quinta-feira, dezembro 07, 2006

O problema não é o que funciona mal, mas saber o que funciona bem


Deu aulas durante 30 anos e já publicou 76 obras relacionadas, sobretudo, com educação. Admira a escola, na sua essência, e acredita nas capacidades dos alunos. Álvaro Gomes aponta aquilo que, na sua opinião, não está bem no ensino: por exemplo, a introdução da TLEBS e publicação de rankings.

Álvaro Gomes foi professor durante 30 anos. Deu aulas de Metodologia do Ensino e Metodologia da Formação na Universidade do Minho e foi autor de programas de Linguística para universidades portuguesas e estrangeiras. Foi vice-presidente internacional da Associação Europeia de Professores e já publicou 76 obras que se debruçam sobre temas como a educação, a retórica educativa e a comunicação.A sua experiência leva-o a ver o Ensino de forma crítica, mas não pessimista. Aponta os erros, mas também apresenta possíveis soluções. Na sua opinião, a nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) pode desencadear "graves problemas de aprendizagem" nos alunos, ao mesmo tempo que dificulta o trabalho de professores e de pais que acompanham os filhos no estudo. No entanto, para Álvaro Gomes, a escola, enquanto instituição, deveria ser considerada "a mais importante das sete maravilhas do Mundo". Para ele, os alunos devem ser vistos como indivíduos e não como um todo. Só não suporta que se façam rankings de escolas e do aproveitamento dos alunos: para ele, é o mesmo que fazer corridas, "baralhando bicicletas, skates, ferraris, helicópteros, aviões a jacto".. Educare.PT: Concorda com a entrada em vigor da nova Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS)?Álvaro Gomes (AG): A ciência é dinâmica. A linguística, em especial, é um fascínio e as suas várias perspectivas constituem focos iluminantes, cuja operacionalização, mesmo aos níveis educacionais mais jovens, se pode revelar extremamente fecunda. Mas a questão não é essa. O terramoto que esta TLEBS suscita situa-se, entre outros, nos planos pedagógico e didáctico. De facto, se uma experimentação controlada e paulatinamente experimentada poderia desvendar fecundos resultados, esta tempestade linguística pode provocar "alergias" de que poucos se curarão. Se tenho publicamente mostrado sérias reservas, não é apenas por (discutíveis) opções no plano científico (também o é). Mas é, sobretudo, por um conjunto de contra-indicações: pedagógico-didácticas, institucionais, económicas e político-culturais, contra-indicações que tive ocasião de explicitar noutros contextos.Se, aqui e agora, me limitar às primeiras, considerando que estamos perante crianças e jovens adolescentes, poderemos estar a desencadear graves problemas de aprendizagem. Mas há também a questão do ensino, porque os professores, genericamente, e apesar das boas vontades, não me parece estarem preparados para tal operacionalização. Receio que possamos estar perante um grave equívoco. E os argumentos que frequentemente ouvimos da parte de certos responsáveis (por exemplo, da Associação de Professores de Português) são, pelo menos, inquietantes.E.: Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português (APP), referiu existir uma "confusão" nas terminologias usadas em diferentes escolas. Considera que também existia esta confusão ou que será instalada agora com a introdução da TLEBS?AG: A APP, associação a cujo nascimento assisti, na década de 70, tem tido, nesta questão, uma posição que consideraria pouco prudente. Não há confusão nenhuma com a terminologia que nos vinha dos anos 60. Confusão, sim -e grave- é a que resulta da precipitada generalização desta "experimentação", sem ter havido uma discussão pública dos resultados de uma "investigação longitudinal", devidamente acompanhada e avaliada.Em intervenção recente na Antena 1, pude alertar para alguns desses problemas. Alguns dos responsáveis vieram, ali e então, reafirmar que