sábado, outubro 20, 2007

Educação: Especialista norte-americano desaconselha Governo português a introduzir calculadoras na primária

20 de Outubro de 2007, 19:13
Lisboa, 20 Out (Lusa) - O norte-americano que criou o conceito dos ginásios de Matemática desaconselhou hoje o Governo português a introduzir o uso de calculadoras desde o primeiro ciclo, como está previsto na proposta de alteração ao programa da disciplina.
Em entrevista à agência Lusa, Larry Martinek, fundador da Mathnasium, uma rede de centros especializados no ensino da Matemática frequentada por quase 14 mil crianças e jovens em mais de 70 países, considerou que o uso de calculadoras nos primeiros anos de escolaridade "ameaça a destreza mental e a capacidade de cálculo dos alunos".
"Muitos estados norte-americanos adoptaram o uso de calculadoras logo na primária e, passado uns anos, acabaram por abandonar essa ideia porque descobriram que as crianças deixaram de ter a percepção dos números. Infelizmente, se adoptarem essa medida em Portugal vão chegar à mesma conclusão e perceber que é um erro", alertou o especialista, um dos participantes no programa federal norte-americano para a reforma do ensino secundário.
Em Portugal, a proposta para o reajustamento do programa da disciplina, cuja fase de discussão pública terminou no início do mês, estipula que, "ao longo de todos os ciclos, os alunos devem usar calculadoras e computadores na realização de cálculos, na representação de informação e na representação de objectos geométricos".
"A longo-prazo, isso levará a resultados que o Governo português não está à espera", assegurou Larry Martinek, que hoje se encontra em Lisboa para participar numa conferência sobre "O Segredo da Matemática".
Para o especialista, há um problema internacionalmente generalizado com o ensino da disciplina, sendo necessário "voltar ao básico" e insistir sobretudo na compreensão e interiorização das operações mais simples.
Por isso, nos milhares de centros Mathnasium em todo o mundo e nos quase 50 existentes só em Portugal a ideia não é explicar aos alunos a matéria curricular relativa ao ano de escolaridade que frequentam, mas trabalhar com eles "a partir do ponto em que perderam o comboio".
O conceito passa por mostrar que por trás das operações mais complexas, há sempre muitas outras até chegar aos raciocínios mais simples. A ideia é "descomplicar".
Os jogos de tabuleiro que estimulam o raciocínio como o xadrez ou as damas, jogos com figuras geométricas como o Tangram (constituído por sete polígonos a partir dos quais é possível formar diversas figuras) ou outros à base de números são alguns dos instrumentos utilizados nestes centros criados pelo especialista, onde computadores e calculadoras não entram.
"É preciso parar o mundo durante umas semanas e voltar ao básico. À adição, à subtracção, à multiplicação. É fundamental que os alunos comecem a pensar numericamente, que ganhem o sentido do número", defendeu Martinek.
JPB
Lusa/Fim

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