terça-feira, dezembro 05, 2006

Um governante sem emoção é um carrasco!
Aurora Vieira*
O Orçamento para 2007 foi aprovado, é um orçamento “sem alma”, os portugueses vão ficar mais pobres, vão perder direitos adquiridos, segurança mas sobretudo perdem esperança.Governar assim não será difícil, gerir Portugal como um livro de mercearia onde apenas se releva o “deve” e o “haver” qualquer um é capaz de fazer. Não se põem em causa as dificuldades económicas, a falta de dinheiro, na casa de qualquer um de nós também quando o dinheiro não abunda há que fazer cortes e opções. Mas, o importante é dialogar com as pessoas, falar verdade, explicar o sentido dos cortes e planear as opções de melhoria. A máquina da propaganda que este Governo tão bem governa e controla terá o seu auge mas cairá como qualquer máscara.Não chega o show, de lançar cortinas de fumo, como no circo, agitando a bandeira dos privilégios de uns tantos para convencer os que sentem que possuem menos. Tanta propaganda visa sobretudo manipular os portugueses, como dizer que vão ser retirados privilégios aos bancos apenas visava encenar desde logo o congresso do PS. Mas, não chega para ofuscar a falta de alma, de sentido social deste orçamento, é preciso mais, muito mais.Os fins não justificam quaisquer meios, de nada adianta o tratamento se o efeito produzido mata o doente, ou se calhar adianta é menos um, na saúde, na segurança social, na escola...e sempre se poupa uns cobres!Como me lembra ver tantos membros deste governo a começar pelo Sr Primeiro Ministro, Ministro da Segurança Social, dos Assuntos Parlamentares a aplaudir o Dr Jorge Sampaio quando como Presidente da República afirmou, num célebre discurso na Assembleia da República, que “ há mais vida para além do déficit” . Está demonstrado que naquela altura era verdade, houve mais vida para além do déficit ainda aqui estamos todos para testemunhar o quanto pior é possível fazer, a questão é saber se haverá mais vida para além das decisões cegas e autistas deste governo, se viver sem confiança, sem esperança, sem acreditar é ainda assim viver?!O “engraçado” é ver que o coros de vozes e peritos que então se levantava agora ou perdeu o pio ou então sussurram concordância, aplaudindo as drásticas mudanças só possíveis de efectuar por um governo à esquerda,“socialista”, e aguardam a sua vez!Estamos perante o que de pior se pode esperar da política um puro tacticismo, num centrão de ora agora tu, ora agora eu, onde se mente para ganhar eleições, onde cada vez menos votam para eleger mais do mesmo, e onde os eleitos representam cada vez menos população. Governar com maioria não deveria ser sinónimo de valer tudo, deveria implicar respeito pelas pessoas e sentido de responsabilidade pelo mandato conferido. O problema não está em ter menos 3 ou mais 7 Deputados na Assembleia da República, qualquer estudo encomendado pelo governo ou novo sistema de ar condicionado ou de votação na AR pagaria o diferencial, o que está em causa é a representatividade e a verdade das políticas.Não basta parecer sério aparentando um ar duro e inflexível, a exemplo do1º Ministro tão bem copiado pelo séquito ministerial com expressão máxima na Srª Ministra da Educação, para o ser (já dizia o povo que há mulher de César não bastava!). Não é por acaso que a candidata socialista à presidência francesa propõe que seja constituído uma espécie de tribunal não para julgar as pessoas mas para avaliar as políticas, o comprimento das promessas e a acção dos políticos.Quando os tribunais não funcionam é o próprio País que não funciona e é a Democracia que fica em risco. Uma justiça que não é célere não é justa, penaliza os cumpridores, compensa o incumprimento, facilita a corrupção e a calúnia. A quem interessa este estado de coisas?Foi aprovado o ECD só pelo governo, de que é aliás a “cara”. Afirma que aos professores é devido respeito, mas desrespeitos por palavras e acções, afirma que serve para valorizar a competência e a avaliação, mas ao criar cotas faz que alguns bons tenham que ser designados de maus e mesmos os excelentes tenham a mesma compensação que os regulares, permanecer indefinidamente e por mais anos na mesma carreira. Ou seja, diz que é para a melhoria da escola mas mais não, é como toda a acção de governo, um garrote de controlo administrativo e financeiro. Serve para melhorar a escola na medida que propõem o abate da condição de professor! È um instrumento cego de estrangulamento controlado por quem afirma que se não existisse o actual ainda era pior. Disso não temos dúvidas Srª Ministra, aliás o problema dos Ministros da Educação é existirem escolas, como de Portugal é ter portugueses, caso contrário era fácil governar e fazer a política em que cada um colocaria a sua lápide! Onde estão os defensores de políticas educativas consensuais e com base em amplos acordos da sociedade? Onde estão os constitucionalistas da nossa praça que a qualquer alteração das condições contratuais para a função pública para quem estava no sistema clamavam inconstitucionalidade?Onde está a oposição? Onde está o Sr Presidente da República?Não sei se é legal ou constitucional alterar unilateralmente as condições contratuais ao fim de 10, 20, 30 anos de trabalho, (se fosse um privado não era!), mas que não é correcto nem justo fazê-lo isso não é.Não vale a pena enganar-nos com choques tecnológicos porque choques temos todos os dias e mais sentiremos a partir de Janeiro, na carteira, na Vida e na (des)esperança. Governar sem emoção e sem alma é executar e quem executa assim só pode ser carrasco!*Professora

Sem comentários: