segunda-feira, novembro 13, 2006

O sindicalismo pitecantrópico
As relações entre os responsáveis políticos pelo Ministério da Educação e os sindicatos de professores têm sido, nos últimos meses, conflituosas. É compreensível: estão a ser desencadeadas muitas mudanças ao mesmo tempo, a maior parte delas positivas mas com restrições de privilégios e de regalias dos professores.As razões do protesto dos sindicatos estão pois identificadas e relacionam-se com a perda destes privilégios e regalias. No caso do aumento do número de horas de permanência na escola, os professores não têm qualquer razão: estavam mal habituados face às obrigações profissionais dos seus congéneres espanhóis, franceses, alemães e outros. No caso das aulas de substituição, os professores têm apenas uma razão processual: um professor de Matemática substituir outro de Educação Física não parece bem e pode contribuir para o aviltamento da escola e para a sua transformação num local de entretenimento e de diversão. Mas o princípio da substituição por um professor de área afim é intocável e os sindicatos confundem o essencial com o acessório. Em vez de proporem uma bolsa de professores por Concelho, os sindicatos barafustam para se justificarem a si próprios.No caso da limitação do número daqueles que poderão aceder ao 8º escalão, os professores também só têm uma razão processual: vêem gorada uma expectativa de progressão ao 10º escalão mas, se não compreendem que Portugal é o país que mais gasta com salários de professores relativamente ao PIB (3,2% contra 1,8% da média UE15) e que o Estado não tem capacidade para manter esta despesa, uma vez que temos 160.000 professores, então não têm a competência da cidadania necessária ao exercício da profissão docente. Por muito que nos custe, talvez valha mais termos um vencimento menor do que não podermos ter nenhum vencimento.Finalmente, o caso da avaliação de desempenho é o caso em que os sindicatos mais desajustados se revelaram de um sindicalismo moderno e profissional, militando as suas acções contra os próprios professores. Quem tem medo da avaliação? Por certo os maus professores. E quem são os dirigentes sindicais dos professores, praticamente os mesmos desde há 25-30 anos? Aqueles que nem sequer tiveram a coragem de serem professores, renunciando à sua profissão. Porém, se renunciaram à sua profissão, não renunciaram ao seu poder corporativo e burocrático, necessitando de uma guerrinha com os responsáveis políticos do Ministério da Educação para afirmarem o seu pretenso poder. Os professores que se desiludam: a luta que travam não é para sua defesa mas para a justificação da existência das estruturas sindicais e do seu sindicalismo pitecantrópico.A luta dos professores, neste momento da democracia portuguesa, só pode afirmar-se por mais dedicação à escola, mais exigência no desempenho profissional, melhoria do estatuto dos melhores professores e reciclagem dos maus professores. Se os professores não compreendem isto, então também não terão a competência da cidadania necessária ao exercício da profissão docente. E, então, deverão retirar-se.O tempo da vilanagem e da falta de critérios cívicos e técnicos para o recrutamento de pessoas paras as funções de interesse público deve ser considerado extinto. Tal como Ramalho Eanes proclama na sua tese de doutoramento, é tempo de o Estado Forte e Meritocrático regressar, salvaguardando os valores e práticas essenciais da democracia responsável e cidadã. Isto se queremos salvar Portugal da mediocridade e da vilania a que, em muitos aspectos, tem estado sujeito.

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