segunda-feira, novembro 03, 2008

Opinião

Sócrates quer avaliar professores e professoras a qualquer preço. E quer chegar às eleições sem este trunfo. Precisa dele como prova da domesticação da maior manifestação profissional de sempre, e precisa dele para ser "moderno". Mas precisa ainda deste trunfo porque, deixando em banho-maria a verdadeira prioridade, as políticas de fundo para o combate ao insucesso, tenta lá chegar a baixo custo, penalizando professores e professoras pelos resultados escolares.

Este modelo de avaliação de professores é dos mais baratos e lucrativos que se conhece. Entope a progressão na carreira, põe pares desqualificados a fazer o trabalhinho sujo e pressiona para um sucesso escolar administrativo. Em nome da prestação de contas dos serviços públicos e sob a batuta da "competitividade ou morte", esta avaliação é um poderoso mecanismo de controlo e disciplina das instituições. E deixem-se de tretas: está demonstrado que não serve uma avaliação séria do desempenho das instituições e dos seus profissionais. O pandemónio é o dia-a-dia das escolas.

Os professores e as professoras que saíram à rua a 8 de Março sabem tudo isto. Sindicatos, movimentos, formadores de opinião, também. O que se joga no pedido de suspensão da avaliação é nem menos nem mais que o futuro da escola pública. É a recusa da asfixia das escolas, das ditaduras em pirâmide, é a dignidade do tempo e do trabalho para educar com qualidade. Todas boas razões para o protesto a uma só voz.

Agora, ou professores e professoras têm duas alternativas: ou mostram unidade e assumem a sua responsabilidade como rosto da escola pública, ou dão a Sócrates um prémio sem retorno. E não há que enganar: o alvo é o Ministério da Educação. Esta certeza tem levado muitos professores e movimentos a lançar o apelo: uma única manifestação.

É necessário que sindicatos e movimentos acertem no que realmente interessa: uma única manifestação, sem donos, onde todos os parceiros de luta tenham direito à palavra, com sindicatos, movimentos, com quem sabe que é a escola pública que está em causa.

Cecília Honório

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