a TLEBS era "para professores", confirmando, pois, o que eu próprio havia dito e escrito.A verdade, porém, é que essas vozes esqueceram dois aspectos: de um lado, a prática efectiva nas escolas (os professores, angustiados, buscam, a todo o custo, obras - manuais, gramáticas... - que os libertem dessa ansiedade). E os documentos que pude analisar mostram como o uso da terminologia se processa numa transposição directa (e à letra) de conceitos linguísticos insuficientemente geridos e digeridos. Por outro lado, esquecem a própria designação do documento: não se diz TL (terminologia linguística - ponto final); mas... para os ensinos Básico e Secundário. É aqui que está o problema.Já imaginou o que é pedir a jovens de 12 ou 13 anos que "identifiquem actos locutórios assertivos, directivos, compromissivos; actos perlocutórios...", etc., etc.? Para quê? Esta transposição do terreno universitário para o ensino básico é, simplesmente, obscena. Mas isso já está a acontecer.E.: Disse que a maioria dos professores não estará preparada para ensinar os novos termos linguísticos. E quanto aos alunos, terão mais dificuldades em aprender, tendo em conta que terão de substituir conceitos que conheciam com outros nomes? Os pais, por sua vez, terão mais dificuldades em acompanhar os filhos?AG: Há, felizmente, muitos professores com boa preparação teórica em estudos linguísticos. Há mesmo mestres e doutores nos ensinos Básico e Secundário. Mas, genericamente, a formação de base dos professores de Português é caleidoscópica. E não é uma formação "compacta e ad hoc" que vai superar tais limitações. Mais: a par disso, quantos pais estarão preparados para poderem acompanhar a educação dos seus filhos? Esta TLEBS, ao criar uma ruptura violenta com a formação mais tradicional das famílias, vem colocar uma barreira, que eu diria imoral, agravando, perigosamente, o risco generalizado de insucesso. Ninguém toma medicamentos, mesmo os mais eficazes, de uma vez. Os efeitos seriam letais. Se a nova terminologia -frequentemente apresentada como "remédio"- fosse equacionada com conta, peso e medida; se não fosse aplicada de uma só vez, mas em progressivas fases e apenas em alguns dos seus aspectos (os contributos da Linguística Textual, por exemplo), os alunos poderiam sair largamente beneficiados dessa utilização. No contexto actual, estamos, porém, muito longe disso. A TLEBS surgirá, para grande parte deles, como um grave e inútil obstáculo pedagógico.E.: E no que diz respeito à actualidade da matéria exposta nos manuais escolares, sairá lesada com a entrada em vigor da TLEBS?AG: O que aconteceu já em muitas escolas é que manuais escolares de grande qualidade foram, pura e simplesmente, postos de lado, porque "não respeitavam a nova TLEBS". Ora, é inacreditável que tenham sido rejeitados documentos excelentes em detrimento de obras que constituem uma transcrição apressada, directa e à letra, de conceitos linguísticos, alguns dos quais são conceitos in fieri... (ainda em gestação). E.: Concorda que a TLEBS comece por ser implantada apenas no 3.º, 5.º e 7.º anos de escolaridade?AG: Escrevi, recentemente, que a TLEBS é uma espécie de "sapato de adulto em pezito de criança". Teremos nós o direito de transformar os nossos estudantes em pequenos Gullivers em país de gigantes ou em cobaias profissionais?A par disto, não vivemos o momento mais adequado para promover alterações tão radicais. Os professores estão a atravessar uma fase de profunda turbulência, a todos os níveis da sua profissão. Vêem o seu posto de trabalho em risco; vêem-se humilhados em público e em privado, desde as cúpulas às bases do sistema; vêem-se defraudados nas suas expectativas profissionais; vêem-se violentados na sua dignidade... Sucede que os professores de Português ainda se confrontam com uma outra "espada de Dâmocles" e que tem a ver com a sua imagem, a sua competência, a sua realização. Para