sábado, junho 09, 2007

Portáteis e Internet a baixo custo


Sara R. Oliveira 2007-06-06
Governo compromete-se a generalizar o "consumo" de novas tecnologias a partir de Setembro. Comunidade educativa é a mais beneficiada. Estados Unidos e Inglaterra vivem essa realidade de maneiras distintas.
Mais de meio milhão de portugueses podem beneficiar da compra de computadores portáteis e de acesso à Internet de banda larga a baixos custos. O Governo acaba de anunciar medidas para cumprir a antiga intenção de "democratizar" o acesso às novas tecnologias em áreas específicas. Os principais beneficiários são alunos e professores, bem como os trabalhadores que se encontrem em formação profissional. Esta é, segundo o primeiro-ministro, José Sócrates, a forma de os operadores de telecomunicações se comprometerem com o desenvolvimento de projectos relacionados com a sociedade da informação - tal como tinha ficado acordado depois do licenciamento dos operadores de comunicações móveis de terceira geração.O Governo fala de preços "significativamente reduzidos" a partir de Setembro, mas ainda não é conhecida a quantia atribuída e que será administrada pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. O rendimento familiar é o grande critério para a atribuição do material. E já há pontos bem definidos. Um dos objectivos passa por dotar 240 mil alunos do 10.º ano nos próximos três anos. Os estudantes desse nível de ensino terão um computador portátil gratuito, se beneficiarem do apoio da acção social escolar ou se comprovadamente pertencerem a famílias de baixos recursos económicos. Para o acesso à banda larga, os preços rondam os cinco e os 15 euros mensais. Os restantes alunos podem adquirir um portátil por 150 euros.Os professores do Ensino Básico e Secundário pagam 150 euros pelo computador, com a garantia de desembolsarem cinco euros a menos dos preços praticados no mercado pelo acesso à Internet. Os trabalhadores inscritos no Programa Novas Tecnologias podem usufruir do apoio nos mesmos moldes dos docentes.Com a medida, os computadores passam a ser instrumentos de trabalho nas salas de aula, à semelhança do que já acontece nos Estados Unidos e na Inglaterra. Dois países, duas realidades diferentes.Nos Estados Unidos, por exemplo, a presença dos computadores nas salas de aulas não corre pelo melhor. Há dias, o jornal The New York Times noticiava que vários estudantes da Liverpool High usavam os computadores para alterarem respostas dos testes, fazerem download de pornografia e intrometerem-se nos negócios de empresários locais. Nesse sentido, a experiência de colocar portáteis directamente nas mãos dos estudantes não está a ter bons resultados e é vista como uma distracção ao processo educativo, sem grandes desenvolvimentos ao nível de aquisição de conhecimentos. No passado mês de Abril, o departamento de educação dos Estados Unidos realizou um estudo que acabaria por demonstrar que não havia diferenças ao nível de conhecimentos entre os alunos que utilizaram os computadores oferecidos, em contexto escolar, ao nível da matemática e da leitura, e os que não tiveram acesso a esses equipamentos. O desapontamento começa a subir de tom quando se constata que há escolas que gastam mais dinheiro na reparação dos portáteis do que em ensinar os professores a trabalhar com os novos materiais.Já no Reino Unido, a realidade é um pouco diferente. A BECTA (British Educational Communications and Technology Agency), agência governamental que acompanha o processo de implementação das novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas inglesas, elaborou um relatório sobre o impacto que essas tecnologias estão a ter no sistema educativo. De uma maneira geral, os resultados são positivos. O documento ressalta que as novas tecnologias estão a alterar métodos de aprendizagem tanto do lado dos professores como dos alunos que, em conjunto, descobriram na introdução desses novos mecanismos - portáteis, quadros interactivos e Internet -, um factor positivo, que altera o próprio processo de aprendizagem e motiva quem ensina e quem aprende. A desconfiança inicial dos professores foi substituída pelo optimismo. Os docentes identificam problemas e necessidades e procuram integrar as novas tecnologias em vários campos do saber. Uma tarefa que exige um compromisso da comunidade escolar e uma estratégia governamental planeada para garantir mudanças sustentadas.O estudo da BECTA adianta que há disciplinas que saem a ganhar com a exploração das novas tecnologias, como é o caso das línguas estrangeiras, das artes criativas, das ciências, da História e da Geografia. O recurso a animações ajuda a visualizar outros mundos que até então eram apenas observados no papel. E mesmo os jogos, que poderiam ser motivo de distracção, são aproveitados para estimular o trabalho em equipa e explorar a informação como um processo evolutivo.

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