sexta-feira, novembro 09, 2007

Dezenas de alunos em risco de perder apoio

Teresa CardosoTem nove anos. Frequenta o 4.º ano do 1.º ciclo do ensino básico na escola de Rio de Moinhos (Sátão). A deficiência que a acompanha desde a nascença, espinha bífida, nunca pôs em causa o bom aproveitamento escolar. Mas pode impedi--la de continuar os estudos, se, até segunda-feira, o Ministério da Educação (ME) não reforçar as horas de trabalho da tarefeira, a própria mãe, que a ajuda a mover-se e a ultrapassar os constrangimentos de uma incontinência severa. É que, ontem, uma fonte do ministério acendeu uma pequena luz ao fundo do túnel, garantindo que, a confirmarem-se os problemas de falta de pessoal, "eles serão resolvidos". Mas na mesma situação de Ana Inês de Jesus estão, apenas no agrupamento de escolas de Sátão, mais quatro crianças em risco de exclusão por falta de acompanhamento educativo especial. Apenas uma pessoa, mesmo sem formação, que as ajude a andar, comer, ir à casa de banho ou assistir no recreio, passivamente, às brincadeiras dos colegas ditos normais.O primeiro alerta para o corte de horas às tarefeiras que ajudam os alunos com deficiência a continuar nas escolas, foi dado, na última semana, pela associação de pais do agrupamento de escolas Infante D. Henrique, em Viseu. A directora regional de Educação do Centro, Engrácia Castro, desdobrou--se em contactos, e impediu, com a garantia de uma solução, o protesto de pais e encarregados de educação agendado para a próxima semana.Nos últimos dias, um levantamento "não exaustivo" do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) revelou, contudo, que há pelo menos dez agrupamentos e uma escola da região com problemas idênticos (ver infografia). "É escandaloso", protesta o sindicalista Manuel Rodrigues, que acusa o Governo de pôr à frente das pessoas "a obsessão do défice orçamental".O Conselho Executivo da Escola Básica 2/3 de Sátão confirmou, ontem, ao JN, que as horas atribuídas pela DREC às tarefeiras contratadas para limpeza ou acompanhamento de crianças deficientes acabaram. "Já atingimos a ruptura. A partir de segunda-feira, se a situação não for alterada, poderá gerar-se o caos a esse nível", confessou, preocupado, Eduardo Ferreira, presidente do Conselho Executivo.Aquele responsável admite que meia dúzia de escolas do 1.º ciclo de Sátão correm o risco de fechar, obrigando os alunos com deficiência a ficar em casa. "Na nossa escola, a única solução é encerrar serviços, como a cantina ou a reprografia, entre outros, para permitir que os auxiliares educativos garantam as tarefas mínimas ", acrescentou Ângela Bártolo, outra dirigente da EB 2/3 de Sátão. "O ministério está no terreno, em contacto estreito com os conselhos executivos, para ver se há ou não problemas. Se os houver, serão resolvidos, como tem sido prática normal", disse a fonte do ME. Aliás, frisou, "Há muitos outros, um pouco por todo o país, que têm sido resolvidos". Mas os pais e encarregados de educação do agrupamento de Sátão não acreditam e estão a preparar uma posição conjunta.

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