aqueles que não se sentem preparados e essa é uma situação mais generalizada do que se imagina - o panorama que vivem é o de terror profissional. Como irão eles aguentar -e durante quanto tempo- uma tal pressão, uma tal instabilidade? Quem ganha com isso? As crianças não são, seguramente, pois elas são as antenas mais sensíveis na captação dos estados de alma dos seus formadores. E.: Esta alteração da terminologia utilizada, de forma a conduzir a uma uniformização, era, na sua opinião, necessária?AG: Os nossos lavradores sabem bem que as enxurradas que se seguem a grandes trovoadas não são propriamente a maneira mais abençoada de irrigar os campos. A chuva miudinha, constante, numa cadência ritmada, persistente oferece-nos garantias de produzir bons frutos. Prefiro, pois, a rega ou a regra "gota a gota". Por que razão seria diferente com a "lavra" dos textos ou da língua...?Por outro lado, esta ideia de uniformização é uma ideia de lastro autoritário, em contradição com um dos aspectos que se enuncia na própria portaria: "linguística descritiva". E.: Já teve oportunidade de afirmar, em exposições suas, que considera que o sistema educativo está em crise. Na sua opinião, o que é que funciona mal?AG: A palavra crise está fundacionalmente relacionada com a ideia de corte, de ruptura, de crivo, isto é, de separação, de escolha. O crivo permite peneirar o grão, separando-o dos elementos inúteis.As crises são, pois, esses crivos, que permitem os grandes momentos de "escolha" e de "recolha", os grandes desafios, as grandes apostas, as grandes decisões. Mas tudo isso tem a ver com dimensões quase imperceptíveis. Nós não vemos o ar e, se alguma vez o "virmos", isso não será bom sinal. É o tempo de estarmos atentos a ângulos em que outros não reparam. Nesse processo repousa a solução dos problemas mais ousados. Num dos livros que publiquei recentemente, mostro como, observando banais fenómenos do quotidiano, podemos encontrar soluções-maravilha (lat. mirabilia: as coisas que são dignas de ser miradas, olhadas). Basta estarmos atentos. O problema não é, pois, aquilo que funciona mal, mas saber o que funciona bem para, por osmose, poder contagiar positivamente todo o sistema.E.: No livro A Aula recusa uma escola centrada "numa base instrumental e utilitária". Considera, por isso, que existe falta de comunicação e criatividade nas salas de aula?AG: A escola não deve ser meramente instrumental. Ela também o é; mas o essencial é que um estudante sinta, ao longo do seu percurso, que é bom estudar porque é bom estudar; é bom saber, porque é bom saber; porque ficamos mais ricos como pessoas, nos planos ético, moral, sensorial, emocional e racional. A questão: "A escola serve para quê?" é, por isso, uma falsa questão. O essencial é sentirmos que "A escola é esse espaço e esse tempo em que, por excelência, nos desenvolvemos como seres humanos e como cidadãos". Tudo o resto vem por acréscimo.E.: Não concorda com a publicação dos rankings das escolas. Porquê?AG: Sendo a avaliação das dimensões mais complexas da educação, é chocante observar como alguns pensadores tudo crêem resolver com a varinha mágica dos "exames". Veja lá que até já vi notas de 8,146, numa escala entre 0 e 20! Como se estivéssemos a cronometrar uma corrida de galgos ou de Fórmula 1. Conhece alguém que coloque numa grelha de partida um 2 CV e um Ferrari, para, depois, os seriar, à chegada? Conhece alguém que faça corridas, baralhando bicicletas, skates, ferraris, helicópteros, aviões a jacto...? Ora, se somos tão compreensivos e tolerantes com as máquinas, por que razão somos tão insensíveis quando em causa estão pessoas? Não será isto obsceno?Alguém se lembraria de fazer um ranking com papoilas, margaridas, amores-perfeitos, rosas ou cravos? Nem tal nos passa pela cabeça, porque o problema é que sabemos estar perante entidades diferentes. Faltam-nos os critérios de partida, de processo e de