terça-feira, outubro 16, 2007

Abordagem inovadora de avaliação


Sara R. Oliveira 2007-10-15

A Escola Superior de Educação de Beja coordena projecto que sugere modelo descentralizado de avaliação do desempenho de professores.
O professor como actor principal da avaliação do seu próprio desempenho profissional. A sugestão é apresentada no Manual de Implementação do Modelo de Avaliação de Competências para Professores e Educadores, ferramenta que surge no âmbito do projecto TEVAL - Modelo de Avaliação das Competências Práticas de Professores e Formadores, coordenado pela Escola Superior de Educação/Instituto Politécnico de Beja, numa iniciativa que envolveu vários especialistas na área e docentes de Portugal, França, Grécia, Alemanha, Estónia e Reino Unido, entre 2005 e 2007. Este modelo sistemático para a identificação de competências profissionais, e que lança bases para um processo inovador, enquadra-se no projecto Leonardo da Vinci. "É uma proposta inovadora para avaliação de competências de professores e educadores", avança Clara Rodrigues, investigadora do projecto TEVAL. "O professor tem de ser o principal agente da sua avaliação, o principal actor deste processo", concretiza. Para que assim se possa responder a dois objectivos considerados importantes: "à aprendizagem do próprio professor no seu desenvolvimento profissional" e à regulação do sistema "providenciando informações relevantes", que sustentem decisões importantes no percurso profissional do educador.O manual não quer ser formal ou restritivo de procedimentos, mas sim sugerir e propor caminhos para que a avaliação do desempenho dos professores seja feita o mais próximo possível das necessidades e actividades da organização onde se inserem. "É uma abordagem diferente do que actualmente é implementado". Uma abordagem que se quer descentralizada. O manual foi já apresentado ao Ministério da Educação que, eventualmente, poderá recolher algumas das ideias propostas. "A intenção do Ministério da Educação centra-se na observação do desenvolvimento profissional dos professores. No entanto, o Ministério tem muitas limitações ao implementar isso porque parte de uma análise feita à distância", repara Clara Rodrigues.Todo o trabalho de avaliação proposto pelo novo manual é feito em "colaboração com uma equipa de avaliação formativa que trabalhe na organização". "O professor é integrado na organização - escola ou centro de formação - dentro de um grupo de área formativa que acompanhe constantemente o seu trabalho". Esta equipa deverá ser constituída por um representante dos órgãos de gestão; dois ou três colegas, se possível do mesmo departamento disciplinar do docente; um avaliador externo; um aluno que represente uma turma do professor; e ainda alguém que represente a comunidade em que a organização está implementada. Isto porque, realça a investigadora, "o estatuto do professor trespassa a organização e tem algum impacto nas famílias". O manual sugere ainda a realização de dois cursos de formação tanto para os responsáveis pelo processo de avaliação, bem como para os professores avaliados."Uma vez constituído o grupo de avaliação, o professor cria o seu próprio perfil profissional para as diferentes áreas de intervenção." Ou seja, "descreve as suas capacidades actuais e as que prevê que sejam atingidas". É assim que é construído o portefólio de avaliação pessoal que integrará um conjunto de material demonstrativo do trabalho efectuado. O portefólio pode incluir a planificação de aulas, relatórios de projectos educativos desenvolvidos, filmes ou apresentações multimédia, inquéritos feitos aos alunos ou às famílias sobre a satisfação em relação ao desempenho, entre outros documentos.O grupo reúne-se sempre que se justifique para que o professor seja avaliado por si próprio e pelos membros da equipa. A avaliação é qualitativa, mas o manual do projecto TEVAL deixa a análise quantitativa em aberto, ou seja, à consideração dos responsáveis pelos espaços escolares e de formação. "O manual pode ser consultado e utilizado como uma ferramenta e instrumento de avaliação do próprio desempenho dos professores e formadores, funciona como uma auto-avaliação", reforça Clara Rodrigues. "Nos sistemas de avaliação actualmente utilizados há certas lacunas. Nos países anglo-saxónicos, esses sistemas são feitos por objectivos, por competências. Nos países latinos, há uma cultura para o desenvolvimento profissional que, no fundo, é baseada em instrumentos de reflexão, mas não muito operacionalizados".A segunda fase do projecto TEVAL passa por aplicar o modelo proposto em diversas instituições portuguesas e nos países que aderiram à iniciativa, abrangendo ainda a Polónia e a Itália. "Para verificar se funciona na prática", explica Clara Rodrigues. Esta fase inclui ainda a formação dos professores que irão para o terreno. Para isso, foi já apresentada uma candidatura à Comissão Europeia. Mais informações: www.teval.eu/

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