1929, sob influência de James Joyce, John Dos Passos e das técnicas de montagem do cinema, o romance experimental Berlin Alexanderplatz. Enquanto Thomas Mann publicava seu segundo grande romance, A Montanha Mágica (1924), seu irmão, Heinrich Mann, ironizava a obediência cega dos alemães à autoridade e a moral provinciana nas sátiras O Súdito e Professor Unrat.
Bertolt Brecht (Santa Joana dos Matadouros, 1932) desenvolveu o teatro épico com motivação didática, de grande influência sobre o drama, e criou, juntamente com Kurt Weill, uma nova forma de teatro musical com A Ópera dos Três Vinténs.
Nazismo e literatura no exílio
A ascensão dos nacional-socialistas ao poder, em 1933, representou uma profunda cisão na vida literária e cultural da Alemanha, com censura e vigilância de todo tipo de manifestação artística.
Dos que não se curvaram à nova ideologia, alguns preferiram a chamada emigração interior e suspenderam suas atividades literárias. Outros deram as costas à Alemanha nazista, ou foram forçados a deixar o país por sua origem judaica ou suas convicções políticas, como os irmãos Mann, Alfred Döblin e Franz Werfel.
Na França, Suíça e posteriormente nos EUA, surgiu uma literatura no exílio. No combate ao regime de Hitler, ela chegou a recorrer até à propaganda, como documentam os discursos de Thomas Mann transmitidos pela BBC.
Vários escritores suicidaram-se no exílio – Ernst Toller, Walther Hasenclever, Walter Benjamin e Stefan Zweig (em Petrópolis), enquanto outros foram assassinados pelos nazistas: Erich Mühsam, Carl von Ossietzky, Theodor Lessing e Gertrud Kolmar.
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