chegada. Ora, o erro fatal consiste em olhar para os alunos como se fossem uma massa informe. Nós dizemos "os alunos". E a este "os" até chamamos determinantes e artigos e definidos. Mas não; não há alunos definidos numa massa informe. O que há é "um aluno", mais "um aluno", mais "um aluno"... Cada ser é indivíduo. Como nos atrevemos, então, a seriá-los, quando desconhecemos as suas características, os pontos de partida, as condições de funcionamento, etc., etc.? Como podemos colocar tudo num mesmo saco?Já reparou que os próprios resultados se traduzem em notas? Será mera coincidência? Estabelecer rankings é, por isso, algo que pode entusiasmar os tecnocratas, que se contentam com redutores gráficos cartesianos, com ordenadas e abcissas, mas é, seguramente, um mau sintoma civilizacional.Einstein foi, no Secundário, um aluno pouco mais que mediano. Se eu tivesse sido seu professor, não gostaria nada de tê-lo humilhado num qualquer ranking desfavorável... De facto, historicamente, quem terá saído humilhado? Einstein ou os seus avaliadores?Mas o mais funesto nos rankings nem sequer é isso. É que, ao transferir-se para motivações externas o que tem de ser, antes de tudo, uma motivação interna, estamos a dar aos estudantes distorcidos sinais de orientação e um presente envenenado. E.: No livro A Escola discorda dos modelos de escola tradicional e escola nova. Qual é o modelo que propõe?AG: Não é que discorde do paradigma da escola tradicional ou do paradigma da escola nova. Nesse livro, o que faço é revelar algumas das fragilidades de um e de outro, bem como daquela que tem sido designada como escola crítica.Se todas elas têm aspectos positivos e limitações, talvez valha a pena seguir a estratégia da abelha, quando visita flores muito diferentes. Retiremos de cada uma dessas macroteorias o "pólen educacional" que nos convém e podemos ficar seguros de que, da nossa "colmeia pedagógica e didáctica", fluirá um "mel" de primeira qualidade.E.: Então não tem uma visão negativa da escola enquanto instituição?AG: Do que acabo de lhe dizer, bem pode sentir que não. Bem pelo contrário. A escola foi, seguramente, uma dessas invenções-maravilha que os seres humanos, em verdadeiro golpe de génio, souberam desenvolver. Repare que se fala muito das sete maravilhas do Mundo (da Antiguidade), mas a escola nunca aparece nessa lista. Por mim, não teria a menor dúvida em considerá-la como a mais importante de todas.A escola é, com efeito, esse espaço e esse tempo em que podemos conseguir ou aperfeiçoar aquilo que a Natureza não nos concedeu como adquirido ou como definitivo. Por isso, no meu livro A Escola, considero-a como o "Cabo da Boa Esperança" que nos permite ultrapassar as "Tormentas" da vida. A Escola é, a meu ver, essa "arca-da-aliança" mediadora entre a coisa privada e a coisa pública, que as sociedades, em geral, disponibilizam, no sentido de dar as mesmas oportunidades a todos os seus cidadãos. Àquelas cabe garantir tais oportunidades. E a estes cabe não as desperdiçar, pois isso representaria uma perda irrecuperável.E.: Afirma na mesma obra que não pode haver prisioneiros nem ninguém pode ficar à margem. No actual sistema educativo quem são os prisioneiros: professores ou alunos? Considera que são os alunos provenientes de classes sociais mais desfavorecidas que, mais facilmente, correm o risco de ficar à margem?AG: A verdade do nosso quotidiano mostra-nos que a escola pode tornar-se numa malha, numa teia que nos enreda como aqueles pastosos espaços de mar cheios de algas. Se não tivermos as devidas cautelas, apesar da riqueza do iodo, poderemos enredar-nos nelas de tal maneira que os nossos movimentos ficarão neutralizados. Quanto a sabermos quem mais facilmente se deixará enredar (se os professores, se os alunos), talvez essa oposição nem faça muito sentido. Os "pulmões educativos" de uns e de outros são tecidos dos mesmos tecidos e passíveis dos