quinta-feira, outubro 11, 2007

NA PRIMEIRA LINHA

Dos tempos do fascismo, das suas perseguições e assassinatos, do obscurantismo e da censura, da hipocrisia, do engordar dos ricos e da miséria do povo, das manobras intimidatórias sobre os trabalhadores, dos monopólios e dos latifúndios, da subserviência ao imperialismo e das guerras levadas a cabo nas então colónias, dos guerrilheiros torturados e assassinados, dos soldados mortos, de todo o rol de horrores que se prolongou por quase meio século, de tudo isso são os comunistas a possuir a memória mais viva. Não só porque foram os mais ferozmente perseguidos, torturados e assassinados. Mas também porque foram, lutando, os que representaram, no plano político, as aspirações da grande maioria dos portugueses, os que estiveram à frente da batalha que um dia de Abril, há trinta e três anos, derrubou um regime odiado, e se bateram consequentemente pela revolução democrática.Por tudo isso e porque a memória nos não engana, consideramos que não teria sentido nem rigor chamar fascista a Sócrates e fascismo ao regime democrático que ele e os seus aliados objectivos, os seus patrões e os seus serventuários, pretendem desfigurar, para não chamar outra coisa aos ataques contra a democracia que o Governo do PS desfere.O facto de se somarem – agora vertiginosamente – os ataques contra liberdades e direitos, contra trabalhadores e populações, entregando a um punhado de capitalistas o que é do Estado e, consequentemente, o que é de todos (se quisermos ler bem a Constituição da República), não chega para classificarmos de fascistas os detentores de um poder, mesmo que seja usado à revelia dos compromissos assumidos com o povo.Entretanto, e porque a luta de classes se agudiza e se revelou desde o início difícil, e hoje se mostra cada vez mais difícil ao Governo prosseguir na senda dos malefícios sem que defronte o protesto dos trabalhadores e do povo, o Governo PS e o seu chefe vêm mostrando sinais carregados de impaciência. Sócrates vem perdendo a face democrática para enveredar por uma despudorada intolerância antidemocrática e mostrar abertamente o seu carácter anticomunista.Os acontecimentos dos últimos dias são, quanto a isso, paradigmáticos. O chefe do Governo, que prossegue com denodo e demagogia as suas operações de propaganda, foi a Montemor-o-Velho e irritou-se com o protesto que o esperava. Os trabalhadores que o aguardavam viram-se cercados e isolados por elementos das forças de segurança, decerto com ordens superiores, de um grupo de gente que aplaudia o primeiro-ministro e foi-lhes roubado um cartaz em que exprimiam democraticamente o seu protesto.Mas, para Sócrates, o protesto democrático é intolerável e as coisas só funcionam quando uma empresa de casting lhe assegura grupos de crianças cujos pais acedem, por dinheiro, a fornecerem o ambiente venerador e obrigado de «portugueses agradecidos».Para Sócrates, democrático é o aplauso, ilegítimos são os protestos. Quem não está com ele, contra ele está. Por isso apelida de insultos os protestos. E o chefe do Governo não se detém sobre quem pretende atingir. Ao ser perguntado sobre o que teria a dizer acerca das posições dos professores que em massa contestam a sua política, tentou separar os profissionais do ensino das suas organizações representativas. E, em farronca, «desafia» os comunistas, a quem acusa de estarem por «detrás» dos activistas sindicais, de serem os organizadores e mobilizadores destas «manifestaçõezinhas», a «marcar» mais uma para a Covilhã...Fraca manobra apelidar de «manifestaçõezinhas» os sinais de um protesto que alastra a todo o País. Reveladora, porém, do nervosismo que se apodera de Sócrates e da sua falta de visão e de prática democráticas.O desafio foi acompanhado, porém, por mais uma iniciativa que, desta vez, assumiu os aspectos sombrios de um grave atentado aos direitos democráticos. Pela primeira vez depois do 25 de Abril, a polícia à paisana entra num sindicato e, sem mandado judicial que a acompanhe, leva consigo documentos de informação, numa operação que o Sindicato dos Professores da Região Centro apelida de «clara violação dos direitos, liberdades e garantias e das instituições democráticas».Se o primeiro-ministro pretendeu intimidar os trabalhadores e as populações, apelando ao anticomunismo que a ideologia dominante pretende implantar na consciência de toda a sociedade, é intenção votada ao fracasso.Comentando os disparates e a arrogância de Sócrates, Jerónimo de Sousa, que lhe denunciou a confusão entre «o direito de manifestação e o insulto», e lembrando a amplidão dos protestos em todo o País, assinalou que, se tais protestos viessem todos de comunistas, seria sinal de que o PCP teria a maioria absoluta nas próximas eleições.«Pode o primeiro-ministro fazer as acusações que quiser», disse o Secretário-geral do PCP no convívio com centenas de pessoas no Entroncamento. «Nós estaremos lá, na primeira linha de combate.»Trata-se, efectivamente de uma muito extensa linha de combate, em que os comunistas não estão sós. Como será inequivocamente demonstrado já no próximo dia 18 de Outubro na grande jornada convocada e organizada pela CGTP-IN. Porque procuram dar corpo e resposta política às aspirações das mais amplas massas de trabalhadores e das populações. Em defesa do Serviço Nacional de Saúde e da escola pública. Do emprego com direitos e contra o desemprego e a precariedade. Em defesa dos pequenos agricultores e dos pequenos empresários. De todos os que aspiram a uma maior justiça social e que pretendem que as liberdades democráticas sejam respeitadas. Por isso mesmo, cada vez mais gente se reconhece nos valores do PCP, lhe reconhece o papel que politicamente lhe cabe na democracia portuguesa em prol de um Portugal com futuro. Por isso mesmo, o Partido continua a reforçar-se, como neste fim-de-semana mais uma vez foi demonstrado com mais uma inauguração de um Centro de Trabalho em Tomar, que se segue à abertura do CT de Albufeira, na semana passada.Um Partido que não se limita ao protesto por mais amplo que seja. E que avança com propostas nas instituições em que participa, como as que fará na Assembleia da República, saídas das jornadas parlamentares que noticiamos. E também com aquelas que, em Novembro, fruto do labor intenso dos comunistas e dos seus amigos, sairão da próxima Conferência Nacional sobre questões económicas e sociais que todo o Partido debate. http://www.avante.pt

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