sexta-feira, outubro 26, 2007

Um ano de leituras


Joana Silva Santos 2007-10-22
Lançado há um ano o Plano Nacional de Leitura está em análise na Fundação Calouste Gulbenkian. No futuro pretende-se consolidar o trabalho e concretizar novos projectos.
"Para nós, Plano Nacional de Leitura, o balanço é muito positivo." É assim que Isabel Alçada, Comissária do Plano Nacional de Leitura (PNL), faz o balanço de um ano de trabalho em nome da promoção da leitura. "Houve uma grande adesão de escolas, bibliotecas, da sociedade civil em geral e tivemos diversos apoios", justifica. Os elementos divulgados no relatório no primeiro ano do PNL parecem confirmar o balanço feito por Isabel Alçada. Um milhão de crianças, entre o pré-escolar e o 2.º ciclo, foram abrangidas por actividades diárias de leitura orientada. Quase 9000 escolas e jardins-de-infância registaram-se no PNL. Cerca de 1300 escolas participaram na "Semana da Leitura". Foram recomendados pelo PNL 643 títulos para leitura nas salas de aula e para leitura autónoma. Mais de 7000 escolas e 20 000 crianças e jovens dos vários níveis de escolaridade participaram em diversos concursos e passatempos de leitura. Foram registados mais de 130 projectos de promoção da leitura.Ainda assim, Isabel Alçada reconhece que, quando se está envolvido num projecto, "somos tentados a avaliar de acordo com as nossas expectativas positivas a adesão dos participantes". Por isso mesmo salienta que uma coisa é o balanço de quem está envolvido na execução do plano e outra é o balanço exterior. Mas este também foi feito e será apresentado no final da primeira conferência do PNL que começa hoje na Fundação Calouste Gulbenkian e tem como tema "A leitura em Portugal: desenvolvimento e avaliação".Isabel Alçada prefere não avançar com resultados desta avaliação mas adianta que para o PNL este estudo "é uma segurança". "Desde o início que consideramos essencial que o plano tivesse um estudo de avaliação. Ao longo deste período a equipa que faz as avaliações acompanhou o trabalho, fez estudos de caso e vai fazer um balanço a partir de dados objectivos e inquéritos sobre a adesão e desenvolvimento do PNL", explica.A complementar esta avaliação estão também estudos sobre os hábitos de leitura dos portugueses em geral e da população escolar; os instrumentos de avaliação da leitura e a promoção da leitura nos países da OCDE, que Isabel Alçada considera essenciais. "São importantes porque estamos a estabelecer pontos de partida. São plataformas a partir das quais o PNL se pode desenvolver. Dizemos como está o país no momento em que se lança o PNL, explica. Além disso, salienta, "a partir do "retrato" que estes estudos vão traçar podemos ter mais segurança na acção que estamos a desenvolver". E para quem pensa que estes estudos deveriam ter surgido antes do lançamento do PNL, Isabel Alçada tem uma justificação simples. "Achámos que não devíamos esperar por estes estudos para começar porque já perdemos muito tempo", argumenta a comissária.Quanto a expectativas, Isabel Alçada garante que para o futuro é essencial consolidar o trabalho. "Temos de procurar integrar o que se revela como boas práticas e rejeitar o que não tem dado resultados. É preciso consolidar as orientações que temos e não sermos tentados a descansar sobre os resultados. Temos que ter um trabalho de continuidade pela consistência e sustentabilidade do projecto", afirma.Ampliar o programa é outro dos objectivos e surgem também diversas hipóteses de lançar outras iniciativas o que, para Isabel Alçada, "é uma tentação enorme". Para o ano já está programado trabalhar também com o 3.º ciclo sendo que algumas escolas serão financiadas para leituras orientadas na sala de aula. Está ainda previsto o lançamento de um outro projecto com centros de saúde. "A proposta partiu de médicos de clínica geral que gostariam de ter à sua disposição material para poderem recomendar aos jovens casais para lerem às crianças desde que nascem", adianta Isabel Alçada, salientando que, "quanto mais cedo começar a promoção da leitura, maiores são as perspectivas da continuação da leitura".Para a comissária do PNL, todos os projectos de promoção de leitura são bem-vindos e importantes. "Quantos mais surgirem melhor. O PNL definiu linhas de orientação e pode agora ser articulado com uma série de projectos e tornar-se mais rico", conclui.Lançado no dia 1 de Junho de 2006, por iniciativa dos ministérios da Educação e da Cultura e do ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, o Plano Nacional de Leitura recebeu o alto patrocínio do Presidente da República e de Maria Cavaco Silva. Para participar na I Conferência do PNL, que decorre entre hoje e amanhã, foram convidados especialistas de várias universidades estrangeiras. Wendy Griswold, da Northwestern University, EUA, Scott Murray, da Universidade de New Brunswick, Canadá, Helena Bomey, da Escola de Ciências Sociais do Brasil, e José Morais, da Universidade Livre de Bruxelas, são alguns dos conferencistas convidados a reflectir sobre o tema num contexto internacional.Personalidades como Roberto Carneiro, Júlio Pedrosa, António Nóvoa, Manuel Villaverde Cabral, David Justino e Carlos Reis irão animar os debates, assim como vários membros do Conselho Científico do Plano Nacional de Leitura.

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