mesmos infortúnios. As algas não seleccionam os seres humanos, que, assim, podem cair nas mesmas armadilhas, nas mesmas limitações. A experiência diz-me, porém, que a juventude dos alunos lhes confere um apurado instinto de sobrevivência. Dir-se-iam inoxidáveis. Em Blues pelo Humanismo Educacional?, cito aquele estudante que dizia: "A escola era péssima; os professores eram péssimos; os programas eram péssimos; os livros eram péssimos. Era tudo péssimo. Ah! Mas eu tramei-os! Eu aprendi!"De uma coisa não tenho dúvida: se os estudantes tiverem um bom hardware pessoal (intelectual, emocional, sensorial), se o software for de qualidade, se se protegerem com alguns airbags de contexto, não terão dificuldades de maior. Mesmo nas condições mais ingratas. Mas não me parece que as crianças que nos chegam de certos guetos sejam as mais bem equipadas em todos esses domínios...E.: E a formação dada aos professores no Ensino Superior é suficiente?AG: Costumava dizer aos alunos finalistas, nos cursos universitários, que se pensavam que estavam "formados", então estavam já "reformados" ou "conformados" com o (pouco? muito?) que aprenderam ou "deformados" com o que pudessem ter desaprendido. Com efeito, um curso é um mero percurso no longo decurso da vida. Por isso, se uma boa formação inicial se revela importante, o que é decisivo é, sem dúvida, uma formação constante, permanente, que se prolongue ao longo de toda a vida.Não conheço ninguém que se tenha alimentado até uma certa altura do seu desenvolvimento e depois tenha dito para consigo: "Estou suficientemente alimentado! Vou parar por aqui!" Se não mantiver as doses equilibradas e diárias, seguramente não se lhe adivinhará um bom fim... Quanto à questão de saber se a qualidade da formação inicial dos futuros professores é ou não é adequada... essa é uma resposta tão abrangente que ficaríamos aqui horas, a conversar. E.: Tendo por base o seu livro A Força da Palavra, considera que a palavra e o discurso predominam mais que os actos nas políticas educativas do actual Governo?AG: O balanço desses pesos e desses contrapesos não deve ser feito por uma só pessoa, mas por todos aqueles que votam. Se "formular um voto" se situa no plano do desejo, "dar um voto" situa-se no plano da fiança ou da confiança.Se nos centrarmos no terreno macro (isto é, no político), vale a pena recordar o neologismo introduzido pelo ex-líder do partido que suporta o actual Governo, o qual, referindo-se à Oposição de então, criou uma forma verbal muito imaginativa: "Eles promentem... - dizia." Mas note que "eles" são sempre os outros...Como tenho lembrado em várias obras, nós temos em português trinta verbos para mentir (mentir, enganar, fintar, fingir, simular...) e nenhum para dizer a verdade. Por mim, estou esclarecido quanto a esta matéria, pois conheço bem os horizontes e os limites da retórica.E.: Mas considera que a palavra ainda tem força numa sociedade cada vez menos interessada em discursos políticos e cada vez mais materialista?AG: Tenho lembrado, frequentemente, que "quem tem o poder da palavra tem, se quiser, uma palavra no poder". O inverso nem sempre é verdadeiro. Basta-nos ouvir algumas figuras públicas...As palavras são um mistério e uma arma de dois gumes. Se são a nossa defesa, elas podem ser a nossa perdição. Com palavras criamos o (nosso) mundo e com palavras o desfazemos. Com palavras salvamos e com palavras assassinamos. Espécie de napalm, pois (nos) marcam para toda a vida, elas são, também, um talismã resguardado em invólucros ou em casulos que contêm os segredos do mundo.Se são tesouros partilhados, elas são, paradoxalmente, um bem intransmissível, pois, ao agregarem dimensões sensoriais, emocionais e racionais, tecem para nós atmosferas pessoais que não conseguimos partilhar com ninguém. Por isso a comunicação é tão difícil.

Marta Rangel 2006-11-22

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