sábado, outubro 13, 2007

Algo está podre na República portuguesa"

Oposição em peso acusa Governo de "intimidação"
A visita de dois polícias à sede de um sindicato, na Covilhã, nas vésperas de uma manifestação contra o primeiro-ministro, dominou ontem a sessão parlamentar, com a oposição em peso a acusar o Governo de limitar as liberdades e de promover um clima intimidatório no País. O histórico socialista Manuel Alegre não foi tão longe, mas deixou uma mensagem clara: "Espero que fique esclarecido e que não volte a repetir-se. Assim o exige a própria história do PS." As críticas mais violentas ao episódio passado na Covilhã vieram da bancada do PSD. "Desde 2005, desde que fez o restyling José Sócrates, o PS não pode dar cartas em matéria de liberdades. Nesta matéria, o PS envelheceu e reformou-se definitivamente", acusou Paulo Rangel. Antes, o mesmo deputado tinha já carregado no tom. "Algo está podre na República portuguesa" quando agentes da polícia visitam um sindicato para recolher "elemento probatórios" sobre uma manifestação, acusou. Para acrescentar que esta atitude configura mais um degrau - "um perigoso degrau" - no "clima de atrofia da liberdade cívica". Para o PSD, "a longa série de casos até agora conhecida situava-se no plano da reacção" (uma referência a casos como o do professor Charrua ou a identificação de manifestantes em Guimarães). Agora "deu-se um passo de gigante" - "a prevenção de comportamentos indesejados é já da ordem da censura a priori".Também numa intervenção política, o BE alinhou pela mesma ideia. "O País descobre com estupefacção uma nova medida de segurança - 'visitas policiais preventivas' às iniciativas de protesto social", apontou Ana Drago. Que responsabilizou directamente José Sócrates: "Foi o primeiro-ministro que deu e tem dado o mote, quando classifica a luta política e o protesto como insultos." António Filipe, do PCP, chamou-lhe a "recente teoria do insulto. O primeiro- -ministro considera que todas as críticas feitas à sua governação são insultos pessoais". "Isto é uma concepção à Luís XIV, para quem o Estado era ele", acrescentou. Pelo CDS, Diogo Feio questionou as prioridades policiais - "Numa altura em que o País vive uma onda de assaltos, a grande preocupação das forças policiais é saber o que se vai passar numa manifestação contra o Governo?"Aplauso geral a AlegreAo longo de cerca de hora e meia de debate, a bancada do PS, pela voz do vice-presidente Ricardo Rodrigues, insistiu que é preciso esperar pelo resultado do processo de averiguações ordenado pelo ministro da Administração Interna, para saber o que se passou. E sublinhou também que Rui Pereira estará terça-feira no Parlamento para esclarecer este caso. Mais contundente foi Manuel Alegre. Logo no início do debate, o deputado pediu a palavra para distinguir o que serão as conclusões do inquérito da necessária "pedagogia democrática" sobre este caso. "A liberdade sindical é inseparável da liberdade política", afirmou o histórico socialista, numa intervenção aplaudida pelo PS, PSD e BE. E que veio a ser citada várias vezes pela oposição, para apontar Alegre como a única voz socialista que condenou expressamente o episódio na Covilhã.
SUSETE FRANCISCO

Sem comentários: