sábado, junho 09, 2007

Com leucemia - Professora obrigada a dar aulas

Uma docente da Escola EB 2/3 de Cacia, em Aveiro, que se encontrava de baixa há cerca de dois anos, após lhe ter sido diagnosticada uma leucemia, foi obrigada pela Caixa Geral de Aposentações a regressar ao serviço para cumprir um período mínimo de 31 dias de trabalho. Manuela Estanqueiro, de 63 anos, tinha pedido para ser aposentada por incapacidade, mas, após uma junta médica realizada em Novembro, não só viu a pretensão recusada como teve a baixa médica suspensa e ordem para voltar ao serviço, sob pena de perder o vencimento. "Sinto-me muito injustiçada. Sei que há quem faça de conta que está doente, mas esse não é, infelizmente, o meu caso", salientou a professora ao CM.

ATESTADO ATÉ NOVA JUNTA

O período mínimo exigido terminou anteontem e Manuela Estanqueiro está actualmente de atestado médico, até poder ir a nova junta médica. "Estes 31 dias foram de extrema agonia e cheguei a desmaiar em plena sala de aula, para além de ter de descansar nos intervalos. Só consegui ultrapassar este sofrimento porque tive sempre o apoio dos colegas, da escola e da Direcção Regional de Educação do Centro." A decisão da Caixa Geral de Aposentações deixou a docente de educação tecnológica "abalada psicologicamente". "Depois de meses de quimioterapia, era o pior que me podia acontecer", diz.Manuela Estanqueiro diz que não a preocupa o facto de lhe recusarem a aposentação – da qual já apresentou recurso – só não entende como a podem considerar capaz para o serviço, quando tem uma doença grave diagnostica. Por causa de tudo isto, viu a baixa revogada, quando "a tinha até Outubro de 2008".
O natural desfecho da história, que permitirá ao ME apresentar uma boa performance na sua forma de gerir os recursos humanos.

Essa professora, a minha colega Manuela Estanqueiro, foi hoje a enterrar às 15.30h no Cemitério de Cacia, em Aveiro. Estou REVOLTADO. Nem sabem o que me apetece fazer. Agora percebo porquê que às vezes lemos nos jornais casos de ajustes de contas a tiro. Por muito menos o fazem, por muito menos.Desculpem a crueldade mas, dizer menos que isto, era lutar contra um sentimento de justiça que me atormenta e é bem mais forte.Estou ENOJADO.ENOJADO!!!!!!!!!!!!!
Francisco (4 de Junho de 2007)

Eu até adivinho a reacção ministerial se, porventura, alguém a inquirisse sobre este tipo de situação.
Fases da resposta:
Não conheço em concreto essa situação.
Como Ministra não me devo intrometer nas decisões funcionamento das Juntas Médicas.
O episódio é dramático do ponto de vista individual mas não é representativo do universo dos docentes, que não sofrem globalmente de leucemia e não morrem todos os dias (suspiro semiaudível)
E o que revolta mais é que este tipo de argumentação é aceite como válido pela opinião publicada mais douta deste país, para quem tudo isto não passa de um pormenor, um rodapé anedótico, tudo alegadamente em função de um bem maior.
Mas quando as pessoas, em concreto, deixam de ser o bem maior de uma sociedade, quer-me parecer que entramos numa esfera de pensamento proto-totalitária em que a vida individual é sacrificável em nome de razões de Estado. Ora quer-me também parecer que essa linha de pensamento é extremamente perigosa. A variadíssimos níveis.

1 comentário:

J. Ferreira disse...

Junta Médica Obriga Professora Com Leucemia a Trabalhar até à Morte.

Vivemos no País não do "SER" mas do "PARECER".
Viver em Democracia não significa viver num Estado de Direito Democrático.
Os nossos políticos deixaram de se reger por princípios do humanismo… Temos na política indivíduos que se especializaram na arte de bem enganar os outros… São todos uns demagogos e uns hipócritas… Tentam fazer crer que se preocupam com as mulheres, chegando ao ponto de exigirem quotas – estúpidas (diga-se!) pois, gostaria de saber o que vão fazer se um dia não houver mulheres que queiram fazer parte desta hipocrisia e se deixem de interessar por esta forma estúpida e cega de fazer política e governar o país! – mas permitem que e obrigue a “morrer em combate" mulheres com doenças cancerosas. Sim... A “morrer em combate”... Não contra nenhum ser humano (como outros que se julgam heróis por matarem legalmente outros seres humanos) mas contra uma doença sem cura, quase com encontro marcado com a Morte... Não num campo de batalha qualquer mas dentro de uma sala de aula.

Aqui expresso a minha solidariedade para com o legítimo Grito de Revolta que deve inundar toda esta família...

Com efeito, a minha mãe morreu com Leucemia… No tempo da Ditadura… E, por incrível que pareça… tratada, até ao último minuto, com a máxima dignidade. Ainda não tinha 35 anos... Se vivesse numa democracia, governada por indivíduos sem escrúpulos, seria forçada a trabalhar ou a passar fome pois teria de esperar mais 30 anos (se aguentasse!) para ter direito a receber aquilo que de facto é seu: como lhe recusaram uma parte dos descontos por ela efectuados para a CGA … ? Por que motivo lhe retiraram o direito que era seu de poder usufruir daquilo que descontara…? Será legítimo que deputados plenos de saúde acumulem subvenções atrás de subvenções, quando estão ainda no gozo total das suas capacidades de trabalho e ainda por cima acumulam “reformas” com salários chorudos? Como podem maltratar assim as mães portuguesas…? E são estes indivíduos que nos falam da democracia e paridade entre homens e mulheres na Assembleia? Exigiram 1/3 de mulheres nas listas partidárias para candidaturas à assembleia da república...? Como é possível que pretendam assim enganar toda a gente e permitam atitudes nos seus súbditos que fazem isto com as mulheres?

Agora, das duas uma: ou se apuram responsabilidades e alguém é exemplarmente punido pela incompetência (e por que não, posto na rua como fizeram com outros professores na DREN por um simples delito de opinião!), ou então fica mais que provado que o governo já elegeu a sua nova estratégia que, ironicamente, recomendáramos há tempos para sanear a Segurança Social:
É muito triste que estejam a governar-nos indivíduos com este tipo de incoerência e uma insensibilidade humana, que vai muito além da cegueira física: é uma cegueira económica! Depois multam-nos por não usar o cinto pois pomos em risco a nossa vida!
Querem eles lá saber da nossa vida… Eles querem, pura e simplesmente, o dinheiro das multas…

Estamos seguros que, numa operação de charme, teremos estes irónicos políticos (a que já nos habituaram com o deserto no sul!) a proceder à criação de uma nova medalha para Condecorar Cidadãos a Título Póstumo, à que se poderão candidatar indivíduos com o mais elevado mérito: a "Medalha de Óbito em Serviço"!
E já se imagina que a primeira medalha poderá muito bem ser atribuída a um docente. E, no perfil que será certamente traçado pelos nossos governantes, Manuela Estanqueiro, obrigada pelos médicos (funcionários de instituições superintendidas pelo Governo?!) a trabalhar até aos últimos com 63 anos apesar de ter confirmada uma leucemia há cerca de um ano, estará, certamente, muito bem posicionada para receber tal medalha. O problema dela será que não poderá nunca ver a sua cor!

E para os que se queiram candidatar a esta medalha, preparem-se para nunca faltar ao trabalho, mesmo que estejam cancerosos ou leprosos: o critério mais importante será, certamente, ter contribuído para sanear as finanças da CGA e assim garantir que os senhores deputados da nação terão, nos próximos anos, garantia de receberem as suas chorudas subvenções!

Indignação? Revolta? Nenhuma palavra é suficientemente forte para expressar o que nos vai na alma!