terça-feira, outubro 10, 2006

Os cavalos também se abatem

“Os cavalos também se abatem”, porque não os professores? Aliás, qualquer sociedade dita civilizada, cosmopolita, adiantada, progressiva, europeia, universalista, devia fazer do fuzilamento uma prioridade e do fuzilamento de professores a prioridade máxima. Trata-se de um imperativo, de um desígnio nacional à volta do qual todos os portugueses se devem unir ou, no mínimo, entender. Arranjar-se-ia, assim, uma plataforma comum, um factor de união exaltante e exacerbado para vazamento de entulho e de “engulhos”, engasgamentos e recalques. Que se passa? Os psiquiatras não dão consultas? Os psicanalistas estão caros até para as elites? Será alguma directiva comunitária que desconheçamos? Depois de semelhante desatino, parece lícito pensar que não foram só as crianças da Casa Pia que sofreram maus tratos, que as infâncias douradas da nossa elite impensante terá muito de marquês de Sade, muito de castração, muito de trauma, muito de humilhação. Talvez por isso, frustrados, mimoseiam-nos com o insulto que é a arma de quem não consegue argumentos. Talvez por isso, no descontrolo da exibição narcisista, fazem do insulto vómito do que julgam demonstração de “beaux esprits”. Pequenos salvadores de bairro, dissertam sobre tudo, são especialistas em tudo, arvoram o ar superior de infinita sapiência à maneira de um novo-rico que exibe fortuna recente, na parolice do ridículo. No marketing desenfreado do ego, parece valer tudo, até a exibição da mesquinhez e da vacuidade irresponsável. Prefiro a Hola ou mesmo a Caras. Não que sejam melhores, mas porque são mais honestas, não escondem o que são – coisas de consumo rápido e tão descartável como é descartável este “glamour” intelectualóide .
Como poderiam, deste modo, defender os velhos autores? Primeiro, é sabido que estão mortos. Depois, se as memórias são más, é da maior conveniência apagá-las. Apague-se Camões, Vieira, Pessoa, passe-se um “deleet” sobretudo sobre Bocage e mais ainda em cima de Gil Vicente, que encontraria aqui “pano para mangas” com novos (velhos?) “tipos” sempre na moda. Ostracize-se Eça de Queirós que permanece perigoso pela ironia inteligente, esqueçam Torga, Agustina, Saramago, D.Dinis, Fernão Lopes, Tolentino, Mário de Sá Carneiro, Garrett e restantes miseráveis que se atreveram. Apague-se o país, o rasto dele. E naveguemos na “jangada” ao sabor da corrente imprevista.
Todavia, primeiro, primeiro, enfiem-se os professores no Campo Pequeno, todos os professores de todos os graus de ensino sem excepção, sem dó nem piedade que não estamos em nenhuma recolha para o “Banco Alimentar”. Recriem-se os fuzilamentos de Goya, porque, caramba, temos estilo !!!


m.j.s.

Sem comentários: