terça-feira, janeiro 20, 2009

"Estudar?", e logo ecoaram gargalhadas

Alunos costumam aproveitar "feriado" destas greves para a diversão. Os pais tentam resolver a sua vida
00h30m
GINA PEREIRA, JOÃO PAULO COSTA, PEDRO, ANTUNES PEREIRA e TIAGO RORDRIGUES ALVES
As greves de professores parecem todas iguais, inclusive na guerra de números entre sindicatos e Ministério. Alguns alunos aproveitam para a diversão, há docentes que hesitam entre a adesão ou a rejeição da causa e os pais tentar resolver a sua vida.
Na manhã fria e chuvosa de ontem, a estação de metro servia de abrigo e ponto de encontro para os muitos alunos sem aulas das escolas secundárias Carolina Michaëlis e Rodrigues de Freitas. Na primeira, as estimativas matinais apontavam para uma adesão acima dos 90%, mas abaixo da greve de 3 de Dezembro. Na segunda, muitos professores também optaram por não dar aulas, mas também menos do que no ano passado. De volta à estação, um jovem dedilhava uns acordes numa viola à medida que as composições passavam e os restantes decidiam a melhor forma de aproveitar o inesperado "feriado". Comer, ver um filme, jogar consola, ir às compras ou passear no centro comercial eram as sugestões mais frequentes. Alguém disse "estudar" e logo as gargalhadas ecoaram pela estação. Ontem, queria-se era distância dos livros.
O toque de entrada para a primeira aula já soou, mas os alunos permanecem à porta da Escola Básica 2.º e 3.º ciclo Sophia de Mello Breyner Andersen, na Amadora, à espera de saber se a escola vai abrir. A confirmação do que já todos adivinhavam, chega pelas 8.30 horas, através de um cartaz colocado nos portões: "A escola encontra-se encerrada por motivos de greve de pessoal docente". Os alunos rejubilam, os poucos pais que ali se mantêem não se surpreendem. Apenas lamentam que "as crianças tenham de sofrer ao frio e à chuva" para saberem que, afinal, vão ter de voltar para casa.
Na vizinha EB1/Jardim de Infância Sacadura Cabral, é preciso esperar até às 9 horas para saber o que é que vai acontecer. Susana Melo, mãe de um aluno do 1.º ano, já está preparada para ter de levar o filho para o emprego. Amélia Marques, com um filho no 3º ano, vai poder ficar com ele em casa porque está de férias, caso contrário teria de pedir apoio à família.
À entrada para a Secundária Fernando Namora, onde os portões se mantêm abertos, uma professora de Biologia admite que ainda não decidiu se vai fazer greve. São razões "puramente económicas" que a levam a admitir não aderir desta vez ao protesto.
Ainda não eram 9.30 horas e já meia dúzia de jovens estavam à porta da "Net7", uma loja de informática com jogos, localizada junto à Sé de Aveiro, a poucas centenas de metros de três escolas secundárias. Mal os viu, o funcionário da loja, Pedro Santos, percebeu que era dia de greve dos professores.
"É sempre assim, quando os professores fazem greve, temos muito jovens do preparatório e secundário aqui, a clientela chega a triplicar, ocupando todos os computadores destinados a jogos ", conta Pedro Santos.
"Nestes dias, somos nós que tomamos conta das crianças", graceja o funcionário, habituado a ver muitos pais a irem buscar os filhos ao final da manhã ou da tarde ao "Net7". A ocupação dos tempos livres sempre sai mais barata que um ATL. Um euro dá para 30 minutos de jogo.
A greve ajuda o pequeno comércio mas fica cara aos encarregados de educação. Tiago Santos, 13 anos, aluno do 8.º ano da Escola Secundária de Esgueira, é um dos alinhados em frente ao computador da "Net7". Se tivesse tido aulas, teria almoçado na escola, e receberia dois euros, o suficiente para se alimentar até regressar a casa. Ontem, a "diária" quase triplicou. "Os meus pais deram-me cinco euros, que dá para estar aqui a jogar e almoçar no Forum", o centro comercial que funciona como principal "sala de feriado".
Nos concelhos de Vila Verde, Amares. Terras de Bouro, Povoa de Lanhoso e Barcelos nenhuma escola abriu as portas. Já em Braga e Guimarães houve alguns professores que estiveram nas escolas, mas depois decidiram não dar aulas. Os alunos invadiram os cafés junto aos recintos escolares e passarem o tempo a jogar matraquilhos, a tocar algum instrumento ou mesmo a namorar. Muitos pais tiveram também que ir às escolas para autorizarem os filhos a sair dos estabelecimentos de ensino, condição imposta por alguns conselhos executivos para os alunos abandonarem as respectivas escolas.

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