segunda-feira, novembro 03, 2008

Avaliação dos professores a andar parada

17:34 | Quarta-feira, 29 de Out de 2008



O Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP) está parado. Desde Julho que não reúne. Não vejo por que haveria de andar. Mesmo que o fizesse, sabemos que qualquer reunião é sempre estática. Ou, pelo menos, extática. O tipo de reunião muito contemplativo, que faz com que o CCAP não morra do síndrome de hiperactividade. A CCAP não existe. Ou anda em comunhão com o Além. "Científico" só se estiver, dada a discrição, dedicado às ciências ocultas.

A presidente, Conceição Castro Ramos, aposentou-se cinco meses depois da posse. Não teve tempo para dizer: posse e mando. Não foi substituída. É insubstituível. Outro membro, Matias Alves, abandonou por deixar de ser "titular". Sabemos a dificuldade em manter títulos. Disse que o Conselho corria o risco de se tornar um órgão "inútil". Há docentes à cata da sua utilidade.

Sem pressa de reunir o CCAP (e alguns dos seus grupos de trabalho apenas em sessões esotéricas), este fogoso conselho consultivo criado pelo Ministério da Educação, para supervisionar o processo de avaliação do desempenho dos professores, poderá estar a sofrer de depressão pós-parto. Até a sua página na Internet, http://www.ccap.min-edu.pt/ , desovada a 2 de Abril do corrente ano, foi actualizada pela última vez (e primeira?) a 24 de Julho!

Ainda assim, o Conselho Científico para a Avaliação de Professores quer organizar uma rede de escolas e agrupamentos para desenvolver projectos de colaboração em matéria de avaliação do desempenho docente. Os seus grandes objectivos estão a ser cumpridos com sonolentos abanos de cabeça. São maravilhosos. Vale a pena transcrevê-los: "promover a interacção entre a teoria e a prática da avaliação do desempenho docente; proporcionar oportunidades para conhecer de perto potencialidades e dificuldades existentes na concretização do sistema de avaliação; estimular o diálogo, o debate e a troca de experiências entre as escolas associadas e entre estas e o Conselho; contribuir para a identificação de dispositivos, instrumentos e procedimentos que possam ser caracterizados como exemplos de boas práticas; desenvolver reflexões sobre aspectos específicos da problemática da avaliação do desempenho docente centrados na realidade das escolas e na prática dos avaliadores; incentivar o desenvolvimento de colaborações entre escolas e agrupamentos e instituições de ensino superior; facilitar a participação das escolas associadas em programas de intercâmbio com escolas de outros países europeus com experiências relevantes nesta área". Uff!

De boas intenções está a 5 de Outubro grávida. De más intenções estão as escolas que rejeitam o modelo de avaliação, dada a extrema dificuldade em concretizá-lo e a colossal carga burocrática exigida. Falava-se, e bem mal, da burocracia dos tempos da outra senhora. E a dos desta senhora?

Com o CCAP contemplativo, ou em coma acólito, os professores andam esfalfados a produzir toneladas de papel, impresso a jacto de tinta, para arquivo morto. Ou para trituradoras que engolem folhas A4 como sorvetes de morango. Não lhes sobra, aos professores, tempo para preparar aulas, nem para desenvolver "boas práticas" com os alunos. Mas disto o sistema educativo de excelência que perseguimos precisa?

José Alberto Quaresma

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