domingo, março 01, 2009

A culpa morre solteira

"Os alunos não podem chegar às Universidades sem saberem as coisas elementares de Matemática e sem saberem em Português interpretar um texto. Culpa disto como já foi identificado, são as Universidades viradas para o ensino, cujas cadeiras que administram aos candidatos a professor se baseiam nas pedagógicas, em vez de ensinarem as que na verdade são essenciais". ( in comentário ao meu artigo"O direito a aprender")
Encontrar culpados é fácil porque o distanciamento já nos dá a perspectiva do que foi acontecendo ao longo dos anos. Sabemos também que as universidades privadas receberam todos os alunos, com notas baixas e até negativas, que não tinham lugar nas públicas.
Criaram cursos de formação de professores em que o acesso era fácil para os alunos, ficava barato à universidade e satisfazia muita gente no imediato. Não foram só os cursos virados para o ensino que baixaram de exigência, fala-se agora destes.
Mas eu a isso respondo: a lei e os políticos protegeram esse sistema e quem pôde explorou o filão. Foi um negócio com um produto, a educação, que não deveria ter preço e nos deveria envergonhar a todos.
Antes de 74 os candidatos às escolas do magistério primário não podiam ter reprovação nem deficiência em matemática e português no 5º ano do liceu.
Os alunos reprovavam por isso alguns nunca passavam de classe, outros a muito custo faziam a 4ª classe. Os que iam para o liceu e para as universidades tinham o exame de admissão.
A filosofia deste sistema era de exclusão.
O primeiro erro que se cometeu foi o de acabar com o exame da 4ª classe sem, ao mesmo tempo, terem sido implementadas medidas democráticas: turmas pequenas, acompanhamento personalizado por equipas de técnicos aos alunos com dificuldades e esquemas de avaliação diferenciados e responsáveis exigindo a cada um o seu sucesso. Como isso não aconteceu foram passando todos, em avaliações iguais e facilitadas e alguns mal sabiam ler, escrever ou fazer contas.
No 5º ano os professores não ensinavam o que, pensavam, já deveria estar aprendido. Os alunos tinham um monte de negativas no primeiro e segundo períodos e no fim passavam.
No 7º ano acontecia o mesmo: os professores admiravam-se de como lhes chegavam os alunos, davam o seu programa e iam fazendo o que podiam.
No 10º o que pode fazer um professor de português com alunos a soletrar na leitura e a dar erros ortográficos e sintácticos abundantemente?!
Encolhia os ombros e abria a boca de estupefacção. Não estava habituado a ensinar coisas tão básicas e não tinha a possibilidade de fazer um ensino personalizado. Mas como sabiam os conteúdos... passavam! E assim os alunos chegaram às universidades...
Houve e há um desajuste entre a filosofia da educação, a realidade e os objectivos a alcançar.
Aplica-se uma filosofia mista com ingredientes vindos de várias latitudes que não servem a ninguém, nem aos professores que continuam em protesto, nem aos alunos mais desfavorecidos que continuam a ser excluídos, nem ao modelo económico neo-liberal.
Joviana Benedito Profª. aposentada do Ensino Sec. e autora

Sem comentários: